A Bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa da Bahia reafirmou, em entrevista coletiva, na manhã de hoje (31), com a presença do secretário da Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CATH), Fignolé St. Cyr, o apoio para retirada das tropas brasileiras no país, presente há quase 7 anos.
A conversa contou com a participação de parlamentares petistas, da articuladora da campanha na Bahia, Edenice Santana e do tradutor, militante e integrante da CUT de Alagoas, Daniel Santos, que estava no país no dia do terremoto e acompanhou a visita do secretário à cidade de Salvador.
Durante sua fala, para explicar a atual situação do Haiti e relatar a estadia das tropas Minustah e o seu objetivo, Fignolé se mostrou feliz em trazer o debate para Bahia e ressaltou que a discussão em um Estado onde 80% da população é negra, ajuda e fortalece a luta haitiana. "Vim pedir a solidariedade do povo brasileiro porque a ocupação das tropas é dirigida por países ocidentais, mas executadas pelo Brasil, pelas tropas brasileiras. Dizem que, as tropas estão lá para proteger a população, mas estão para proteger os estrangeiros", declarou.
MÉDICOS E ENGENHEIROS
O tradutor Daniel Santos, que esteve no Haiti para realizar uma pesquisa no norte do país, entrevistou um batalhão de soldados brasileiros e questionou um deles: "Se as tropas saíssem do Haiti, o que vocês deixariam à população e ele respondeu: o Haiti é um laboratório e ficará um exemplo do profissionalismo militar e as técnicas desenvolvidas aqui, poderiam ser aplicadas a qualquer momento no Brasil", contou o tradutor. Para Daniel, a declaração reflete a atuação das tropas como um meio de repressão dos movimentos sociais.
Questionado sobre o que seria a necessidade primordial para o Haiti no momento, Fignolé explicou que, "o Haiti não tem problema de segurança. O povo haitiano precisa de médicos, enfermeiros, engenheiros e professores para reconstruir o país", respondeu.
O secretário haitiano agradeceu o apoio da Bancada do PT e declarou: "estou feliz de ver esse debate aqui e de saber do apoio de 14 deputados do PT a favor da luta do povo haitiano. Eu tenho certeza, que após a minha partida, esse debate será amplificado na Bahia e em todo o Brasil', afirmou.
O líder do PT, deputado Yulo Oiticica, também agradeceu a presença do secretário Fignolé St. Cyr e reafirmou, em nome de toda a bancada, que irá apoiar a retirada das tropas brasileiras do Haiti e declarou que irá lutar por uma mobilização maior a favor dos haitianos e de uma visita, com outros deputados, ao país.
"Quero ratificar o nosso apoio, o apoio da Bancada do PT, assim como ratificara posição a favor da soberania do povo haitiano, que precisa sim, de políticas públicas, de ajuda solidária, do fortalecimento da sua cultura, da sua arte e não de tropas militares. O Haiti precisa ser reconstruído e a sua soberania democrática também. E a Bancada do PT está junto nesse sonho, o sonho de liberdade e da reconstrução física e das instituições haitiana", declarou o líder.
Para Edenice Santana, que está a frente da campanha na Bahia, é preciso reforçar e levar ao conhecimento da população a atual situação dos haitianos e lutar pela retirada das tropas. "O Haiti foi a primeira república a conquistar sua independência e não existe mais condições para a permanência das tropas brasileiras. Nada foi conquistado sem luta e vamos lutar para sensibilizar o governo para retirada das tropas", disse.
Presentes a entrevista coletiva, os deputados petistas, Joacy Dourado e Zé Raimundo também se pronunciaram a favor da retirada das tropas. "Eu sempre acompanhei a situação do Haiti e a sua luta, mas confesso que fiquei chocado com as informações passadas pelo senhor Fignolé. A presença dele foi muito importante para nós, pois ele trouxe informações que não são passadas pela mídia, a respeito da atuação das tropas brasileiras. Agora, a gente começa a entender a atual situação do Haiti", declarou o deputado Joacy Dourado.
"O caso do Haiti merece uma leitura mais detalhada e a imprensa passou a imagem de destruição e a presença da ONU e do Brasil, sem falar de uma missão de paz e reconstrução social. É disso que o Haiti precisa. Acho importante esse ato porque podemos sensibilizar a população para uma perspectiva libertária aos haitianos", afirmou Zé Raimundo.
Carta - A presença do secretário do CATH, Fignolé, St. Cyr, no Brasil também contou com um encontro dele com a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, no último dia 29, em Brasília, onde foi entregue parte de um inquérito, feito em 2009, com informações referentes a atuação das tropas, inclusive relatando casos de abuso sexual contra mulheres haitianos. Fignolé destacou, a respeito desses abusos, que os soldados acusados de cometerem os abusos não são julgados e não existe nenhum tipo de reparação à essas mulheres.