Uma breve história das redes de informações desde a idade da Pedra até a Inteligência Artificial
Rosa de Lima , Salvador |
01/11/2025 às 07:27
Livro Nexus de Yuval Noah Harari
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Creio que a maioria dos meus leitores já leram Yuval Noah Harari, historiador israelense professor da Universidade Hebraica de Jerusalém autor de best-selleres internacionais como “Sapiens” e “Homo Deus” livros que contam a trajetória do homem na terra e fizeram (e ainda fazem) grande sucesso porque suas análises são bem fundamentadas e atuais, mostrando aspectos da história que impactam em nossas vidas.
Recentemente criou uma empresa “Sapienship” na internet que propõe debater os desafios no mundo contemporâneo e são muitos a serem confrontados, especialmente em relação a expansão da Inteligência Artificial que tanto tem atormentado muitas gerações.
Nosso comentário nesse espaço de literatura do BJÁ é sobre seu novo livro intitulado “Nexus – uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à inteligência artificial” publicado no Brasil pela Companha das Letras (SP, 2024, TRADUÇÃO DE Berilo Vargas e Denise Bottmann, capa adaptação do original, 497 páginas, R$58,00 nos portais fora frete) e como o próprio título reza trata-se de uma conexão entre o passado e o presente e o que virá adiante.
Diante do avanço da Inteligência Artificial e tantas e rápidas mudanças que estão acontecendo no mundo laboral em todos os segmentos da sociedade fica dificílimo e improvável saber o que vai acontecer, sequer, daqui a 5 ou 10 anos. Esse é o grande debate (aliás, nem é debate em si) é um enfrentamento dessa situação para sobreviver como humanos e não seremos substituídos pelas máquinas em todas as atividades e até ficarmos sob o comando delas.
O que parecia improvável há uma ou duas décadas agora vê-se que isso será possível se não houver um controle no uso e manejo da Inteligência Artificial. Em “Nexus” Harari faz inúmeros alertas sobre essa situação dando exemplos práticos do que poderá acontecer se nenhuma medida de controle for adotada. Os CEOS e outros engenheiros e técnicos cibernéticos – de uma forma geral – não se sensibilizam com essas questões e avançar o que mais que podem com computadores (agora, quânticos) mais inteligentes e programas de controle de procedimentos que até então são reservados ao cérebro humano.
“O potencial anárquico da IA é particularmente alarmante porque não são apenas novos grupos humanos ingressando no debate público. Pela primeira vez na história, a democracia também precisa lidar com uma cacofonia de vozes não humanas. Em muitas plataformas de redes sociais, os bots constituem uma minoria considerável de participantes. Segundo as estimativas de uma análise, numa amostragem de 20 milhões de tuites gerados durante a campanha americana de 2016, 3.8 milhões (quase 20%) eram gerados por robôs”, comenta o autor num dos trechos do livro no sub-capitulo intitulado “Anarquia Digital”.
Harari observa que no começo de 2020, estimou-se que 43.2% dos tuites estavam sendo produzidos por bots e a agência da IA Similarweb estimou que entre 20.8% e 29.2% do conteúdo postado no X, em 2022, eram robotizados, empregados para influir na opinião pública o que é conhecido como linguagem generativa, como o ChatGPT. Ou seja, as pessoas são induzidas a consumir produtos (de bens materiais, culturais e políticos) sem necessariamente perceberem e, de repente, passam até a defender pontos-de-vista induzidos por essa linguagem, que originalmente não são os seus e foram incorporados devido a mensagens de bots robotizados.
“O surgimento dos algoritmos de aprendizado de máquinas, porém, pode ser exatamente o que os Stálin do mundo esperam. A IA pode fazer a balança tecnológica de poder se inclinar em favor do totalitarismo.
Inundar as pessoas com dados tende a sobrecarregá-las e levá-las a erro, ao passo que inundar IAS com dados tende e a torná-las mais eficientes. Em decorrência disso, a IA pode favorecer a concentração de informação e a tomada de decisões num único local”, diz Harari.
Mesmo nos países democráticos, algumas poucas corporações como o Google, o Facebook e a Amazon, se tornaram monopólios em suas áreas em parte porque a IA inclina a balança em favor dos gigantes. Para Harari, no mercado de informação, a coisa funciona de outra maneira. “A ferramenta de busca do Google é utilizada diariamente por 2 bilhões a 3 bilhões de pessoas, que realizam em torno de 8.5 bilhões de buscas. Suponha que uma ferramenta de busca de uma startup local tente concorrer com o Google, não tem a menor chance () Em 2023, o Google controlava a 91.5% do mercado global de busca”.
Então, observando dessa perspectiva, que é real, quem não tem plataformas ou bancos de dados como é o caso do Brasil (e demais países da América Latina) vai ficar sempre a reboque de decisões que são tomadas por outros grupos políticos, econômicos, culturais e assim por diante. Aliás, é como nos encontramos na atualidade e não temos outras alternativas.
Lembro que, recentemente, quando o X (então Twitter) a rede foi suspensa no Brasil por decisão judicial quem utilizava essa plataforma, creio que 99% da população usuária) ficou perdida, sem saber o que fazer.
Apareceu uma outra plataforma que muitas pessoas migraram, inclusive eu, apenas provisoriamente, pois, quando o X retornou a telinha retornamos todos a ele, automaticamente.
Alguns jornalistas que se utilizavam dessa ferramenta e que apoiavam o controle (ou a censura) ficaram sem seu principal veiculo de comunicação e perderem muito, tanto seguidores como oportunidades de expor suas posições. Todos retornaram para o X, cabisbaixos, porém, felizes porque voltaram também a serem apreciados pelos leitores.
A parte mais interessante de “Nexus” é quando o autor faz comentários no intertítulo “Os algoritmos assumem o controle” e destaca que “se os algoritmos vierem a desenvolver capacidades como as de experiência mental, as ditaduras se tornarão muito mais vulneráveis do que as democracias e uma tomada algorítmica de poder. Mesmo que uma IA aprenda a manipular o presidente americano, ela enfrentaria as barreiras do Congresso, do Supremo Tribunal, dos governadores de estado, da mídia, das grandes corporações e de várias ONGS.
Essa, por posto, é a discussão maior que se tem tanto no mundo das big-techs quantos dos governos e na sociedade de uma forma geral, pois, a corrida do uso mais intensivo das IAS mal começou e já tem uma mudança significativa nas atividades laborais que existiam e que desapareceram ou estão desaparecendo, e o que fazer, como migrar para outro campo, e assim por diante.
E, na reflexão mais avançada como Harari se propõe a ir analisando e comentando a substituição do homem pela máquina, o que já acontece em muitas áreas, porém, o controle ainda é humano. O temor é exatamente se esse controle passar para a I. Numa fábrica, por exemplo, muitos procedimentos já são feitos pela robótica, mas, o controle gerencial, administrativo, financeiro e do marketing cabe aos CEOS, aos humanos, mas esse controle poderá ser integral das IAS.
Parece coisa de ficção, mas, não é. Um robô táxi já opera sozinho tanto para atender os clientes nas ruas, sem motorista, como para voltar à sua base depois do expediente. E o seu computador de bordo registra todas as corridas do dia (e da noite) e os recursos são capturados também pela robótica.
Nexus é um livro para estudar, pensar, analisar e não se encerra em si mesmo. O autor sugere e estimula que se leia outros livros sobre esse mesmo tempo. E, certamente, Harari vai atualizar Nexus em pouco tempo.