A ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, afirmou nesta sexta-feira (1º) que espera que a Câmara "possa agir com firmeza" em relação às declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) a um programa de TV, na última segunda-feira (28).
Ao ser questionado pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra, Bolsonaro respondeu: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu". Posteriormente, Bolsonaro afirmou que não havia entendido a pergunta.
"A própria Câmara Federal tem se encarregado de tratar desse caso do deputado. Da maneira como as coisas estão sendo encaminhadas, é bem provável que ele seja interpelado através da Comissão de Ética da Câmara", afirmou a ministra. "Vamos esperar que a Câmara possa agir nesse caso com a firmeza que a sociedade brasileira espera, porque nós não podemos mais admitir declarações tão explicitamente racistas como essas que foram dadas."
As afirmações da ministra foram feitas durante a apresentação da campanha "Igualdade Racial é para valer" no programa "Bom dia, ministro", da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). A campanha prevê uma série de ações de combate ao racismo.
As declarações de Bolsonaro motivaram representações na Câmara. A Corregedoria da Casa informou ter recebido nesta quinta-feira quatro representações contra o deputado, para que seja investigado se parlamentar faltou com o decoro em razão das declarações sobre negros e homossexuais.
O corredegor, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), ainda não analisou os pedidos. Após a análise, Bolsonaro será notificado e, depois isso, terá cinco dias úteis para apresentar sua defesa. O presidente da Câmara, Marco Maia, informou na noite de quarta (30) que havia encaminhado as representações para a Corregedoria.
'Estúpido'
Nesta quinta (31), o deputado federal e líder do governo Cândido Vaccarezza (PT-SP) classificou Bolsonaro como "estúpido". "Bolsonaro tem se caracterizado como um deputado estúpido, mas ele foi eleito com essa estupidez", disse.
Ao G1, Jair Bolsonaro disse que Vaccarezza estava sendo preconceituoso com ele. "Eu fui a diversos gabinetes de deputados explicar o que tinha acontecido. Cândido Vaccarezza está sendo preconceituoso comigo. Não vou usar adjetivos piores do que os dele", disse.
Em entrevista ao G1, os filhos do deputado, o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado estadual Flávio Bolsonaro, disseram que o pai não pode ser considerado preconceituoso.
"Ele tem uma opinião que é polêmica, que vai contra o politicamente correto e que tem que ser respeitada. (...) O que a família Bolsonaro faz nada mais é do que valorizar conceitos e valores da família, valores éticos, valores morais e certamente isso incomoda muita gente", afirmou Flávio.
"Em nenhum momento ele voltaria atrás [em relação às declarações]. O que ele fala, inclusive, é que, no momento em que a pessoa completa 18 anos, ela faz o que quiser da vida dela. Mas, a partir do momento em que você deve respeito a alguém que te sustenta, eu acho que o mínimo que se deva fazer é existir uma reciprocidade", declarou Carlos.
Nova polêmica
Nesta quinta-feira, outro deputado federal, o Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), se envolveu em polêmica por declarações relacionadas a gays e negros. Pelo Twitter, Feliciano disse que africanos "descendem de ancestrais amaldiçoados por Noé" e afirmou que gays têm "podridão de sentimentos" que, segundo ele, "levam ao ódio, ao crime e à rejeição".
Pastor da Assembleia de Deus há oito anos, Feliciano é deputado em primeiro mandato. Ele disse que costuma dar pelo Twitter respostas a perguntas de caráter religioso, postadas no microblog por ele e por assessores.
Segundo o deputado, as afirmações que fez sobre africanos têm fundamento teológico. "Não tem nada de comentário racista. É um comentário teológico que está na Bíblia. Infelizmente, concordou com o que o deputado Bolsonaro estava falando, mas é apenas um comentário teológico."
Marco Feliciano afirmou que não é amigo de Jair Bolsonaro e disse não concordar com as declarações do colega. "Se tudo o que foi postado sobre ele é verdade, tem meu repúdio também. Nenhuma minoria pode ser prejudicada. Ninguém pode ser humilhado por nada", declarou.