Política

ALGUNS MOTIVOS QUE LEVARAM PELEGRINO A PERDER ELEIÇÃO, p TASSO FRANCO

Nelson Pelegrino trabalhou muito nesta campanha, como nunca, mas, foi prejudicado pela baixa avaliação de Wagner na capital
Tasso Franco , da redação em Salvador | 28/10/2012 às 19:07
Pelegrino teve o maior apoio da história do PT em Salvador, mas não obteve êxito
Foto: DIV
A população de Salvador, em maioria, não deseja um governo municipal do PT, pelo menos que seja dirigido pelo deputado Nelson Pelegrino, o qual experimentar sua 4ª derrota (não consecutiva - 1996/2000/2004/2012) tentando chegar ao topo da direção executiva do palácio Tomé de Souza.

Esta foi, certamente, a melhor oportunidade que o candidato petista teve no decorrer desses 16 anos de tentativas. Conseguiu amealhar o apoio integral do PT desde final de 2011, começou sua pré-campanha com bastante antecedência aos demais candidatos, formatou uma robusta aliança com vários partidos obtendo um grandioso tempo de rádio e TV para seu programa eleitoral, demoveu a pré-candidatura da deputada Alice Portugal, PCdoB, colocando na sua vice a vereadora Olivia Santana, e teve apoio integral do governador Wagner, da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula da Silva, este último, inclusive vindo duas vezes a Salvador em pouco tempo e operando um telemarketing com voz pessoal pedindo voto ao 13.

O que teria, então, dado errado para que Pelegrino não obtivesse êxito em sua jornada?

Existem várias prováveis razões ou motivos que apontam nessa direção. Um deles, bem aproveitado pelo candidato ACM Neto, foi a baixíssima avaliação do governo Wagner pela população de Salvador (Ibope, ótimo/bom 16% em agosto), o qual faz uma gestão muito aquém do esperado diante de sua propalada amizade com a presidente Dilma e seu alinhamento político.

Tanto isso se apresenta como fator preponderante que, no inicio da campanha propriamente dita, a partir de 7 de julho, Pelegrino evitou colocar peças de ruas colado na imagem de Wagner, especialmente na Av Paralela onde o governo tem 3 anos e meses construindo uma passarela, optando mais por Lula e Dilma.
De fato, Wagner ficou “escondido” na campanha e só veio aparecer de forma mais firme já no final da jornada, com Lula e Dilma em palanques, e com a inauguração de obras, poucas que foram, do seu governo, como a 1º fase da via expressa ao porto, habitações do Minha Casa e outras.

Em compensação, Pelegrino teve o apoio da presidente Dilma, com governo muitíssimo bem avaliado no Brasil como um todo, e que não fez o efeito que se imaginava que fizesse no apoio ao petista. Diria, portanto, que a população da capital, até votou em Dilma majoritariamente para presidente e gosta de sua gestão, mas, tem desconfianças sobre seu comportamento com Salvador, que poderia ser melhor. Ou seja, a dupla Dilma/Wagner foi eleita para fazer mais pela cidade e não fez.

Lula, de sua parte, também perdeu fôlego na sua investida e aí podemos creditar ao candidato Pelegrino esse contencioso, uma vez que, se tratava de um nome com “fadiga de materiais”, o qual vem tentando desde 1996 se eleger, sem carisma, fraco em debates, sem uma personalidade política vigorosa de independência, e aí o ex-presidente fez o que pode, até se sacrificando fisicamente como aconteceu na última viagem a cidade e ao subúrbio de Paripe, quase afônico, para ajudá-lo. Em SP, com um nome novo na política (Fernando Haddad) Lula se deu bem. 

Listaria também motivos complementares que prejudicaram enormemente Pelegrino nesta campanha, em especial a mudança de comportamento do governo Wagner com os servidores estaduais se fechando em copas, sem diálogo, o que resultou nas greves da PM e dos professores e só não foi pior porque os Sindsefaz, Sindae e Sindimed com categorias ainda hoje bastante insatisfeitas (fazendários, saneamento e saúde) não levaram adiante seus projetos de paralisações.

Destaque para a greve dos professores, uma categoria com uma capilaridade enorme nas famílias baianas, e que resultou numa paralisação traumática que durou mais de 100 dias, trincou as relações do PCdoB com o governo, indispôs o governador com milhares de pessoas em todo estado, e isso refletiu de forma muito forte em Salvador onde a APLB/Sindicato tem presença mais marcante e local onde reside a maioria dos docentes e atuam seus líderes políticos. 

Esses fatos (e outros) refletiram de forma negativa na caminhada de Pelegrino, o qual teve que sair pulando obstáculos o tempo todo, dificultou o trabalho do seu marketing político, e deu uma valorosa munição ao seu adversário para se contrapor ao seu ideário baseado, fundamentalmente, na parceria Lula/Dilma/Wagner que “deu certo no Brasil, continua dando certo com Dilma, está mudando a Bahia e precisa de uma chance para mudar Salvador”.  Tese melhor não existia. 

Pelegrino, no entanto, exagerou na dose ao se “prender” de forma muito acentuada a essa tese mostrando pouca autonomia e independência, pelo menos isso aconteceu na maior parte da campanha, e Neto soube colocar o contraponto emocional dando conta de que a população de Salvador é insubmissa e poderia andar com suas “próprias pernas”. De fato, essa mensagem de Neto atingiu em cheio a classe média, segmento que Pelegrino desprezou em toda campanha, só dando um pouco mais de atenção ao grande puxador de votos desse segmento (Waldir Pires), no segundo turno.

É isso, no decorrer da semana vamos analisar ponto a ponto as razões, na nossa ótica, que levaram a vitória de ACM Neto e a derrota de Pelegrino.

Diria que não se trata de uma derrotada definitiva com tamanha quantidade de votos (615.000) mas é algo para se pensar internamente no PT, ainda que a renovação de lideranças seja lenta, difícil e exige comportamento de pessoas mais jovens, o que, não está acontecendo no PT, pelo menos na capital.