Presidente enfrenta seu pior momento, mas ainda tem luz no final do túnel
Tasso Franco , da redação em Salvador |
10/09/2021 às 09:51
Jair Bolsonaro, no seu pior momento
Foto: PR
Tudo ainda está muito verde para se fazer uma avaliação mais precisa do que poderá acontecer daqui para a frente diante do recuo do presidente Jair Bolsonaro, pós bravatas do 7 de Setembro, com a divulgação de um texto assinado por ele e organizado pelo ex-presidente Michel Temer, dando conta de que nunca quis agredir o STF (ou seus membros) e deseja paz e um clima de harmonia entre os poderes.
“No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer: Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar"
Mais adiante o presidente fala das divergências com o ministro Alexandre de Moraes e reitera seu respeito pelas instituições da República, "forças motoras que ajudam a governar o país. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição".
Essa mudança de estratégia de Bolsonaro surpreendeu assessores palacianos, os meios políticos da situação e da oposição e os seguidores do presidente, chamados de 'bolsonaristas'. Como diria Tancredo Neves é preciso deixar baixar a poeira ou o repicar das águas nos rochedos para se ter uma noção mais precisa do que poderá acontecer. A primeira vista, o núcleo político central do presidente, Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, levou um 'by-passe' na decisão tomada a partir dos conselhos de Temer, o gabinete militar, idem; e até os seus filhos.
São questões que se contornam com mais facilidade. A outra parte é a mais complicada: qual a reação a médio e longo prazo que tomarão os bolsonaristas que se vestiram de verde-e-amarelo para as manifestações do 7 de Setembro, incentivadas pelo presidente? Seguirão ainda com Bolsonaro ou perderam de vez a confiança no presidente que classificavam como um 'mito'? Ainda não há uma resposta.
A direita no Brasil é dividida em dois grupos: um mais moderado que defende a ordem institucional, trabalho, obras através de emendas parlamentares e cargos no governo típico de representantes do Centrão; e um outro, radical, que defende a ruptura institucional e uma ditadura militar com Bolsonaro à frente do poder. Uma proposta (ou exigência) muito além do imaginado uma vez que as Forças Armadas não dão o menor sinal nesta direção e, se assim acontecesse, imagina-se, o modelo seria assemelhado ao de 1964 com um marechal ou um general no poder.
Depois dos atos do 7 de Setembro onde os bolsonaristas foram às ruas em massa, mas, nada conseguiram além de regojizos às bravatas dos discursos do presidente, viuse-, em menos de 48 horas, com reações dos presidentes do STF e do TSE, da possibilidade de andamento do impeachement do presidente, e de uma irracional greve dos caminhoneiros, com a economia do país enfrentando uma inflação de 9.8%, que o presidente estava acuado.
Hoje, pelos relatos da imprensa, se sabe que o presidente não dormiu na noite de 7 para 8 de setembro, quando, então, surgiu a mão salvadora de Michel Temer, goste-se dele ou não, mas, é 'macaco velho na política' e conhece direito constitucional, além de ter sido presidente e enfrentado uma greve de caminhoneiros, alertando-o dos iminentes perigos que estava correndo inclusive com a greve e paralisações dos caminhões caindo em seu colo.
Opiniões favoráveis a Bolsonaro na grande midia não vão acontecer porque ele se indispôs desde antes com a imprensa e tudo que venha a fazer, sempre estará sob desconfiança. Esse é outro ponto que poderia reajustar tratando a imprensa com civilidade e profissionalizando a sua área de Comunicação. Realizar midia institucional nas emissoras de TV e rádio são próprias de todos os governos - federal, estaduais e municipais. E ao invés de ficar falando a apoiadores em 'cercadinhos' dar uma coletiva mensal em palácio como faz o presidente dos EUA.
No mais, se quiser ter uma sobrevida política, precisa trabalhar. Acionar uma agenda de atos e projetos que favoreçam à população brasileira - esquecendo os quarteis, os coturnos, o STF e o TSE, e outros fantasmas - e inaugurar obras do seu governo ao invés de fazer motociatas. A política tem o momento oportuno de ser feito. Agora, é a hora de mostrar os serviços. Estima-se que, se não der recaídas, ainda poderá ter algum êxito. (TF)