O que vai acontecer com a família de Roque e os demais personagens segundo análise preditiva para o ano 2036
Tasso Franco , Salvador |
02/09/2025 às 09:15
Roque, o marceneiro do século XXI
Foto: Seramov
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POSFÁCIO
Imagino que os leitores estejam ansiosos para saber o que aconteceu em nossas vidas e dos outros personagens desse livro e como não sou baú, nem o Baú de Ossos, de Pedro Nava, vou contar a vocês. Mas, para isso, utilizarei um programa da Inteligência Artificial de análise preditiva chamado NETUNO que projetou as nossas existências em mais dez anos, até o ano de 2036.
Vocês também poderão questionar como isso é possível se ninguém sabe o dia de amanhã quanto mais daqui a dez anos. A IA desenvolveu um sistema que aprende com dados do passado e prevê o futuro com grande possibilidade de acerto. E nós (eu e Roque) embarcamos nessa viagem a partir de nossa visita a AJU quando saímos do casulo e observamos mais de perto que o mundo não se restringia a Serra dos Cardeais e nós poderíamos nos manter no povoado, continuar a viver nele, e desfrutar das novas tecnologias, afinal de contas se Elon Musk, dono do X, instalou seu bunker em Boca Chica um lugar repleto de mosquitos no Texas para lançar seus foguetes da Space X, nós poderíamos – como fizemos – montar nossa lab tech na marcenaria, claro, sem a visão poética da Tabacaria de Fernando Pessoa, algo que mudasse as nossas vidas. A propósito o livro sobre a poesia de Fernando Pessoa que Magu me deu de presente passeio- para Alicinha diante da complexidade dos temas que aborda.
E isso aconteceu, como já narrei no capítulo anterior que Roque se tornou um marceneiro do século XXI entendendo as diferenças, a amplitude do ser ou não ser, e durante a visita na casa dos Fonseca três razões em especiais que começaram a mexer na sua mente evolutiva quando viu que num canto da sala da casa de praia em Atalaia Nova havia um objeto redondo ligado a uma tomada com uma luz verde que piscava feito um vagalume e ele, encabulado com a peça perguntou a Romeu o que aquilo significava e o dono da casa disse que se tratava de um robô que varria as dependência da casa e também tinha dois outros parecendo cachorros que ficavam na área externa e protegia a propriedade de possíveis ladrões.
Em seguida, ambos levantaram e foram até as proximidades do robô varredor e Romeu apertou um botão e o equipamento deu uma demonstração de sua eficácia varrendo a sala, limpando o corredor, asseando embaixo da mesa e assim por diante e Roque ficou bastante entusiasmado.
Outro ponto que chamou a atenção do meu esposo foi o fato de que a casa tinha vários sensores e não havia chaves nas portas nem tomadas tradicionais para acender as luzes tudo sendo feito com o uso de cartões magnéticos e controles remotos, o que, já conhecíamos de televisão e sabíamos que em alguns hotéis é assim que funciona, mas não conhecíamos pessoalmente e Roque foi procurar saber em detalhes como se instalava aqueles sensores e equipamentos numa casa e se serviriam também para oficinas e indústrias. Romeu explicou que sim, que faria uma economia enorme, e não dava para mostrar-nos (porque estávamos a noite) o teto solar de sua casa e parte da energia e da água quente que saia das torneiras era gerada a partir dessas placas.
Por fim, a última novidade deu-se quando nos despedimos do casal e ao chegar na garagem da casa o motorista que nos levou até a pousada desplugou a tomada do veículo elétrico de um fio que saia da parede e nos conduziu naquele carro extremamente silencioso que dava para ouvir o zumbido de uma mosca no seu interior e Roque viu que o motorista quase sem colocar as mãos do volante ligou o GPS no painel do carro e nos levou de volta, e o pouco que nos falou o motorista que ele estava preocupado com a Inteligência Artificial, pois, “o patrão diz que vai comprar um carro movido a IA que dirige sozinho e ele perderia seu emprego”.
Diante desses fatos aproveitamos o sábado antes de retornarmos a Serra dos Cardeais e fomos ao shopping com Alicinha para nos distrair e almoçar por lá quando visitamos a loja de móveis Birelli, com design italiano todas as peças fabricadas em fibra e vido. Diria que Roque não pirou mas coçou a cabeça várias vezes e perguntou ao vendedor se a loja não vendia peças em madeira e o homem disse que madeira era coisa do passado, dos saudosistas, e que agora tudo era na fibra que “se parece e é melhor que a madeira, mais resistente, não pega cupim” e batia no tampo de uma mesa, e Roque também a testava com os dedos em punho, e muito mais coisa disse o vendedor em relação ao peso das peças, ao preço, a montagem, o uso da Inteligência Artificial, a qualidade dos materiais que podem ser de sintéticos da petroquímica, de plantas, e apontou-nos uma livraria do piso L2 onde poderíamos encontrar livros de tecnologia, da IA, “coisa que é o futuro do futuro” soletrou o vendedor.
Esses foram os motivos que fizeram com que Roque comprasse alguns livros, um computador de melhor qualidade e retornamos a Serra dos Cardeais com ideias novas em nossas cabeças e Roque ampliou a área do nosso escritório para ser um laboratório tecnológico e iria, doravante, modernizar a marcenaria “para não morrermos na praia” – palavras dele.
E foi assim, no ano seguinte que com a ajuda de um projeto de agave do CIRATEC e insumos do Polo de Camaçari começamos a produzir móveis em fibras e nos tornamos uma indústria moderna sem deixarmos as nossas raízes na Serra dos Cardeais e eu, curiosa que sou, persistente que sou, aprendi inglês e participei de vários podcast e soube da existência de um chat box com interface para inteligência artificial e de tanto ouvir do futuro, da IA preditiva, que nos mostra as tendências do futuro, os caminhos, contratei a NETUNO para fornecer dados até 2036 e a empresa, através de um gringo chamado Sam Alpha, me pediu para relacionar os dados do passado do que gostaria de saber e coloquei todos aqueles envolvidos neste romance e em 30 dias recebi a resposta que revelo também a vocês.
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Anos 2036:
Eu e Roque seguimos na Serra dos Cardeais mais velhos em idade, saudáveis, fabricando móveis em sintéticos com nossa casa monitorada por robôs, equipamentos inteligentes – a geladeira só falta falar – e nos amando como sempre e estivemos ao longo dos anos visitando novamente os Fonseca, porém, Roque, em 2031, já sabendo que Romeu na real se chamava Rosália e sua xana tinha gosto de caipirosca, desistimos dessa jornada, e eu, de minha parte apreciava a sensibilidade do martelo de Thor de Magali, na real de batismo, Marcondes, mas seguimos amigos e fazendo novos negócios.
A Alicinha se formou em psicologia em 2032, se casou com um dentista chamado Raul e nos deu netinhas gêmeas fabulosas, Tais e Tiana, que adoramos, e estão com 4 anos estudantes na escolinha Mimos do Amor, o Raul tem seu consultório de implantes dentário na Avenida João Pessoa e ela, sem esquecer suas raízes, instalou sua clínica na Avenida Paulo Barreto onde moram os chiques da cidade com o nome de “A Psicóloga da Serra dos Cardeais” e tem uma grande clientela de adolescentes, e ambos vivem bem, na Beira Mar.
Graças a disseminação das tecnologias pelo LAB de Roque, em 2036, dois engenheiros programadores estarão trabalhando em tempo integral, o CARDEAL STAR é um sucesso e pensa em lançar um foguete de meteorologia e vassouras voadoras para donas de casas irem a feira livre; Dona Nilza do Armarinho tem mais clientes que atende pela internet do que pessoais; Seo Badu da padaria se aposentou (meio broco vive a dar bombons as mulheres na praça da Capela e dizendo frases de amor) e passou o negócio ao filho Tadeu que produz os mais variados bolos e tortas; a esposa de Badu, dona Tina, muito mais jovem do que ele, se tornou influencer sobre maquiagens; minha irmã Ohilma se aposentou, recebeu um monte de precatórios do governo, comprou uma coleção de sapatos e vive muito bem; tia Glória faleceu no ano de 2035 de um novo coronavírus; tio Damasceno se aposentou do caminhão, joga dominó na praça da Capela todos os dias e sua diversão é falar mal do governo, inclusive foi uma das vítimas da fraude do INST no ano 2033; o diácono Clóvis continua a fazer todos os anos reforma na capela mesmo sem necessidade e sempre diz que o dinheiro arrecadado é para programas sociais e instalou o dizimo online com fotos dos santos; Tonho Juza colocou na sua borracharia um posto de baterias para carros elétricos; Marcelo, o motoboy, instalou uma cooperativa de veículos para carros de linha no Pombaleiro, todos carros elétricos, um deles voador; meu irmão Ohreste que trabalhava com grades agora produz drones; a bruxa Samuelina está velhinha e opera no mesmo local, povoado do Umbuzeiro, e atende on-line com bola de cristal eletrônica; o anão, Hermes, fugiu do Umbuzeiro depois de dar um desfalque nas finanças de Samuelina e vive em Brumado onde administra um lupanar e joga cartas de tarô; a bruxa Calona levou uma queda da vassoura em 2034 e veio a óbito; Sêo Djalma do feijão foi levado às pressas para uma casa de saúde em 2029, escapou, foi internado na Mansão de Caridade Bezerra de Menezes e faleceu no ano seguinte, sepultado em AJU.
Eu e Roque com a ajuda da comunidade, das forças vivas sem apoio dos políticos, construímos em aço inoxidável um memorial para as vítimas da tragédia da Escola Dom Miguel, com imagens em 3D, para que fique como lembrança e nunca mais aconteça um ato desse em nossa comunidade, inaugurado no ano de 2031.