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Lobisomem de Serrinha

CAUSO: LOBISOMEM DE SERRINHA desiste de jatinho FAB para ir a casório

Lobi reúne Conselho Político e mesmo tendo direito, como todo brasileiro, a voo nos aviões da FAB desiste do pedido
13/07/2013 às 13:20
Diante do noticiário da imprensa dando conta de que babás de um governador viajam para Mangaratiba de helicóptero, que "juquinha" o cãozinho do filho do "home" também desfruta dessa mordomia, e que altos figurões de República Verde Amarelo usam e abusam de aviões da gloriosa FAB para irem a casamento e jogos de futebol, como a FAB liberou nota afirmando que qualquer brasileiro pode usar seus voos, de graça, decidi solicitar um jatinho para voo a Ilhéus.

   Mas, ainda assim, convoquei nosso Conselho Comunitário e Politico, constituido pelo botequier Teco, pelo vereador Reizinho, pelo servidor do das leis Tolentino Caneco, por el gourmet Pinguinha, por dona Ó Santa, pelo empresário Alírio Vermelho e por minha esposa dona Ester Loura, a qual funciona como secretária e elabora a ata, e debatemos a solicitação do jatinho da FAB para, em comitiva, comparecermos ao casamento da irmã do conselheiro do Bahia, Mendes Jr, isso em reunião realizada na sala da Filarmônica 30 de Junho.

  Caneco, o qual é prático em leis, ponderou que a causa era justa, mas, a finalidade, não condizia com a formulação do pedido, entendendo que um casamento não tem nada de oficial, de qualquer sentido cívico, daí que a FAB poderia negar o pedido. E, adrede, comentou, que a Associação dos Amigos do Lobisomem de Serrinha (AALS), não poderia por a termo o pedido, dado que, embora fosse um ente filantrópico e que ajuda familias carentes no Bairro da Rodagem não era oficial, não tinha chancela para tal.

   - O correto, comentou Caneco, seria um pedido da Câmara dos Vereadores ou da Prefeitura Municipal.

   Foi ai que Ester me lembrou que eu fora contemplado com o título de cidadão de Uruçuca, cidade próxima a Ilhéus, e que, em tempos idos, na gestão de Dr João Barbosa, fora vereador pelo PSD, daí que, evocando essa condição poderia solicitar a Câmara um oficio para a FAB, com o fito de receber a comenda uruçucense.

   Consultado a se pronunciar, o vereador Reizinho tomou a palavra pelo rabo e disse que achava dificil que o atual presidente da Casa, imbuido nos principios da moralidade, assinasse tal oficio e que ele, no máximo, poderia fazer uma consulta informal ao dito, mas, jamais, em tempo algum, colocaria sua assinatura num pedido dessa natureza porque mancharia sua imagem para sempre.

   Alírio Vermelho, o qual tava bebericando umas e outras, disse que não via nada demais no pedido, que se o presidente do Senado viajou para Porto Seguro, que era mais longe; que se doutor Garibaldi foi de Natal ao Rio que era uma eternidade, nada demais que a gloriosa FAB forcesse um jatinho para o convescote.

   Ester também lembrou de minha patente de ten-coronel da Guarda Nacional, título conferido por Getúlio Vargas a minha pessoa e ao então coronel Pinheiro da Motta, entendendo que eu fora um desbravador dos sertões, um patriota nato, daí que, nada mais justo para tal pedido, "merecidíssimo", poderou.

   Pinguinha lembrou, no entanto, que o Brasil agora era outro, o povo estava nas ruas, seu filho, por sinal apelidado de Juquinha (lembrou que não tinha parentesco com o governador do Rio) participara de uma passeata na Praça Morena Bela exigindo melhor educação, mais saúde para o povo, e que o melhor seria alugar a van de João Miligancho, fretar o carro e ir a Ilhéus sem precisar de zorra de governo algum.

   Alirio bateu pé firme: - Sou empresário, pago meus impostos em dia, sou um agente produtor da Nação, tenho calo nas mãos, portanto, se está todo mundo usando jatos na "ilha da fantasia" nós também temos direito.

   A reunião só não prolongou noite à dentro porque quando os debates estavam bem acalorados chegou a noticia dando ciência de que um avião caira nos Estados Unidos, em San Francisco, com dois mortos e centenas de feridos.

   Teco disse logo: - Depois dessa noticia eu prefiro nem ir nessa viagem, ainda mais que, recentemente, ganhamos, yo e dona Célia, um netinho.
- Bobagem, se tiver que morrer morre como o homem de Caratinga que estava dormindo em sua casa e uma vaca cai no telhado casa e o matou, comentou Ó Santa.

   Democraticamente sugerir uma votação de viva voz. Feita a contagem deu 4x4 votos, empate.

   Diante do impasse soletrei então os termos finais da ata para alinhavo de dona Ester, sendo assim posto: "Que o Conselho decidiu suspender o pedido do jatinho da FAB, considerando, sobretudo, o novo momento de austeridade em que vive o país, que um oficio ainda assim seria mandado ao CAN deixando em aberto o uso do avião noutra oportunidade, de maior relevância, e que seria alugada o carro de praça de Sêo Joaquim para a viagem a Ilhéus, sendo a comitiva reduzida ao casal consorte o Lobi e dona Ester, e o gourmet Pinguinha, com despesas pagas pela AALS.

    E nada mais tendo a acrescentar todos assinaram o documento.