Veja mais uma estripulia de Renan Calheiros
No papel, a empresa KSI Consultoria e Construções Ltda. tem sede (em Pernambuco) e filial (em Alagoas), dois proprietários e capital social de R$ 600 mil. De fato, ela nunca existiu. Mesmo assim, recebeu dos cofres da União R$ 280 mil - a última parte acabou de ser liberada -, por meio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), com verbas oriundas de uma emenda parlamentar do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O verdadeiro proprietário da empresa é um ex-assessor de Renan, José Albino Gonçalves de Freitas, que transita entre Brasília e Alagoas. O responsável pela contratação foi o filho do senador, Renan Calheiros Filho (PMDB), que é prefeito de Murici (AL).
O convênio nº 1.197/04, entre a Funasa e a Prefeitura de Murici, mostra que a KSI foi contratada para construir 28 casas pelo programa de combate à doença de Chagas. Nesse programa, a fundação vinculada ao Ministério da Saúde repassa recursos da União para as prefeituras, que contratam as executoras das obras.
Nessa triangulação entre o senador, seu filho e a empresa fantasma do ex-assessor, o contrato foi assinado em 2005, mas é referente a uma emenda de R$ 280 mil apresentada por Renan ao Orçamento da União de 2004. A Prefeitura de Murici ainda entrou com uma contrapartida de cerca de R$ 4.500.
EX-ASSESSORAlbino, como é conhecido o ex-assessor de Renan, é tratado no meio político alagoano como lobista e pessoa que foi muita próxima do senador. Entre 1999 e 2002, ele teria atuado como negociador das emendas parlamentares de Renan com empresas e prefeituras (leia na página A6).
A KSI, criada em 2001, amealhou cerca de R$ 1 milhão dos cofres federais por meio de convênios com cinco prefeituras do interior de Alagoas em menos de dois anos sem sequer ter uma sede.
O ex-assessor nega que seja o dono. Diz apenas que recebeu uma procuração do verdadeiro proprietário para fazer uma obra na cidade de Paripueira, onde seu filho José Albino Gonçalves de Freitas Júnior é vereador. Em conversa telefônica com a reportagem, Albino chegou a admitir que abriu a firma para fazer algumas obras, mas garantiu que ela está inativa. Depois, numa segunda conversa, mudou a versão.
Apesar de ele e o filho nunca terem figurado como donos da empresa, Albino Júnior assinou pela KSI um extrato de contrato de R$ 306,3 mil com a Prefeitura de Feliz Deserto, publicado em 2004, para obras custeadas pelo governo federal.