Veja o que acham os políticos
Ao descartar a hipótese de disputar um terceiro mandato, o presidente Lula abriu, com antecedência de três anos, a corrida presidencial dentro da base do governo. Na entrevista ao Estado, Lula disse que vai trabalhar para que a coalizão tenha um candidato único. Mas políticos aliados prevêem que o número de candidatos chapa-branca que disputarão as próximas eleições deve ser um dos maiores da história.
Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a entrevista foi esclarecedora. Ele acha que, diante da indefinição e desorganização da oposição, o "queremismo" em torno da figura de Lula poderia se transformar em tentação da base para uma terceira candidatura do presidente. "O presidente revelou o que já tem dito na intimidade: nem me peçam. Uma coisa é ouvir dele na intimidade e outra é ouvir publicamente, na entrevista."
"Devemos buscar candidatura única e reconheço que não será fácil. A dificuldade, porém, não deve fazer com que desistamos de tentar, de sentar e conversar", avaliou o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP). O partido acredita que será o principal beneficiado da tese da candidatura única. "O presidente Lula tem nos ouvido com freqüência, portanto, não nos surpreendeu. Ele tem nos tratado como os integrantes da coalizão esperavam", elogiou Temer.
PULVERIZAÇÃO
Na quarta-feira, a pedido de Lula, ele reuniu em sua casa os presidentes e líderes do partido de sustentação ao governo para discutir as eleições municipais. "O presidente Lula tem nos incentivado a sentar e conversar sobre a disputa do ano que vem. Isso é muito positivo", afirmou. Temer explicou que a principal preocupação é evitar que haja uma pulverização das forças que apóiam Lula.
O deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) considera a candidatura única em 2010 "o caminho mais sensato a seguir" e advertiu que a costura dessa aliança precisa começar já, paras eleições municipais. Mas reconheceu que não será "um processo fácil", por causa de "disputas regionais difíceis de serem vencidas." Ele afirmou que o PT precisa ter a "grandiosidade' de abrir mão de lançar candidato próprio caso outro partido da base aliada apresente um nome que tenha mais chances de vitória".
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) também elogiou a proposta de candidatura única. Mas disse que "não é uma tarefa das mais fáceis" e o nó da questão será definir que partido terá a cabeça da chapa. "Eu entendo que o PT pretende lançar alguém. Mas acho que precisa ser feito um esforço para ajustar a aliança, mantê-la coesa. Se não for feito um trabalho nesse sentido, alguns partidos podem se desgarrar."
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), viu com naturalidade a declaração de Lula sobre não entrar na disputa de 2010. "Sempre confiei que o presidente respeitaria as regras, como sempre declarou." O deputado avalia que a candidatura única não será fácil para a base aliada. "Mas acho que é possível. Isso dependerá principalmente do desprendimento do próprio PT." Monteiro Neto disse que, "até pelo peso que tem", não é fácil imaginar que o PT abra mão de ter candidato.