Política

PEDRO SIMON DIZ QUE GOVERNO INTERFERE NA DECISÃO FINAL DO JULGAMENTO

A votação do caso Renan Calheiros começará às 11h
| 12/09/2007 às 10:01
O senador Pedro Simon, do PMDB/RS, figura histórica do parlamento (Foto:BJ)
Foto:
  Próximo de votar o processo que pode cassar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Pedro Simon (PMDB-RS) critica a interferência do governo na decisão final de parte dos colegas.


   Destaca que a crise afeta diretamente a imagem da Casa, em outros anos arranhada por escândalos que envolveram Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho.

- Alguns senadores estão se entregando, esquecendo de votar com sua consciência para atender ao apelo de ficar bem com o governo - diz Simon.
 

  Parlamentar histórico do PMDB, mesmo partido de Calheiros, Simon acredita que a renúncia à presidência do Senado em troca da absolvição reflete a influência do Planalto para salvar um aliado. Ele lembra ainda que as experiências de outras crises provocaram mudanças no regimento, que não permite mais a renúncia de um senador depois de o processo passar pela Comissão de Ética.


  Hoje, em votação secreta, os senadores votam o pedido de cassação de Renan Calheiros, por quebra de decoro. Para ser aprovado, é necessário o apoio de 41 dos 80 votantes.
 
   ENTREVISTA AO

   TERRA MAGAZINE

- Não tem mais (saída). Agora é a decisão no voto - afirma o senador gaúcho.

A seguir, a íntegra da entrevista.

Há acordos para o senador Renan Calheiros ser absolvido e, depois, deixar a presidência do Senado?
Vai ser votada hoje a cassação. Depois da Comissão de Ética, ela veio pro plenário e agora o Senado se transforma num verdadeiro tribunal. Nesse caso, o que acontece é que o governo está interferindo, querendo salvar o mandato dele. De outro lado, ele próprio tenta se salvar. E conta com a votação secreta.

Há um grupo de senadores que quer modificar o regimento interno, para abrir a sessão...
Sim, e tem também a requisição do deputado do Rio, o Fernando Gabeira (PV), que quer assistir à sessão. Ele e um grupo de deputados. Isso vai ser votado hoje. Mas o que tem de errado é a pressão, é cobrar o voto de senadores. Alguns senadores estão se entregando, esquecendo de votar com sua consciência para atender ao apelo de ficar bem com o governo, que vem interferindo...

O senhor se refere, também, à visita a Renan do ministro da Defesa, Nelson Jobim?
Aquilo ali, a informação que eu tenho é que o presidente do Senado queria recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) pra ganhar tempo. Aí o Jobim disse a ele que o STF tá em lua-de-mel com o povo, iria negar de imediato. Então, ele tirou da cabeça do Renan essa idéia. Foi a partir dali que o Renan começou a correr, tanto que tudo foi votado rapidamente na Comissão de Ética e na Comissão de Constituição e Justiça.

Qual seria a melhor saída para Renan?
Não tem mais. Agora é a decisão no voto. A decisão era de renunciar, sair fora. Devia renunciar à presidência antes da abertura do processo, ganharia talvez mais gente. Renunciar agora é tarde.

Novamente, a imagem do Senado sai mal?
Ruim. Tô chegando de Minas, Belo Horizonte... Sempre se falou mal do Congresso, mas agora é só a história do Senado e do Renan. A figura do Senado sai muito mal.

O senhor atravessou várias gerações no Congresso. Há uma queda do nível dos senadores?
Você note que é o terceiro presidente do Senado que a gente está pra afastar. Houve o episódio de Antonio Carlos Magalhães, que só não foi cassado porque renunciou antes. Renunciou, acabou. Teve também o Jader Barbalho, presidente da mesa, que seria cassado. Mas isso não gerou um clube de compadres porque mudamos a legislação. Renan, por exemplo, não pode mais renunciar. Mudamos as regras. Só podia antes da decisão da Comissão da Ética de aceitar a denúncia contra ele. Não é mais possível, houve essa mudança.

Mudou pra melhor, então?
Aconteceu com Jader, Antonio Carlos... Renan pode renunciar, mas não adianta nada, vamos votar do mesmo jeito. Ele pode é renunciar à presidência, pra amolecer os votos de alguns senadores. E isso ele não quer.