Ministro Vieira Lima,
Você não fala em meu nome nem do meu partido. Não lhe dei procuração para tal nem confiança. Não preciso repetir que não tenho o perfil de virafolha contumaz que a Bahia lamentavelmente se acostumou a ver em você. Nunca tratei de minha filiação ao PMDB. Quem decide minha vida partidária e política sou eu. É o que mostra a minha história e trajetória.
Tenho partido, o PSDB, e orgulho-me dele. Assim como tenho posição, respeito próprio e dos meus companheiros de partido, da administração municipal e da sociedade baiana.
Imagino que você só podia estar em algum delírio de grandeza ao se referir à minha pessoa e a um suposto veto seu à minha entrada em seu partido. Um ingresso de que não trato, não tratei e não trataria com você por vários motivos.
Um deles, entretanto, gostaria de frisar. Não mudo de lado ao sabor das minhas conveniências nem de interesses pessoais. É verdade que deixei o PMDB em direção ao PSDB em 1998, quando o PMDB se entregou, por suas mãos, num episódio que toda a Bahia conhece, a forças historicamente adversárias.
Ao contrário de você, cuja voracidade por cargos e poder não tem limites, posso sair da Prefeitura como entrei. Com despreendimento e, sobretudo, a cabeça erguida, além de serviços prestados, reconhecidos por meu partido e minha cidade.
Falo com legitimidade como Secretário Municipal de Transportes e Infra-Estrutura, onde cheguei depois de uma campanha vitoriosa de João Henrique à Prefeitura, apoiada desde o primeiro momento pelo meu partido, campanha da qual fui presidente da coligação e coordenador.
No ano passado, assistimos a você e a seu partido desesperados tentarem ocupar a vice na chapa do então candidato a governador Paulo Souto, mesmo depois de terem sido completamente enxovalhados, durante anos, por seu grupo. Pior foi saber que seu pleito foi rejeitado pelo governador por seu histórico de conduta e biografia.
Portanto, quero deixar claro que seu partido, sob o seu comando, não me interessa nem nunca me interessou.
Nestor Duarte Neto
COMENTÁRIO
BAHIA JÁ
Óbvio que uma carta dessa natureza terá resposa de Geddel.
Mas, para lembrar aos nossos leitores, todo esse problema foi criado pelo prefeito João Henrique (PDT), o qual, nas últimas semanas, tem apresentado propostas inusitadas no meio político baiano e decidiu, depois de consultar o governador Jaques Wagner (PT) dando conta de que gostaria de entrar no PT (prioritariamente) ou no PMDB (em segunda instância).
Como recebeu um veto do PT, salvo se quizesse ingressar na fila dos candidatos a sua própria sucessão, em 2008, anunciou seu ingresso no PMDB, sem avisar ao PDT, PC do B, PSB, PSC, mas, ao mesmo tempo só revelou seu desejo à imprensa.
A rigor, ainda não se filiou ao PMDB exatamente porque, como revelou A Tarde de hoje, Geddel cobrou a fatura, a primeira delas, exatamente as secretarias comandadas por Nestor. E quer mais: dizem que a do Planejamento e a Sucom.
Está, portanto, criado o impasse. O que vai acontecer, sabe Deus.
A julgar pelo projeto político pessoal do prefeito, Nestor está na frigideira em fogo alto. Mas, como diz na carta a Geddel, sairá de cabeça erguida.