"Mesmo depois de todo este tempo, jamais me senti bem-vinda aqui. A constante impressão que tenho é de que a qualquer momento podem decidir me mandar embora", confessa a senhora. "Na vizinhança, me relaciono muito bem como todo mundo, me sinto em casa. Mas os franceses. É difícil, toda a vez que preciso do governo ele não está muito disposto a me ajudar em nada."
Outros, como o filho de imigrantes argelinos Mohammed - que, como Grami, não quis revelar o nome completo - julgam que a guerra contra o preconceito aos estrangeiros na França ainda não está perdida, mas para isso os socialistas têm de conseguir chegar novamente ao poder.
"Mesmo para os imigrantes legais, com toda a documentação em ordem, não é nada fácil encontrar um emprego que pague bem. Então o que acontece? A gente precisa arrumar alguma coisa para vender na rua e complementar o orçamento, porque aqui imigrante não consegue subir na sociedade", disse o vendedor, confiante de que "o povo francês vai fazer a escolha certa desta vez".
No momento em que Mohammed dizia isso, uma mulher que observava os objetos à venda interrompeu a conversa e questionou, com um francês impecável: "você não está com medo de hoje à noite?", ao que o vendedor respondeu "não, não tenho medo. Os franceses no fundo se envergonham desse preconceito e acho que desta vez será diferente".
A imigração em números
Na França, 8% da população é de origem estrangeira. Dos 4,9 milhões de imigrantes, cerca de 40% tem nacionalidade francesa, obtida através de filiação ou de casamento.
Um bebê nascido na França e filho de estrangeiros não tem direito de obter a nacionalidade francesa. A maioria dos imigrantes vem de países africanos (2,2 milhões), seguidos dos que vem da própria União Européia (1,7 milhões).
Redação