As comunidades que integram o Complexo do Nordeste de Amaralina - Santa Cruz, Nordeste, Chapada e Vale das Pedrinhas, que compreende uma área de 9,5Km2 e cerca de 95 mil habitantes - reclamou hoje da truculência e desrespeito com que o bairro, de maioria negra e pobre, é tratada pelos Poderes Públicos, sobretudo os organismos da Segurança Pública, durante audiência da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembléia Legislativa, presidida pelo depitado João Carlos Bacelar (PTN).
Apesar dos índices de violência -sobretudo homicípios - estarem decaindo, segundo dados apresentados pela titular da 28ª DP, Jussara Souza, a grande preocupação da área é com os crescimento do tráfico de drogas, externado pelo Major PM Gildemar Gualberto, comandante da 40ª CIA BPM.
"Os índices gerais da violência estão caindo. Hoje, os homicídios diminuíram bastante e quando ocorrem estão ligados à disputa pelo poder no tráfico, o mesmo ocorrendo com os roubos e furtos. Felizmente ainda não convivemos com o tráfico pesado como nas favelas cariocas, mas percebemos que a comunidade ainda é refém da criminalidade. Mas a Polícia Militar está presente em todos os locais, enfrentando esse problema", afirmou.
O militar lamentou que muitos jovens estejam enveredando para o tráfico e cobrou uma presença maior da família junto aos seus filhos. "Os pais tem que estar presentes, acompanhando o crescimento dos filhos, vendo com quem andam, obrigando-os a freqüentarem a escola. Não adianta chamar a PM, como ocorre com muitas famílias que nos procuram, dizendo que o filho é um ‘caso perdido'. A família tem responsabilidade e tem que participar", enfatizou. Aliado a ausência da família, o major cobrou maior participação da sociedade, denunciando os criminosos. "A comunidade silencia por medo", afirmou.
NOVA DE
Para a delegada Jussara Souza, é fundamental a criação de uma nova delegacia para atender o Complexo do Nordeste, dado o crescente número de habitantes. "As demandas são muitas e não necessitamos de um apoio maior. O ideal seria a criação de mais uma delegacia para atender ao bairro", defendeu.
Além do deputado João Carlos Bacelar, participaram da audiência o presidente da subcomissão de Segurança Pública, deputado Tadeu Fernandes (PSB); a secretária estadual da Promoção da Igualdade, Luiza Bairros; o comandante geral da Polícia Militar, coronel Nilton Mascarenhas, o Coordenador do Departamento de Polícia Metropolitana, delegado Ruy da Paz; o secretário municipal da Reparação, Ailton dos Santos Ferreira; o vereador Carlos Muniz (PTN), além de representantes de ONGs como Centro de Defesa da Crianças e do Adolescente (Cedeca); Instituto Entre Aspas; do Programa Esporte e Lazer de Todos Nós e diversas lideranças comunitárias.
Todos ressaltaram a importância da audiência em dar oportunidade à comunidade em debater uma questão fundamental para o bairro como a Segurança Pública. O Complexo do Nordeste quer reverter o estigma de ser uma das comunidades mais violentas de Salvador e esta mudança passa por maior atenção dos poderes públicos à comunidade. Para a secretária Luíza Bairros, esta é uma iniciativa oportuna da Assembléia Legislativa, pois dá voz àqueles que usam os serviços públicos.
"Percebemos que as queixas principais são estruturais da Segurança Pública e esta é uma situação que a Secretaria de Igualdade Racial vem discutindo no Conselho de Segurança Pública da qual faz parte", enfatizou. A truculência na abordagem policial foi uma das maiores queixas da comunidade, por exemplo.
Todos os líderes comunitários presentes, mais de 70, tiveram chance de se expressar na audiência pública que durou cerca de 4h30. Foram debatidos desde questões pontuais até problemas gerais como a falta de infra-estrutura da Polícia para fazer frente ao tráfico de drogas. "Essa é a função das audiências públicas da Comissão: trazer o debate para a comunidade e tirar dela mesma a solução para os seus problemas.
Venho insistindo que a solução para alguns problemas, às vezes, está na poda de uma árvore ou na iluminação de uma rua, até a requisição de mais viaturas, homens e armamentos. Das reuniões, extraímos um relatório que é encaminhado ao governador do Estado, aos secretários de Segurança Pública e de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, ao Tribunal de Justiça da Bahia, ao Ministério Público, à Prefeitura de Salvador atendendo àquelas solicitações das comunidades. Segurança é uma responsabilidade do Estado, mas é também de todo cidadão. Se cada um cuidar de sua casa, de seus filhos, de sua rua, teremos uma situação cada vez melhor", enfatizou Bacelar.
A próxima audiência pública deve ocorrer na cidade de Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia depois da capital, atendendo a uma solicitação do deputado Eliedson Ferreira (DEM).