Sérgio Amado, Sydiney Rezende e Claudio Barreto o trio da D&E; e mais Geraldo Walter; eu (TF), Rêmulo Pastores e Jadson Oliveira Iimprensa), Xando Pereira e Manu Dias (foto)
Tasso Franco , Salvador |
05/10/2025 às 11:13
Era frequente os encontros de Waldir com os jornalistas baianos
Foto: REP
A morte do publicitário Sérgio Amado, 77 anos de idade, nos pegou de surpreso. Digo assim, a nós, porque Sérgio foi nosso colega no início da jornada da Tribuna da Bahia, no final dos anos 1960 e iniciais 1970, e depois voltei a encontrá-lo e trabalharmos juntos na campanha de Waldir Pires (PMDB), a governador da Bahia, em 1985/1986, ele como diretor da Agência de ´Publicidade D&E juntamente com Sydiney Rezende e Claudio Barreto e eu como jornalista que iria cuidar da imprensa.
Sérgio a essa altura já era publicitário de renome e eu tinha algum prestígio como jornalista, pois, foi escolhido para essa missão sem ter intimidade com Waldir Pires personalidade que acompanhava a sua trajetória política desde a eleição de 1962 quando perdeu para Lomanto Jr, e seu exílio na Europa (França) após o golpe militar de 1964.
Waldir, no entanto, retornou ao Brasil no embalo do Movimento Diretas Já, engajou-se na campanha da Tancredo Neves e foi nomeado ministro da Previdência. Tancredo morreu antes de assumir, porém, José Sarney manteve seu nome no Ministério.
Eu já tinha alguma experiência no jornalismo, a essa altura com 15 anos de sola dos sapatos nas ruas e salões engravatados, e fui convidado por Cláudio Barreto e Geraldo Walter (Geraldão) para contribuir com o desejo de Waldir em seu governador.
Foi nesse momento que, Sérgio Amado, sendo diretor da D&E, empresa que gerenciava a conta publicitária Previdência/Waldir, organizou juntamente com Cláudio, Geraldão e Rezende uma estratégia para alavancar o nome de Waldir como candidato a governador, em 1986.
Havia, no ar, um desejo de mudança. O governador era João Durval, mas, o alvo da disputa era ACM, poderoso político no Estado e que elegera Durval e mandava em boa parte do seu governo. Em 1985, eu já integrando essa estratégia bolou-se uma campanha publicitária - com base em informações dadas por Waldir - de que ele tinha zerado o deficit da Previdência. O tempo que ele estava na Previdência era pouco para tal feito, mas, seguiu-se o que ele garantia.
Eu e Claudio Barreto íamos (ainda no segundo semestre de 1985) a Brasília conversar com Waldir, amealhar dados, etc, para consubstanciar a campanha e (de minha parte) fazer os "releases" jornalísticos para a Bahia. Dalton Godinho era o assessor do Ministério, mas atuava em Brasilia. Eu fazia o embate em Salvador e na Bahia.
Com dados em mãos, em reuniões com Sérgio Amado e equipe e mais Domingos Leonelli, Pedral Sampaio e outros, ia soltando as informações casadas. Isto é: Waldir tinha zerado a Previdência e iria zerar as mazelas da Bahia, fazer uma mudança no governo.
Deu certo. Tanto deu que Waldir foi eleito governador, em 1986, na primeira campanha de marketing moderno politico no Brasil pós lei Falcão. Foi uma campanha inovadora, criativa, fantástica e Sérgio Amado foi um dos pilares.
Éramos uma equipe enorme (só na imprensa eu tinha dois repórteres Rêmulo Pastore e dois fotógrafos Manu Dias e Xando Pereira - para o trabalho de campo - e ainda pilotava um conselho de jornalistas com mais de 10 profissionais) e Geraldão/Cláudio uma equipe de publicitários e designres enorme.
Vale observar que, nessa época, com a reserva de mercado e o Brasil atrasado na computação quase tudo era feito na mão grande, dos releases as artes publicitárias.
Quando digo que Sérgio Amado era um dos pilares da campanha porque, além da publicidade em si, era considerado o principal CEO da D&E, cuidava também da parte financeira da campanha juntamente com Roberto Coelho (irmão do candidato a vice-governador Nilo Coelho) e Alberto Avena (irmão da esposa de Waldir, Yolanda).
Era um coringa agitado, de raciocínio rápido, prático, e teria sido dele a ideia de divulgarmos a primeira pesquisa Ibope (abril/maio de 1986) em que Waldir aparecia com 70% das intenções de votos e Josaphat Marinho (20%). Foi a pá de cal.
Trabalhamos muito nesta campanha apesar da vitória ter se esboçado desde o início. ACM no entanto, era poderoso, tinha força na mídia. Foi uma guerra ainda que Josaphat fosse mais candidato de Durval do que dele. E na estratégia adotada pela campanha o objetivo era derrotar ACM e não Marinho.
A história a partir daí é do conhecimento público. Waldir foi uma decepção e entendeu que para mudar a Bahia era preciso mudar o Brasil. Antes desse eco, ele escolheu Wilter Santiago para comandar a comunicação, fui embora para Londres. Quando voltei em abril de 1988 a base do núcleo waldirista estava em polvorosa. Nilo assumiu o governo e os waldiristas com o passar do tempo foram destronados.
Creio, que esse foi um dos motivos que levaram Sérgio Amado a ir embora da Bahia e se estabelecer em São Paulo para nunca mais voltar, nem participar de campanhas políticas no estado. Eu, Cláudio Barreto e Geraldão ainda seguimos, até que, depois da campanha de ACM x Irujo, no inicio dos anos 1990, Geraldão também foi embora para SP e Claudio Barreto para o Rio.
Ontem, Sérgio Amado faleceu em SP, após uma brilhante carreira no mundo da publicidade se tornando um nome nacional. Geraldão fez a campanha vitória de FHC a presidente (1994) e também já faleceu. Claudio Barreto ainda está na ativa. Rezende mora na Bahia e cuida de outros negócios.
Muitos e outros personagens dessa campanha também já faleceram: Waldir, Yolanda, os Avenas, Pedral Sampaio, Roberto Coelho, Luis Leal, Joca, Antônio Jorge, Rêmulo Pastore, Wilter Santiago, Guerra Lima, Luís Viana Filho, Jutahy Magalhães. E, ontem, foi-se Sérgio Amado. (TF)