Esse era o tom que o governador vinha dando ao longo da pandemia que já dura quase dois anos com o objetivo - dito por ele próprio - de preservar a vida dos baianos, "salvar vidas" - muito enfatizado.
Recentemente, liberou eventos até 3.000 pessoas obedecendo normas da OMS - uso de máscara, vacinação obrigatória, álcool gel - e publicou um decreto nesta semana obrigando a todos os servidores do estado se vacinarem e comprovarem sob pena de atos administrativos. E, por conseguinte, tem dito que a possibilidade de autorizar o Carnaval - final de fevereiro de 2022 - depende do controle da pandemia.
Ontem, no entanto, o governador acrescentou a esse cenário um viés político. A Secom divulgou que bispos integrantes da Regional Nordeste 3, que é composta por líderes católicos da Bahia e de Sergipe, e faz parte da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), se reuniram nesta quinta-feira (18) com o governador Rui Costa, no Centro Administrativo da Bahia (CAB) e entregaram uma carta na qual reforçam a preocupação quanto à possível realização de grandes festas de final de ano e do Carnaval 2022.
De acordo com o documento - assinado por 23 religiosos - a preocupação se dá, principalmente, pela "forma como essas festas acontecem, através de aglomerações massivas que podem causar um possível retorno de casos de Covid-19 e consequentes óbitos". Ainda segundo a carta, "o sofrimento de nosso povo tem sido muito grande pelo elevado número de pessoas que foram contaminadas e, principalmente, de óbitos entre jovens, adultos e idosos".
Rui comentou sobre o encontro em suas redes sociais, agradeceu o apoio dos representantes da comunidade católica baiana e afirmou que "nenhum de nós quer voltar a enfrentar momentos tão tristes e dolorosos como os que vivemos nas fases mais agudas da pandemia. Salvar vidas continuará sendo nossa prioridade".
Outro dado sintomático é que o senador Jaques Wagner - provável candidato a governador, em 2022 - também participou do encontro, no qual, além do governador, estavam Dom Josafá Menezes da Silva, arcebispo de Vitória da Conquista; Dom João Cardoso dos Santos, bispo de Bom Jesus da Lapa e presidente CNBB (Regional Bahia e Sergipe); e Dom Zanoni Demettino Castro, arcebispo de Feira de Santana.
Ora, esse adicional político diante da decisão que o governador terá que tomar sobre o reveillon e o Carnaval mostra que o tema sai do âmbito da ciência para o campo político, uma vez que bispos não são autoridades sanitárias e, historicamente, sempre se posicionaram contra o Carnaval, mesmo a festa sendo a maior da cultura popular baiana.
O que Rui faz - politicamente falando - é amparar-se numa instituição religiosa para, adiante, tomar a decisão, e coloca ao seu lado o senador Jaques Wagner, ao que tudo indica o candidato do PT à sua sucessão. Abre, assim, um precedente no campo político dando margem a que seus adversários o critiquem, uma vez que o campo científico (aparentemente) é colocado num segundo plano.
A decisão que o governador tem que tomar deve ser respaldada no que sempre ele próprio defendeu, o controle do patógeno pela ciência. (TF)