A pesquisa Quaest divulgada nesta sexta-feira (22) aponta que 41% dos eleitores baianos têm intenção de votar em ACM Neto (União) para governador nas eleições de 2026. O governador Jerônimo Rodrigues (PT) tem 34%; João Roma (PL) 4%; Kleber Rosa (PSOL) 2%; José Aleluia (Novo) 1%; Indecisos 4%.
No meio político não há surpresas em relação a esses percentuais, os quais embora não sejam definitivos uma vez que a eleição só acontecerá no final de 2026 e muita água ainda vai rolar por baixo da ponte, uma vez que, na Bahia, reduto petista de Lula, dependerá de como o presidente estará no momento da eleição. Como aconteceu em 2022, Lula é o maior cabo eleitoral de Jerônimo. Se estiver bem, na época do pleito, Jerônimo sobe.
Isso não significa dizer que Jerônimo esteja parado e descuida de seu dever de casa. Pelo contrário, o governador é um trabalhador incansável, quase “workaholic”, mas, pelo que se vê depois de tantas andanças e investimentos do governo na capital os resultados apontados pela pesquisa não lhes favorecem como deveriam.
A essa altura - segundo semestre do terceiro ano do governo - era de se esperar uma melhor performance do governador, aliado integral do governo Lula, cuja aprovação é de 59% e rejeição de 33% está em curva ascendente pois eram 31%. E também deveria amealhar uma pontuação melhor contra ACM Neto que está fora do poder há mais de quatro anos e foi derrotado por ele em 2022.
Os números apresentados pelo Quaest não são assustadores para Jerônimo, porém, revelam que seu governo apesar de toda propaganda é aquém do esperado na continuação do ciclo petista que começou em 2007 com Jaques Wagner.
Onde, então, o governo Jerônimo não é tão eficaz a ponto de manter ACM Neto na liderança apenas com o discurso?
Alguns pontos nos parecem emblemáticos. Um deles - o principal´- é que o discurso de ACM neto sobre a violência na Bahia encaixou e embora o governo tente de todas as formas combater o crime organizado no estado, que se espalhou pela RMS e interior, não consegue a contento. Enquanto a população se encontra amedrontada, enjaulada, o governo parece enxugar gelo no combate ao crime, pois, os resultados positivos não aparecem como se supunham apesar de todo empenho.
Um outro ponto fraco está relacionado com a educação, pois, embora o governo do estado desde o final do segundo mandato de Rui Costa tem inaugurado colégios em tempo integral, boas escolas, a qualidade do ensino continua ruim, as direções dos colégios são politizadas, há falta de professores e monitores, e quando os resultados nacionais de desempenho dos estados são divulgados pelo MEC a Bahia está sempre na rabeira.
A saúde é o ponto forte do governo com um atendimento à população que tem melhorado bastante, porém, há uma crescente demanda a cada dia sendo que a fila da regulação continua o calo. Há, ainda, um movimento semi paredista de 500 médicos da RMS que não desejam sair da CLT e passar para PJ, grave problema a resolver, com a SESAB sem diálogo franco com o Sindimed. Isso, no entanto, é de menor monta diante do bom atendimento que a rede pública apresenta, gratuita, amparado pelo sistema SUS.
O PLANSERV restrito aos servidores nos últimos tempos tem sido desgastante para o governo e esta é uma categoria e familiares – quase 1 milhão de pessoas – que põe a boca no trombone com frequência.
Outros itens que consideramos relevantes estão relacionados com o desenvolvimento econômico do estado, praticamente paralisado, o governador dando maior atenção ao político micro com centenas de viagens ao interior 90% delas ou mais para lançar obras e inaugurar projetos que não são produtivos do ponto de vista da economia.
Inaugurar uma escola ou um hospital é importante, mas, não significa desenvolvimento econômico, salvo a longo prazo. Quando foi que o governo inaugurou um centro industrial ou tecnológico de porte num estado com 417 municípios?
A Bahia está paralisada na economia com projetos mirabolantes e de pouca eficácia como a Ponte Salvador a Itaparica, a FIOL e o Porto Sul que não andam, uma revitalização do Pólo Petroquímico que depende da Braskem, eixos ferroviários saturados e capengas, eixos rodoviários sem atenção, e o estado vai perdendo posições para o Ceará e Pernambucano que estão com uma infra portuária, ferroviária e rodoviária melhor.
E o governador Jerônimo, que deveria chamar a si essa questão macro. não o faz deixando para secretarias sem grande resolutividade. A Secretaria de Ciência e Tecnologia poderia até fechar, pois, nesse campo, salvo o CIMATEC estamos num atraso sem par.
Ademais, já que estamos falando nas questões marco o governador Jerônimo precisa entender que ele é Chefe do Executivo da Bahia, um estado importante no país, e ele tem que assumir politicamente essa função como liderança ao menos do Nordeste e falar dos temas nacionais e internacionais.
O governador raramente fala politicamente desses temas e a bancada baiana é quase muda no cenário nacional, mesmo com 3 senadores e 39 deputados federais. Ninguém se destaca ou fala pelo estado, pela região. No máximo, cumprem missões. O que é pouco. Nem as missões para salvar o São Francisco e o Cacau são citadas.
A chinesa BYD de automóveis elétricos promete uma fábrica com alta tecnologia e monta uma montadora de peças em Camaçari. Merecia uma boca no trombone. Trump e os EUA estabelecem um tarifaço maluco nas empresas baianas (e nacionais) e o governador não grita, os senadores não se revoltam. O turismo na Bahia desmenlinguiu, esfarelou-se. Estamos sem um Centro de Convenções há 6 anos.
A Cultura amesquinhou-se. A Bahia está fora do circuito nacional em quase todos os campos: teatro, cinema, artes visuais, etc. O maior centro de cultura do Estado, o TCA, está fechado há 3 anos. O IGHB amordaçado. O Museu de Arte Sacra da UFBA fechado. A Biblioteca do Mosteiro de São Bento, fechada. Estamos ficando para trás na Cultura, em eventos, em atividades culturais de porte, vivendo, ano a ano, do que resta do Carnaval.
O governador, em nossa opinião, ao invés de estar todo dia no interior, lançando e inaugurando obras, entregando ambulâncias e carros da PM, missões que podem ser desempenhadas por secretários, poderia concentrar esforços no marco econômico senão vamos nos transformar (o Estado) num território de pobres.
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Então, voltando a pesquisa Quaest, a população pode estar se apercebendo dessa situação e a avaliação de Jerônimo não é boa. Observa-se, ainda, que a campanha de 2026 será polarizada entre ACM Neto x Jerônimo e os candidatos João Roma (bolsonarista) e Kleber Rosa (PSOL) serão coadjuvantes do processo. José Aleluia do Novo, se Romeu Zema seguir candidato a presidente pode crescer um pouco para 2%.
É preciso também aguardar como se dará a polarização nacional Lula (já disse que vai disputar a reeleição) x candidato ou candidatos do campo centro direita. Nesse aspecto, Jerônimo tem vantagem, pois, desde já tem um candidato a presidente da República.