Por iniciativa da vereadora Aladilce Souza (PC do B), a Câmara de Salvador realiza na próxima quarta-feira, dia 10, às 9 horas, no Centro Cultural, uma audiência pública para debater a questão do "Atendimento ao parto em Salvador". O evento terá como palestrante a doutora Daphne Rattner, da área técnica de Saúde da Mulher, do Ministério da Saúde.
Segundo Aladilce, de cada 100 mil mulheres grávidas na Bahia, 113 morrem durante a gestação ou até um ano após o parto. Observa que geralmente são vítimas de problemas obstétricos como hemorragias, doenças hiperintensivas, infecções puerperais, consequências de abortos e descolamento de placenta.
O índice no Estado, ressalta, é 1.030% superior ao considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que estipula o índice em 10 óbitos para cada 100 mil gestantes.
Levantamento realizado por pesquisadoras do Grupo de Estudos sobre a Saúde da Mulher, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, no tocante à assistência ao parto em Salvador, ainda inconcluso, aponta algumas características da assistência nas maternidades públicas da cidade.
ESTATÍSTICAS
A professora e doutora Isa Maria Nunes, coordenadora do projeto de extensão "Espaço de Parto Alternativo", desenvolvido junto à Maternidade Tsylla Balbino, destaca seis questões:
1 - as gestantes são afastadas dos familiares e continuam sem a presença de um acompanhante, apesar da lei que garante esse direito;
2 - as gestantes procuram duas, às vezes três maternidades para serem atendidas, o que tem sido chamado de "peregrinação";
3 - o poder dos profissionais de saúde sobre o corpo e o comportamento das parturientes se evidencia pela falta de respeito, explicitada através de comentários depreciativos, demonstração de desinteresse e pouco caso com as reações emocionais das mulheres, além de pouco cuidado com a privacidade e a necessidade que as parturientes têm de serem informadas sobre a sua evolução;
4 - medidas simples, capazes de promover o conforto e diminuir a dor no trabalho de parto, não são implementadas como deveriam. Utiliza frequentemente recursos intervencionistas para encurtar o tempo de trabalho de parto;
5 - as parturientes não estão tendo acesso a analgesia para o parto normal, apesar de haver cobertura desse procedimento pelo SUS, o que ajudaria um significativo percentual de mulheres, para as quais o trabalho de parto significa um sofrimento desesperador;
6 - pratica-se uma assistência ainda centrada nos procedimentos médicos, subutilizando-se a participação, por exemplo, das muitas enfermeiras capacitadas, inclusive com recursos públicos, as quais, juntamente com a equipe médica, podem redirecionar o modelo de cuidado prestado.
Partos pelo SUS
O número de partos naturais e cesáreos realizados em maternidades públicas na Bahia, em 2008, alcançou 171.159 nascimentos. Destes, 46.064 foram pelo método cesáreo. Em Salvador: 16.695 partos normais e 7.505 cesáreos.