Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LOBI de Serrinha quer contratar babá e não bate panelas para Dilma

Lobi garante que a inflação na Serra é menor em qualquer parte do Brasil e sua esposa Ester só gasta R$20,00 no restaurante mais chique da cidade
24/08/2015 às 10:37
Fomos convidados e até incitados - eu e minha esposa Ester Loura - a bater panelas contra a presidente Dilma, mas, não aderimos justo porque minha dispensa está repleta do básico - feijão-de-corda, farinha, carne seca, arroz, toucinho, cebola branca, cebola roxa, quiabo, maxixe e muitos outros produtos.

  E isso vem desde a época da República Velha, nos idos de doutor Washington Luis e depois no tempo do presidente GG, o qual viciou-me em charutos, melhorou bastante no momento glorioso do Brasil 50 anos em 5 do saudoso JK, derrapou na época do bigodudo Zé Ribamar, quando a inflação era 9% ao dia, não como agora que são 9% ao ano, e sobrevivi em todas essas crises, criei e eduquei os filhos, netos e bisnetos.
   
   Daí que se hoje a coisa não está boa como deveria, está melhor do que no passado recente. Ainda mais que estamos usufruindo do Bolsa Familia, minha netinha Sol se beneficiou do Fies e do Prouni, e a inflação aqui na Serra é diferente da capital da Bahia e muito menor do que na capital artificial da República.

   Se o kilo do tomate na cidade do Salvador custa R$5.40 aqui custa R$2,00 a sacolinha plástica e contém mais de 1k; se o corte de um cabelo no Sêo Pierre lá no Shopping Barra custa R$45,00 e se o camarada for fazer barba, bigode e cabelo tem que marchar com R$90,00 fora a gorjeta, aqui no Salão de Soté aparo meus pelos por R$30,00 - barba, bigode, cabelo, ajuste nos cabelos das ventas e dos ouvidos e talco Gessy no cangote.

   Tanto que gostaria até que Mr Levy viesse aqui na Serra pra ele verificar que a crise que tanto se fala lá em Brasília, aqui não existe.
 
     Esta semana fui no mercado de Sêo ZéValdo e comprei um saco de farinha, da boa, a melhor que compadre Anselmo vende, por R$120,00 com o litro valendo R$2,00. Isso dá pra eu e a Ester e mais convidados que frequentam minha casa nos sábados e domingos, filhos e netos, comer por 90 dias, na base de meio litro por dia - nos normais - e nos finais de semana - 1 litro. 
  
   Pois, lá em Brasília, naqueles restaurantes frequentados pelos politicos R$120,00 é uma entrada de carpaccio e diz-se que consomem garrafas de vinhos, as mais caras, que não sei nem soletrar o nome, um tal 'Ró-Mané Konti' custam R$5 mil cada uma delas.
 
    Isso sem contar que tem dias que como uma raposinha, um moerceguinho frito, uma traira do Açude da Cabeça da Vaca bichinhos que eu mesmo caço e pesco. Adoro um morceguinho frito no toucinho tomando uma pinga daquele barbudo de Minas, a Seleta, que compro lá no Baratão de Sêo Marcel, fiado, na caderneta pra pagar no final do mês.

   Aqui, nos lugares mais chiques da Serra (e a Ester agora deu pra se reunir com as amigas no Japa do Shopping para apreciar yahishoba e hot-roll) é tudo mais em conta do que se fosse num restaurante de São Paulo, num daqueles sabichões do Master Chef, que cobram os olhos da cara. 

   A cota de dona Ester no Japa, dividindo com as amigas, contando um combo de salmão e um vinho Salton da melhor qualidade é R$20,00 para cada. Imaginem se fossem fazer uma farra dessas no Almanara de SP iam deixar as suas jóias adquiridas em Manoelito dos Anéis empenhadas.
   
    De sorte que não vou bater panela para dona Dilma de forma alguma e acho até que ela deveria também vir aqui na Serra pra verificar essa situação, que a gente vive melhor do que em Brasília, melhor do que em Paraisópolis ou no Morumbi; melhor do que naqueles favelões do Rio de Janeiro ou no Leblon, onde compadre Ubaldo (que Deus o tenha) frequentava um boteco que não chega ao chulé do nosso Buteco do Teco.
Nossa inflação é diferente; nossa fartura é maior do que em qualqur outro lugar tanto que tenho uma irmã que reside na Casa Rosa da Chapada, uma rocinha que produz maxixe, abóbora aos montes, ovos a perder de conta, cozinha-se em panela de barro na trempe; aqui na Serra ninguém tá desempregado e os que não querem trabalhar a gente já conhece são uns preguiçosos; não há crise na Prefeitura tanto que o alcaide despacha no shopping, isso é público e notório; e como a situação está tão boa decidi - sem comum acordo com Ester - convidar aquela moça da Califórnia, Christine Ouzounian, a babá do artor Ben Affleck a qual, dizem as más linguas, quase desmancha o casamejnto de Gisele Bündchen para vim cuidar dos netinhos do Afonsino, meu filho, meninos que só andam qui no sitio.
   
   Quando falei isso para Ester foi um pavoeiro: - Aquela sirigaita não entra aqui de jeito algum. Só passando por cima do meu cadáver - falou igual soror Joana Angélica.
  
    - Qué que tem. A moça vai tomar conta dos meus netinhos menores - o Kelzinho e a Luluba - e poupará seu trabalho.
   
   - Você está querendo é um rabo de saia aqui em casa e isso não admito. Já temos Ju Fraldas na cozinha e está de bom tamanho.  
  
    - Que rabo de saia pelo amor de Deus se já tenho você, se estamos casados há mais de um século. Ninguém jamais vai nos separar, driblei a conversa.
 
    - Mas que ela fique lá bem longe com Sêo Affeck, com Sêo Tony Brady, com Sêo Robin William, agora, aqui em casa nem pensar.
  
    - Olhe não seja intrasigente senão você ficará de fora do Encontro dos Amigos de Serrinha que vai acontecer em Salvador no Restaurante Grande Sertão.
   
    - Pouco faço questão de ir. Lá só tem o filho de Sêo Benidito da Marcenaria falando pelos cotovelos e um monte de velhas. Tô fora - arreliou.
   
   - Velhas! Tem são gatas. Imagine você falando de velhice com seus quase 187 anos! Só rindo.
   
   - Tô em cima e ninguém bate em Esterzinha assim não - mostrou o par de coxas lanzudas em minha cara, rodou a baiana e foi aviar os tempos com um almofariz de madeira.
 
     Mais não disse de ousadia, só confirmando que iria mesmo contratar a babá da California, custasse o que custasse, quando vi Ester se irritar, se avermelhar, mostrar os caninos e lançar o machucador do almofariz em minha direção só dando tempo para me abaixar. 
  
     O machucador bateu num abajour de sisal que havia posto na sala, a lâmpada estourou e chamas apareceram.

      - Corre que a casa vai se incendiar - foi ela mesma que gritou.
 
     Minha sorte foi que nessa hora vinha chegando Sêo Joseval do Violão para me entregar o coinvite pra o Encontro dos Amigos de Serrinha e ajudou-me a encher uma bacia com água e apagar o fogo.
 
     Veja, pois, o que não faz uma babá! Na dúvida, nunca contrate uma babá boazuda. Perifa as mirradas, doquinhas de preferência.