Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LOBISOMEM DE SERRINHA narra como funciona a UTI na sua localidade

Lobisomem conta que na Serrinha UTI é ambulância e pelo menos a população está livre de algum doutor que desliga aparelhos antes da hora do amém
27/02/2013 às 17:53
Nesse período da quaresma após o Ângelus com proximidade da semana santa cria-se sempre uma expectativa em nossa familia diante da difusão caluniosa dando conta de que pessoas que passam em áreas onde jumentos se espojaram e/ou batem nas mães, viram lobisomens, o que é uma tremenda injustiça com a nossa linhagem secular.

   É por essas e outras que me afastei momentaneamente das atividades sociais e sequer compareci ao Carnaval, ainda mais quando soube desse caso da netinha de Cobilândia, Vila Velha, ES, que prendeu a avó Judith Kosken de Souza para brincar a folia.

   Em meus longos anos de vida nunca ví nada igual. E, se já detestava o Momo, que considero uma festa do Demo, a cada dia me ligo mais no movimento de retorno do Cristo, que está próximo, tanto que Nostradamus previu essa chuva de meteoritos que está caindo na Rússia e na terra, e a renúncia do santo padre Bento XVI.

   Aqui na Serra nunca tive conhecimento de alguma netinha que tivesse acorrentado a vovó, porque acá é uma terra santa, protegida por senhora Santana, e propagandea-se que tem caído alguns meteoritos, ultimamente, e soube de uma vizinha nossa no Bairro da Bela Vista que estaria vendendo pedritas por R$100,00 cada uma delas, dizendo que é fragmento de meteorito.

   Também fiquei assustado com esse causo da médica de Curitiba, essa doutora Virginia Soares que teria mandado para a Casa do Senhor, antes da hora, pacientes que monitorava na UTI de um Hospital Evangélico, justo que prega o evangeliário de Mateus, Lucas, João e Pedro.

   E o que foi ainda pior (ou melhor) essa dita doutora teria despachado seu próprio marido para a Casa do Pai Eterno porque o camarada demorava de estirar as botas. Imagino que um parente nosso do ramo dos "colberzões", que tem um primo doutor, deve estar indignado com tal comprtamento dessa médica.

    Aqui na Serra os causos são muitos, mas, noutra direção, porque desde a fundação de nossa cidade, nunca tivemos uma UTI e olhem que quando cheguei por aqui, ainda rapaz nos meus 70 anos, isso no tempo de Dr André, de Dr Vilalva, do farmacêutico Sêo Leobino e da farmácia de Sêo Trasybulo, pouca coisa mudou, tanto que já estou passando dos 200 anos, com cabelos brancos, vendo a hora da minha partida, e até então continuamos sem UTI.

   Teve um tempo que nossa UTI era o trem da Leste, o Pirulito, que só passava meia noite em direção à capital. Quem era levado para Salvador, nas últimas ou nas penúltimas, às vezes morria antes de chegar em Alagoinhas e os parentes do tal tinham que desembarcar na Estação São Francisco, com o defunto a tiracolo, esperando o trem que só voltava no dia seguinte, para o devido sepultamento na Serra. 

   Vocês podem imaginar o transtorno que isso representava, a familia, lá em Alagoinhas sentado num banco com o defunto ao lado, esperando o trem.

   Felizmente, com a estrada Transnordestina e o posto de saúde do Estado as coisas melhoraram porque Drs Germano e Carlos Seixas usavam ambulâncias, e a coisa ficou melhor ainda com o asfalto que Dr Andreazza colocou na BR-116, no tempo de Carlos Mota, lá nos idos da década de 1960, nossa UTI ganhou dimensão com Antonio do Padre fazendo viagens quase diárias conduzindo enfermos, e especialistas politicos se notabilizaram nesse adjutório como os ex-vereadores Zé de Sindé e João Grilo, que Deus os tenha em boa morada. 

   Não fossem esses cristãos bondosos muitos dos nossos conterrâneos teriam sucumbido antes da hora.

   Casos aconteceram, é verdade, de pacientes que morreram a caminho da Feira, mas, pelo menos retornavam de onde estivessem no mesmo veículo sem esperar o trem do dia seguinte.

   Teve inclusive um causo de um vivente do Subaé, distrito da Serra, que ao ser levado para Salvador, o motorista da ambulância quando chegou em Santa Bárbara parou o carro para fazer um lanche em Amaral, comer 100 gramas de requeijão com uma média de café com leite, e após forrar a barriga foi conferir como estava o paciente. 
Para sua surpresa, a pessoa que acompanhava o tal, disse que ele tinha parado de respirar.

   O motoristas pegou o copo que tomara café servindo como estetoscópio, pressionou no coração do tal, colocou o ouvido no fundo do utensílio para apurar algum sinal, balançou o queixo do homem e deu o paciente por morto. 

   De imediato voltou a Serra. Quando chegou na porta da casa do homem, no Subaé, a familia do camarada surpresa com aqueles retorno, parou o carro, posionou o fundo da ambulância para o desembarque, reuniu a familia e disse, "infelizmente, houve o passamento". 

   Quando abriu a porta do veículo eis que que, o defunto-paciente estava sentado na maca e questinou: "Vocês não dissetam que iam me levar para Salvador!"