Em diferentes cenários da cidade de Avignon, na França, “Bola de Fogo”, performance do artista baiano Fábio Osório Monteiro, teve um total de oito apresentações na 59ª edição do Festival Off Avignon, em oito dias seguidos, entre 5 e 12 de julho. No contexto do Ano Cultural Brasil-França, o Brasil é convidado de honra do evento, que segue até o dia 26, compondo a programação do maior festival de artes cênicas do mundo. No espetáculo, o protagonista – também baiana de acarajé registrada na Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM) –, devidamente trajado, monta seu tabuleiro de baiana, prepara a massa do acarajé, frita o bolinho e o vende, oferecendo junto suas histórias, sua dança, seus afetos.
Humor, política, espiritualidade e memória se cruzam em “Bola de Fogo”, estreado em 2017, que aborda temas como ancestralidade e questões ligadas ao corpo negro, compartilhando pensamentos de um artista que resiste às dificuldades da profissão. O acarajé, alimento sagrado, legado da diáspora africana e da insurgência negra no Brasil, ali se materializa como símbolo de emancipação, criação, oferenda e vínculo, para alimentar a alma de dendê e resistência. “No candomblé, aprendi que coisas duras podem ser ditas com uma colher de mel na boca”, resume Fábio Osório Monteiro, que performa e assina a direção, com codireção de Leonardo França e cena partilhada com Cíntia Santos, intérprete de Libras em atuação efetiva.
No ano passado, a peça já tinha sido apresentada em terras europeias, em Portugal. Mas esta foi a primeira vez que a tradução simultânea foi necessária para a fruição da plateia. “Por conta de ser um festival com dimensão mundial, convivemos em Avignon com públicos de todo lugar. Perceber as plateias, mesmo em outro idioma, se relacionando com o trabalho, confirmou como ‘Bola de Fogo’ tem a força de trazer as pessoas para perto, de forma muito empática e em suas muitas camadas: sociais, políticas, afetivas. É uma mão dupla com o público: acolher e ser acolhido. Estou muito feliz por ter conseguido estabelecer trocas efetivas com tanta gente diferente”, relata Fábio Osório.
“Bola de Fogo” esteve presente no Festival Off Avignon a convite da Plataforma Brasil da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), numa curadoria que buscou representar diversas identidades das artes cênicas brasileiras. Junto com Fábio Osório, estiveram nesta escala Zahy Tentehar com “Azira’í”, Janaina Leite com “História do Olho” e Leandro Souza com “Eles Praticam Dança Contemporânea”.
A boa receptividade do público é, portanto, motivo de orgulho. “As pessoas, por exemplo, vinham perguntar sobre as músicas que estão na trilha sonora, em que temos Gilberto Gil, Maria Bethânia. Me sinto contribuindo para a expansão do reconhecimento de uma identidade: brasileira e sobretudo baiana”, conclui Fábio Osório Monteiro.
BOLA DE FOGO TAMBÉM EM AURILLAC – Em agosto, “Bola de Fogo” retornará à França, dando seguimento à circulação internacional intitulada “Circuito de Fogo – ‘Bola de Fogo’ ganhando mundos”. A peça vai estar na programação oficial da 38ª edição do Festival Internacional de Teatro de Rua de Aurillac.
SOBRE FÁBIO OSÓRIO MONTEIRO – Ator, dançarino, produtor, baiana de acarajé, negro, nordestino, LGBTQIAPN+ e candomblecista, Fábio Osório Monteiro desenvolve sua carreira há mais de 25 anos em trabalhos com suporte na emoção, humor, fé e política. É um artista interessado em pensar o corpo negro na cena, atuante em diferentes linguagens artísticas. Natural de Salvador, carrega a sua casa-cidade para qualquer lugar do mundo. Foi indicado na categoria Ator do 33º Prêmio Shell de Teatro pela atuação no espetáculo “Sem Palavras”, da Cia. Brasileira de Teatro, com direção de Márcio Abreu. Foi membro cofundador e integrante da Dimenti Produções Culturais de 1998 a 2022. Graduado em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre em Dança pelo Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA, já colaborou com diversos artistas de destaque internacional. Em 2010, estreou “Edital”, seu primeiro trabalho solo e autoral. O segundo, “Bola de Fogo”, estreou em 2017, quando também se filiou à Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM). Em 2016, participou da remontagem brasileira do espetáculo “The Show Must Go On”, do diretor e coreógrafo francês Jerome Bel. Em 2020, atuou em “Maré”, da Cia. Brasileira de Teatro.
No audiovisual, está no elenco dos longas-metragens “Na Rédea Curta” (2022), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, “Receba!” (2021), de Rodrigo Luna e Pedro Perazzo, e “Pinta” (2013), de Jorge Alencar, e dos curtas “Ifá” (2014), de Leonardo França, e “Sensações Contrárias” (2007), de Jorge Alencar. É protagonista da série televisiva “A Lei do Riso – crimes bizarros”, atualmente no catálogo da Amazon Prime Vídeo. Em 2021, atuou e fez a produção executiva do curta-metragem “Via Láctea”, de Thiago Almasy. Na TV, fez participações nas novelas “Segundo Sol” (2018), “A Lei do Amor” (2017), “Haja Coração” (2016), “Boogie Oogie” (2015) e “Alto Astral” (2014).
Em 2021, lançou sua primeira publicação, intitulada “Livro de Fogo – chama histórias”, um livro-objeto criado a partir da performance “Bola de Fogo”, pela editora Conexões Criativas. Como produtor, desenvolveu diversas funções de produção em importantes eventos como Festival Panorama (RJ), IC Encontro de Artes (BA), Festival Dois Pontos (RJ), Mercado Cultural (BA), dentre outros. Em 2016, foi vencedor do Prêmio CBTIJ de Teatro (RJ), na categoria Direção de Produção por “Shtim Shlim: o sonho de um aprendiz”.