Política

DINHEIRO DORME NA SECTI E CRISE DO SISAL TEM DIAGNÓSTICO SEM SOLUÇÃO

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| 13/05/2011 às 09:00
Comissão da ALBA debate crise do sisal em Coité, mas, por enquanto, só promessas
Foto: Raimundo Mascarenhas
  Atendendo ao requerimento apresentado pelo deputado estadual Tom Araújo (DEM), aconteceu na quinta-feira (12), no Centro Cultural Ana Rios, na cidade de Conceição do Coité, a primeira audiência pública nesta legislatura, realizada pela Comissão da Agricultura e Politica Rural da Assembleia Legislativa do Estado.

  Contando com a presença dos deputados Joacy Dourado (PT), Luizinho Sobral (PTN), Coronel Gilberto Santana (PTN), Herbert Barbosa (DEM) e Tom Araújo (DEM), a audiência foi presidida pelo deputado Temóteo Brito (PMDB). "As audiências públicas externas acontecem com foco na promoção do diálogo sobre temas de interesse do estado", justificou Brito.


   O deputado Tom, manifestou sua preocupação com a baixa produtividade brasileira na produção do sisal, em detrimento da africana. Segundo o parlamentar, isso acontece porque no continente africano foi desenvolvida uma máquina que retira a palha e a fibra do sisal de forma mais eficiente.

  "Isso aumenta muito a qualidade e diminui a incidência de mutilações de membros dos agricultores. Hoje a nossa produtividade do sisal é muito baixa", disse ele, lembrando ser esta a principal cultura do semiárido baiano onde vive mais de quinhentas mil pessoas.

Para o parlamentar, o mercado é cativo da fibra existente e não pode deixar acabar os campos. "É grande o sofrimento do homem do campo e está realidade tem que acabar", externou o parlamentar.


O democrata finalizou o pronunciamento lembrando que o ex-governador deixou locado três milhões de reais na Secretaria de Ciências, Tecnologia e Inovação, através do BIRD e já se passaram quatro anos e este dinheiro, que tinha o objetivo de ser utilizado nas pesquisas, está parado. "Se passaram três secretários desde que Paulo Souto saiu do governo e ninguém usou para nada", disse Araújo.


Presidente do SINDIFIBRAS confirmou


"O dinheiro está dormindo na Secretaria de Ciência e Tecnologia", confirmou Wilson Andrade, presidente do SINDIFIBRAS. Ele também falou que o governo tem apenas quinze meses para usar o dinheiro, se não terá que devolver.

Wilson destacou em seu pronunciamento os caminhos e os responsáveis para resolver os problemas do sisal, enumerando em seis pontos, dentre eles, a necessidade de criar uma máquina urgente que tenha segurança e aumente a produtividade. "Até o momento não há uma máquina que atenda as necessidades. Esta maquina que terá que ser criada urgente, tem que ser itinerante", disse Andrade.


"Chega de o governo gastar dinheiro antecipado. Estão dando dinheiro antes de apresentarem a máquina ideal. Assim não vale. Criem a máquina e governo compre a patente. O sisal tem futuro, precisamos apenas corrigir o caminho", finalizou o presidente da SINDIFIBRAS.


Os problemas do sisal vêm de décadas


De acordo com Misael Ferreira, presidente da Associação dos Produtores de Sisal da Bahia, esta luta para encontrar uma solução para a cultura do sisal é antiga. Quando candidato a deputado em 1986, já falava nos palanques da necessidade de novas tecnologias na sua produção. "Fiz diversos discursos na tribuna da Assembleia, estive em 2007 com o Ministro Institucional em Brasília. Em 2010, entreguei um documento ao Governador Jaques Wagner quando ele esteve em Coité e até agora, nada. Ninguém fez nada pelo sisal", desabafou Ferreira.

O exportador Mauricio Araújo reconheceu que a audiência pública aconteceu em um bom momento, pois a classe esta se organizando com a criação da Câmara setorial, a mobilização para criação da subcamada e os passos que estão sendo dados para a câmara a nível federal. "90% da fibra do sisal é para exportação e o dólar tem caído e isto contribui com a crise", falou.

Mauricinho como é conhecido, disse também que no final de 2010, inicio 2011, três indústrias de sisal foram fechadas e finalizou lembrando que está sobrando planta de sisal, porém é impossível aumentar a produção, pois não há mão de obra.

O produtor Raimundo Emídio dos Santos, disse ao CN que a máquina de desfibrar é problema mais sério da cadeia produtiva do sisal. "Tô com fé que agora vai dar certo", falou Raimundo, acreditando que os deputados vão encampar a bandeira defesa do sisal.

O prefeito de Conceição do Coité Renato Souza que ganhou projeção na vida pública como secretário de agricultura do muncicípio, vice-prefeito e secretário da mesma pasta, disse que não ha mais tempo para discutir a problemática do sisal, "é preciso que coloquemos  em prática tudo que ja foi discutido há dácadas, o que me preocupa é continuar em decadência e acontecer o que aconteceu com outros produtos, a exemplo do cacau no Sul da Bahia" disse o prefeito.

Souza disse que o que estiver ao alcance do município para salvar o sisal ele irá contribuir.


Presença do governo - O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Câmara falou durante o evento que o governo do estado, de 2005 até hoje, já financiou 45 projetos para melhoria do trabalho no sisal. "O sisal tem futuro e não há limite para sua utilização", garantiu Câmara.

Ele anunciou que vai reunir técnicos das universidades, do Centro de Inovação e Transferência de Tecnologia (Cintec) e dos setores ligados ao sisal para analisar os equipamentos existentes e optar pelo tipo de máquina desfibradora que seja capaz de aproveitar 100% do potencial do sisal. Atualmente, somente 4% do produto são aproveitados.

O secretário da agricultura, Edmundo Salles foi representado pelo superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da SEAGRI, Raimundo Sampaio. Ele apresentou as políticas públicas que estão sendo desenvolvidas pela Secretaria da Agricultura para o fortalecimento da cultura do sisal. Confirmou que técnicos da EBDA e da ADAB estão realizando um mutirão na região com os produtores que utilizam o PEP e verificaram que a produtividade é de 2.216 quilos por hectare. Ele disse que a SEAGRI já informou oficialmente a Conab, solicitando que com base neste novo dado seja ampliada a cota do PEP para o sisal.

Sampaio comunicou também que na próxima semana será realizada, em Conceição do Coité, uma oficina técnica com a participação de técnicos dos órgãos públicos e privados, produtores e representantes do Banco do Nordeste do Brasil e do Banco do Brasil, para debater as questões de custeio e atualizar o sistema de produção. "Para aumentar a produtividade, é preciso fazer a limpeza da área e dar trato cultural, e para isso o produtor necessita de financiamento para custeio", explicou Sampaio.


Sampaio confirmou ainda que a SEAGRI e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação estão agilizando a criação de uma Biofábrica de Sisal, em local a ser definido, com o objetivo de produzir mudas sadias e distribuir com os agricultores familiares. A iniciativa tem o objetivo de combater a podridão vermelha, principal doença que ataca a cultura do sisal.

Novas pesquisas para uso do sisal - O Instituto Brasileiro de Fibras Naturais, Ibrafibras, está desenvolvendo um projeto, em parceria com a Petrobras Biocombustível e o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Universidade Estadual da Bahia, Ceped/Uneb, para implantar na Bahia uma planta piloto de extração de bio-óleo a partir dos resíduos do sisal. A informação foi prestada pelo diretor superintendente do Ibrafibras, Fábio Teixeira, durante audiência pública.

Recorde de presença - Com a capacidade máxima de 400 pessoas sentadas, o auditório do Centro Cultural ficou pequeno para os 570 participantes que assinaram a lista de presença. Segundo a coordenação, estiveram presentes 16 chefes de escritório das EBDAs da região do sisal, além de representantes dos escritórios de Senhor do Bonfim e Jacobina. Foram registradas as presenças de quatro prefeitos, 40 vereadores, 11 secretários municipais de agriculturas, produtores, líderes comunitários, trabalhadores e exportadores representantes de 20 municípios.


Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas (Calila Noticias)