Filme de Amadeu Alban revela biografia de Pepe Fato e abre lentes para a imigração galega no Brasil
Tasso Franco , Salvador |
05/12/2025 às 10:28
Pepe com o rei Juan Carlos
Foto: DIV
O documentário intitulado - ”Amigo - a biografia de Pepe Faro” - galego conhecido como “Pepe da Perini” - produzido por Amadeu Alban que foi exibido em sessão especial para familiares e amigos do empresário e está disponível na internet no site www.amigopepe.com.br. representa, também, relevante painel sobre a imigração dos espanhóis da Galicia para o Brasil após as guerras civil espanhola e a II Guerra Mundial quando a pobreza dominava sobretudo o Norte da Espanha.
O cineasta conseguiu captar o sentimento e as angústias do povo galego, na Espanha, naquela época literalmente passando fome e há vários depoimentos nessa direção, a Galícia rural pobre e sem alternativas de empregos obrigando a que os nascidos nos povoados fossem trabalhar em centros urbanos distantes de suas residências e com opções mais amplas de se mudarem de país, em direção ao Brasil ou outros lugares como Estados Unidos, Argentina e até mesmo na Europa, ainda que a II Grande Guerra tivesse devastado Londres, mas havia a opção de Portugal.
Porém, a saga maior, a aventura maior era partir do Porto de Vigo em direção ao Brasil, inicialmente para o Pará onde havia trabalho e riqueza num dos ciclos da borracha, que logo se exauriu, e os galegos foram se fixando em Recife e Salvador.
Pepe, por posto, ainda bem jovem, aportou em Salvador e foi viver no Tororó, juntamente com o irmão Fernando e outros, para trabalhar numa padaria. O balcão era sua academia; a farda era o guarda pó e o bibico; e o mais era a vontade de trabalhar e evoluir profissionalmente naquilo que era a sua arte, ser padeiro. E ainda é a sua paixão em termos profissionais: a padaria, padeiro, o pão com suas inúmeras variedades.
Diz no documentário que sua felicidade plena será morrer na padaria e não fala isso como cabotinismo ou uma peça de retórica ou marketing: É amor, é o sentimento nato daquilo que lhe engrandece, lhe dá prazer. Tanto que, após a venda da Perini para um grupo chileno com uma cláusula de que durante 5 anos não pudesse abrir um negócio similar, entrou em depressão e só saiu dela quando passado esse templo de reclusão inaugurou o Almacén Pepe.
Tudo isso que estou descrevendo aqui está no documentário de Alban: depoimentos dos irmãos pioneiros e que vivem na Espanha, de funcionários, de amigos, de familiares, da esposa Almerinda, dos filhos, genro e netos, de empresários e de amigos.
Pepe se tornou uma espécie de instituição em Salvador. Enquanto a maioria dos galegos não têm uma relação de proximidade com a população da cidade e alguns são vistos até como sovinas e distantes, Pepe, pelo contrário, era carnavalesco de vestir a indumentária do Filhos de Gandhy e desfilar no bloco (uma falha que há no filme sem esse registro) e se dava com personalidades como Jorge Amado a Neguinho do Samba.
Sempre teve boas relações com os prefeitos de Salvador e governadores da Bahia, com a imprensa, com pobres e ricos, e tinha uma afeição enorme pela família galega em Salvador, não só a sua especificamente, mas, a dos amigos e compatriotas, quase um clube social. Há inúmeros depoimentos sobre esses momentos, uma das partes mais emotivas do filme.
O filme, portanto, além de tratar especificamente sobre a vida de Pepe Faro e família, observando com um olhar mais abrangente é também um documento valioso sobre a imigração galega na Bahia e no Brasil, com as imagens do povoado de Pepe, de Vigo, dos depoimentos das pessoas, dos navios que saiam do Porto de Vigo abarrotados de famílias. Enfim, um documentário que deve ser visto como importantíssimo e valioso da história da imigração galega.
E, o que é mais importante: emotivo, bem produzido, imagens belíssimas, a música final emocionante, tudo bem encaixado. (TF)