Partido da direta CHEGA foi vital para aprovar novo projeto
Tasso Franco , Salvador |
30/09/2025 às 18:25
Imigrantes na Mouraria, Lisboa
Foto: BJÁ
O Parlamento de Portugal aprovou hoje o pacote anti-imigração do governo após o projeto mais restritivo ser renegado em agosto pelo Tribunal Constitucional (TC) e vetado pelo presidente. Prevê-se que os brasileiros são os mais afetados pelo projeto do governo aprovado em Portugal.
O país tem cerca de 1,5 milhão de imigrantes e cerca de 600 mil são brasileiros com residência regular, resultado de uma emigração que aumenta a cada ano desde 2017.
As alterações na Lei dos Estrangeiros foram aprovadas em julho com a maioria de votos da governista Aliança Democrática, da sigla de ultradireita anti-imigração Chega e da Iniciativa Liberal (centro-direita).
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No final de um debate em que o Chega (partido de direita) normalizou a remigração - deportação em massa de imigrantes - e defendeu “a família portuguesa”, o partido de André Ventura proporcionou ao Governo a aprovação da nova Lei dos Estrangeiros. A legislação possui várias alterações, mas todas com o mesmo objetivo: reduzir a entrada de imigrantes em Portugal. Este objetivo está traduzido, por exemplo, em tornar os vistos de procura de trabalho somente para profissionais “com elevadas qualificações” e restringir o direito ao reagrupamento familiar.
Além do Chega, o executivo de Luís Montenegro contou com votos da Iniciativa Liberal (IL) e do Juntos pelo Povo (JPP). Até a última da hora - das 10h30 e até pouco depois das 12h00, o Partido Socialista (PS) esteve reunido com o Governo no Parlamento, mas não chegaram a acordo. Segundo explicou aos jornalistas José Luís Carneiro, líder dos socialistas, “o Governo não esteve disponível para aceitar estas propostas e, portanto, o Partido Socialista não tinha condições para acompanhar estas propostas, que agora foram fechadas com o acordo entre o Governo e o Chega no Parlamento”.
Entre as propostas que o PS sugeriu estava o de alargar o visto de procura de trabalho para “setores essenciais”, além dos altamente qualificados, como consta no texto do PSD, e reduzir de dois para um ano o período necessário para solicitar o reagrupamento familiar. Ao mesmo tempo, José Luís Carneiro garantiu que vai apresentar no Parlamento estas novas propostas que, em sua avaliação, “são boas para o país”.
Ainda prometeu que terá “sempre uma atitude de grande responsabilidade” e apresentará uma proposta legislativa que corresponde à sua perspetiva de como se deve “responder às necessidades que o país tem de mão de obra imigrante” assegurando a integração dos imigrantes “com toda a segurança e com todas as garantias para quem vem”. “Eu ontem estive com a CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) e foi-me dito que 50% dos assalariados na agricultura são trabalhadores vindos de outras paragens”, referiu. O deputado não deu datas sobre a entrega desta proposta.
Por outro lado, o líder socialista também afastou que exista alguma dúvida sobre a constitucionalidade do texto e que não reivindica o reenvio ao Tribunal Constitucional (TC). “Para nós, não se colocaram questões de inconstitucionalidade, nem colocaremos essa questão. Deixamos agora o assunto nas mãos do senhor Presidente da República”, disse. Posição diferente tem o Livre. O deputado Paulo Muacho, em declarações após o fim da votação, defendeu que o Presidente envie o texto ao Palácio Ratton para que não restem dúvidas sobre o texto estar de acordo com a Constituição.
Os outros partidos não reagiram após o fim da votação. No entanto, as posições ficaram claras nos votos e nos debates, em especial as palavras do Chega. Com André Ventura ausente, as deputadas Cristina Rodrigues e Rita Matias foram as porta-vozes do partido no plenário, ambas a defender nos discursos a deportação em massa de imigrantes, a chamada remigração - e a culpar os imigrantes por problemas do país, como saúde, educação e outras questões.
“Não há vagas nas creches, não há habitação, não há segurança e há crime organizado. Os portugueses estão a ficar para trás por causa da invasão que vivemos”, disse Rita Matias. No final da votação, o ministro António Leitão Amaro preferiu não falar com a imprensa.
O deputado social-democrata Hugo Soares foi quem avaliou a vitória “dos portugueses e das portuguesas” com a aprovação da lei. “Portugal deixou de ser, hoje, um país de portas escancaradas, para ser um país de portas abertas, mas com regras. E nós vamos poder receber quem nos procura para contribuir para o nosso país, para a nossa economia, de forma regulada, mas ao mesmo tempo de uma forma humanista, para podermos integrar quem nos procura com as nossas regras, e de uma forma que toda a gente, hoje, sabe quais são os critérios para que possam aceder ao nosso país”, destacou.