Política

DEPUTADO CARLOS GEILSON LEMBRA TRAJETÓRIA DE CASTRO ALVES COM POEMA

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| 14/03/2011 às 21:28
Deputado Carlos Geilson declamando Castro Alves no plenário da Assembleia
Foto: BJÁ

   Hoje, 14 de março, Dia Nacional da Poesia, o país comemora o nascimento de um dos maiores representantes da literatura nacional: Antônio Frederico de Castro Alves. Fã ardoroso do "Poeta dos Escravos", o professor de Letras Vernáculas, deputado estadual Carlos Geilson (PTN) destacou a data em discurso na Assembléia Legislativa, lendo um trecho do poema Navio Negreiro e traçando um perfil daquele que considera um dos maiores poetas brasileiros. "Nascido na Fazenda Cabaceiras, Secéu, como era chamado entre os empregados e familiares, viveu seus 24 anos de uma forma tão efervescente que estes equivaleram a 90", ressaltou o parlamentar.


- Castro Alves nasceu na cidade de Nossa Senhora da Conceição de Curralinho (hoje Castro Alves) em 14 de março de 1847. Suas poesias mais conhecidas são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como "Poeta dos Escravos". Foi o nosso mais inspirado poeta condoreiro. Era filho do médico Antônio José Alves e Célia Brasília da Silva Castro, uma dona de casa de saúde frágil que veio a falecer em 1859.

Com a família, chegou a morar nas cidades de Muritiba e São Félix. Ainda garoto, conheceu Leonídia Fraga, um namoro de infância que reencontrou anos mais tarde. Com o avanço dos estudos, seu pai decide mudar-se com toda a família para Salvador.

No colégio ou em casa encontrou uma atmosfera literária estimulada pelo pai, que produzia oiteiros ou saraus, festas de arte, música, poesia, declamação de versos. Aos 17 anos fez as primeiras poesias. No dia 10 de novembro de 1863 teria recitado os primeiros versos em festa no Ginásio Baiano, fundado e dirigido por Abílio César Borges, o qual revolucionou a forma de ensino na Bahia ao premiar os alunos que mais se distinguiam na interpretação de Virgílio, Horácio, Camões, Lamartine e Vitor Hugo, o que fazia do colégio um viveiro de tribunos.


O pai do poeta casou-se pela segunda vez em 24 de janeiro de 1862 com a viúva Maria Rosário Guimarães. No dia seguinte ao do casamento, o poeta e seu irmão Antônio José partiram para o Recife onde Castro Alves tentou ingressar na Faculdade de Direito em maio de 1863, sendo reprovado, enquanto o pai se mudava para o solar do Sodré. Mas seria em Recife que o tribuno e poeta - sempre requisitado nas sessões públicas da Faculdade, nas sociedades estudantis, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações que começava a receber - ia sendo reconhecido. Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira, voz possante, dons e maneiras que impressionavam a multidão, impondo-se à admiração dos homens e arrebatando paixões às mulheres, encontrando aconchego na cama de Idalina. Ocorrem então os primeiros romances, que nos fez sentir em seus versos, os mais belos poemas líricos do Brasil.


Em 1863 a atriz portuguesa Eugênia Câmara se apresentou no Teatro Santa Isabel, frequentado por Castro Alves. Influência decisiva em sua vida exerceria a atriz, vinda ao Brasil com Furtado Coelho. Aos 17 anos é admitido na Faculdade de Direito ao tempo em que já se destaca de forma nobre na área literária por seu modo de traduzir as dores da humanidade. No dia 17 de maio, Castro Alves publicou no primeiro número de A Primavera seu primeiro poema contra a escravidão: A canção do africano. A tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma primeira hemoptise.


Em 1864 seu irmão José Antônio, que sofria de distúrbios mentais desde a morte de sua mãe, suicidou-se em Curralinho. Só retornaria ao Recife em 18 de março de 1865, acompanhado por Fagundes Varela. Em 10 de agosto, recitou O Sábio na Faculdade de Direito. Alistou-se a 19 de agosto no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai. Em 16 de dezembro, voltou com Fagundes Varela a Salvador. Seu pai morreu no ano seguinte, a 23 de janeiro de 1866. Castro Alves voltou ao Recife, matriculando-se no segundo ano da faculdade. Nessa ocasião, fundou com Ruy Barbosa e outros amigos uma sociedade abolicionista, participou da fundação do jornal de idéias A Luz e tornou-se amante de Eugênia Câmara, convencendo-a a fugir com ele de volta à Bahia.


PRODUÇÃO LITERÁRIA

Teve fase de intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma, social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados. Data de 1866 o término de seu drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado no Teatro São João, na Bahia, com Eugênia desempenhando o papel feminino principal e depois em São Paulo, no qual conseguiu consagrar as duas grandes causas de sua vocação. No dia 29 de maio, resolveu partir para Salvador, acompanhado de Eugênia. Na estreia de Gonzaga, dia 7 de setembro, no Teatro São João, foi coroado e conduzido em triunfo.


Em janeiro de 1868, embarcou com Eugênia Câmara para o Rio de Janeiro, sendo recebido por José de Alencar e visitado por Machado de Assis. A imprensa publica troca de cartas entre ambos, com grandes elogios ao poeta. Em março, viajou com Eugênia para São Paulo. Decidira ali - na Faculdade de Direito de São Paulo - continuar seus estudos, e se matriculou no terceiro ano. Continuou principalmente a produção intensa dos seus poemas líricos e heroicos, publicados nos jornais ou recitados nas festas literárias, que produziam a maior e mais ruidosa impressão; tinha 21 anos, e uma nomeada incomparável na sua geração, que deu entretanto os mais formosos talentos e capacidades literárias e políticas do Brasil; basta lembrar os nomes de Fagundes Varela, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Bias Fontes, Martim Cabral, Salvador de Mendonça, e tantos outros, que lhe assistiram aos triunfos e não lhe disputaram a primazia.


É que ele, na linguagem divina que é a poesia, lhes dizia a magnificência de versos que até então ninguém dissera, numa voz que nunca se ouvira, como afirmou Constâncio Alves. Possuía uma voz dessas que fazem pensar no glorioso arauto de Agamenon, imortalizado por Homero, Taltibios, semelhante aos deuses pela voz..., como disse Ruy Barbosa. Pregava o advento de uma "era nova", segundo Euclides da Cunha. Em 7 de setembro de 1868, fez a apresentação pública de Tragédia no mar, que depois ganharia o nome de O Navio Negreiro. No dia 25 de outubro, foi reapresentada sua peça Gonzaga no Teatro São José. Desfaz-se em 28 de agosto de 1868 sua ligação com Eugênia Câmara. Castro Alves foi aprovado nos exames da Faculdade de Direito e a 11 de novembro - tragédia de grandes consequências - se feriu no pé, durante uma caçada.


Tuberculoso, aventara uma estadia na cidade de Caetité, onde moravam seus tios e morrera o avô materno (o major Silva Castro, herói da Independência da Bahia), dois grandes amigos (Otaviano Xavier Cotrim e Plínio de Lima), de clima salutar. Mas, antes disso, ainda em São Paulo, na tarde de 11 de novembro, resolveu realizar uma caçada na várzea do Brás e feriu o pé com um tiro, ferindo o calcanhar esquerdo. Disso resultou longa enfermidade, cirurgias, chegando ao Rio de Janeiro no começo de 1869, para salvar a vida, mas com o martírio de uma amputação. Os cirurgiões e professores da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Andrade Pertence e Mateus de Andrade, amputaram seu membro inferior esquerdo sem qualquer anestesia.


Em março de 1869, matriculou-se no quarto ano do curso jurídico, mas a 20 de maio, tendo piorado seu estado, decidiu viajar para o Rio de Janeiro, onde seu pé foi amputado em junho. No dia 31 de outubro, assistiu a uma representação de Eugênia Câmara, no Teatro Fênix Dramática. Ali a viu por última vez, pois a 25 de novembro decidiu partir para Salvador. Mutilado, estava obrigado a procurar o consolo da família e os bons ares do sertão. Em fevereiro de 1870 seguiu para Curralinho para melhorar a tuberculose que se agravara, viveu na fazenda Santa Isabel, em Itaberaba. Em setembro, voltou para Salvador.


Nesse retorno à Bahia, passa o tempo a escrever, desenhar e onde também reencontra Leonídia Fraga, sua prometida de menino. Ainda leria, em outubro, A cachoeira de Paulo Afonso para um grupo de amigos, e lançou Espumas flutuantes, época em que se apaixona por Agnese Trinci Murri, italiana. Bela viúva e cantora lírica. Mas pouco durou. Sua última aparição em púbico foi em 10 de fevereiro de 1871 numa récita beneficente. Morreu às três e meia da tarde, no solar da família no Sodré, Salvador, Bahia, em 6 de junho de 1871sentado junto a uma janela ensolarada. Contava então com 24 anos. Seus escritos póstumos incluem apenas um volume de versos: A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e, mais tarde, Hinos do Equador (1921). É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras. "Castro Alves é alguém que podemos afirmar com ênfase que viveu cada momento de vida como se fosse o derradeiro", concluiu o parlamentar.