Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LOBISOMEM DE SERRINHA tem receita para implante na careca de Dr Renan

Pelos do lobi da Serra são usados em vários implantes com o maior sucesso
07/01/2014 às 12:05
Nesta primeira semana do ano, como faço há décadas, regularmente, fui a Barbearia de Soté cortar o cabelo e aparar o bigode e dei foi risadas quando soube que o doutor Renan, presidente do Congresso Nacional se utilizou de um avião da FAB, boca livre, para uma viagem a Recife com o fito de fazer um implante capilar.

   Soté me explicava que lera em A Tarde que o "home" depois de descoberta mais esta estripulia com o dinheiro público, o seu, o meu, o nosso capilé, prometeu devolver a bagatela de R$28 mil da viagem, fora, evidente o tratamento do implante que, se supõe o camarada deve ter pago do seu próprio soldo.

   Soté, que só corta cabelo e afeita barba, diz que se doutor Renan conhecesse o cabeleireiro Sinésio, o qual atua na Rua da Rodagem poderia ter feito seu transplante em Serrinha que seria bem mais barato. 

   Era só pegar um avião da carreira até Salvador, daí até a Rodoviária num buzu da Dois de Julho, seguindo para a Serra no ônibus da São Matheus, sendo atendido com consulta marcada  pelo telefone na hora certa.

   - Não é isso Lobi?  perguntou-me jogando um verde, pois, sabe que forneço os pelos a Sinésio nesse trabalho de cunho social.

   - É. Inclusive já vendi nacos de minha cabeleria para o implante de alguns casos, com absoluto sucesso.

    Soté ficou curioso, alongou a conversa e perguntou como são feitos os implantes.

   - É fácil. Ele retira pelos de minha cabeça, que os tenho em excesso, seleciona dezenas deles, cataloga, classifica, mede, submerge em infusão e depois implanta na cabeça do cliente usando um produto feito a base de leite de mangaba e cola de sapateiro.

    - E não inflama, não dói nada?

   - Coisa alguma! O homem é prático. Primeiro ele dá uma mão de cola na careca do cliente. Depois, usa umas pincas, vai fazendo pequenos cortes na cabeça do nego e cola os fios de cabelo numa boa. Depois é só recomendar que o camarada não tome sol na cabeça nem banhe o local por 15 a 20 dias, que não faça uso de bebidas alcoólicas, que se abstenha de sexo por 30 a 40 dias para que não haja alguma errupção vulcânia, e pronto. Os fios dos cabelos vão crescendo e o camarada fica lindão.

   - Que coisa, admirou-se Soté. E vosmincê conhece alguma pessoa que tenha feito esse tipo de transplante.

   - Se conheço! Vários. Zezitinho do Saco, Armando Pintor, Pedro Chibarra, Miguelzinjo Aboiador e outros. Inclusive esse Miguelzinho era careca de ponta a ponta e ficou cabeludo, assim parecendo comigo.

   - Mas, duvido que doutor Renan, que é um homem fino, um homem estudado, um político de escol, fosse topar uma proposta dessa natureza, comentou Soté.

   - Se ele iria ou não topar seria problema dele, agora, que o método é eficiente, isso não tenho dúvidas. Ademais ele ficaria com pelos de lobi e nós temos uma longa tradição de lanzudos e jamais ficaria careca de novo.

    - Uma coisa assim feito Toni Ramos, apimentou a conversa Soté.

    - Toni Ramos é fichinha para nós. Quando vou ao Jorrinho tomar banho de bica e me apresento de sunga a mulherada fica é doida com meu corpo lanzudo e muitas veem até minha pessoa tirar fotos para recordações.

   - Não acredito! admirou-se o barbeiro.

    - Não acredita! Lhe mostro aqui no celular várias fotos. Outra coisa, eu e Sinésio já temos convites para fazer implantes na Europa e nos Estados Unidos. Ainda não fomos porque o barbeiro tem medo de viajar de avião, senão a gente estaria era rico. Nem de carro ele gosta de andar, só de bicicleta.

   - E quanto custa um transplante feito aqui na Serra, no salão dele?

   - Lá é bobagem. Ele cobra R$70,00 se o camarada levar os aviamentos, 4 litros de mangaba devês, um k de cola de sapateiro e um picel. Se tudo for por conta dele fica na base de R$150,00 e mais R$12,00 de uma touca que ele criou, de plástico, para a pessoa usar durante 72 horas no pós-operatório, frisei.

   - Na Europa vocês iriam ficar era ricos, comentou Soté.

   - Na Europa, nem diria porque o povo de lá tá meio quebrado. Agora, nos Estados Unidos, onde tem doido pra tudo, a gente iria era lavar a jega, como se diz por acá.

   - Mas lá não tem mangaba.

   - Isso é de menos porque a gente levava daqui. Nos taboleiros da Mombaça o que não faltam são mangabas. Poderiamos, inclusive, produzir uns potinhos de mangaba made in Serrinha especiais para implante de cabelo em carecas. Já imaginou isso Soté! Serrinha iria ser manchete no mundo.

   Nisso o meu celular tocou e era Sinésio informando que teria um novo cliente na próxima semana. 

   - É o doutor Renan? perguntou Soté de pilhéria.

   - Nada. É um cliente do Lamarão, gente pobre e esse é um trabalho social que fazemos e não cobramos nada. Agora, sobre os potinhos de leite de mangaba para carecas já temos até um empresário, um ex-aposentado da Petrobras de nome Gaita que estaria disposto a investir no negócio.
- Conheço ele, é empreendedor, disse Soté.

   - Você também não quer entrar no negócio?, perguntei ao barbeiro.

   - Deus me livre. Isso vai dar é o maior rolo e prefiro terminar meus dias aqui na barbearia. Por sinal, hoje, caprichei no seu cabelo e no bigode, comentou Soté passando talco no meu cangote e dizendo que o serviço havia acabado.

    - Quanto devo ao nobre barbeiro?

   -  Paga R$10,00 pelo cabelo e R$8,00 pela barba, aduziu.

   Puxei uma pelega de R$20,00 novinha e disse: - Os R$2,00 fica de gorjeta. Passar bem...vai-se morrer pobre, falei resmungando. 

    Nisso o meu telefone tocou e era Sinésio, de novo, dizendo que um tal de doutor Renan queria falar conosco.