A obra que vamos comentar intitula-se “Salões e Damas do Segundo Reinado” (Livraria Martins Editora, SP, 394 páginas, 4ª edição revista e ampliada, ilustrações de J. Wasth Rodrigues
SALVADOR , Salvador |
29/06/2025 às 13:52
Salões e Damas do Segundo Reinado, Editora Martins Fontes, 1941
Foto: BJÁ
José Wanderley de Araújo Pinho – assinava suas obras apenas como Wanderley Pinho – era santamarense (1890), historiador, advogado, professor universitário e político. Foi prefeito de Salvador (1949), presidente de honra do IGHB e integrante da Cadeira 1 da Academia de Letras da Bahia.
Tinha raiz política de nascença. Seu pai João Ferreira de Araújo Pinho foi governador da Bahia entre 1908 e 1911 e seu avô materno, João Mauricio Wanderley, barão de Cotegipe, foi deputado, presidente da Província da Bahia (1856-1899), ministro da Fazenda, ministro dos Estrangeiros e vice-presidente do Conselho de Ministros do II Império.
Wanderley Pinho além de ter atuado no campo politico se destacou com mais fulgor nas letras autor de uma dezena de livros valiosos para a compreensão e estudos da História do Brasil, com H maiúscula, e que servem para análises acadêmicas até os dias atuais. Diria, ademais, que não foi o único politico baiano a trilhar por esse caminho, tivemos outros com obras variadas – Luis Viana Filho, Ruy Barbosa, etc – porém, Wanderley Pinto é, provavelmente, o mais importante.
A obra que vamos comentar intitula-se “Salões e Damas do Segundo Reinado” (Livraria Martins Editora, SP, 394 páginas, 4ª edição revista e ampliada, ilustrações de J. Wasth Rodrigues, várias fotografias, cuja 1ª edição data de 1942) um estudo abalizado sobre o panorama da vida brasileira dos endinheirados do país, os quais, comandavam a política, a economia, os poderes judiciário e legislativo. Ou seja, aqueles que ditavam as normas, estabeleciam as leis, forneciam ideias, sugeriam e inspiravam modas importadas basicamente de Paris, era o espelho da alta sociedade que mandava no Brasil.
O que Wanderley Pinho mostra no seu livro é como os salões no Segundo Império, época de Dom Pedro II, o qual governou o país durante 58 anos, eram além do glamour e dos locais onde encontros e desencontros amorosos se davam, sobretudo na fase madura do seu império (1840/1891) a política e a economia se misturavam e muitas decisões foram tomadas a partir dos encontros nesses salões com o adicional de que, algumas damas, tiveram fortes influências em alguns decisões do governo imperial especialmente nas províncias da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro (sede do Império), São Paulo e Minas Gerais, as economias mais importantes.
“Num salão esmeram-se várias artes: a de receber ou preparar um ambiente de cordialidade e espírito: a de entreter a palestra ou cultivar o humor; dançar uma valsa ou cantar uma ária, declarar ou inspirar versos, criticar com graça e sem maledicência, realçar a beleza feminina nas últimas invenções da moda. Rigoristas azedos dirão que tudo isto são futilidades. Mas que é a metade da vida, senão tudo isto? O passado não foi apenas sério ou trágico, guerreiro ou político, religioso, científico ou econômico, mas também alegre e frívolo”, diz o autor com absoluta discrição.
Evidente que além da frivolidade nos salões muitas questões políticas e econômicas foram resolvidas, apaziguadas e seladas em compromissos que iam conduzindo o país e o governo de Pedro II, o imperador, em si, um monarca que embora frequentasse os salões era reservado, eventualmente valsava, dizia-se dele que a condessa de Barral, a santamarense Luísa Margarida Portugal de Barros, teve permanente influência na sua Corte (e cama) e a imprensa carioca da época esmerava-se em charges com ilustrações de personalidades tanto da politica como do que se chamava alta sociedade.
Havia, também os críticos como Tobias Barreto “que em tudo quanto disse ou escreveu usou o exagero panfletário, ia além da medida ao afirmar terem no Brasil os salões uma influência mais entorpecedora do que favorável à expressão das ideias, sendo homens e mulheres de salão grandes banalidades, com o único interesse do risível e do cômico”.
Wanderley Pinho comenta que “em Tobias Barreto essas opiniões não vinham de qualquer observação, pois nunca frequentava a alta roda. Poderia ter sido um homem de sociedade, jamais o seria de salão. A rebeldia ao formalismo e à delicadeza o impediam. Espirito que se manifestava mais pela irritação do que pela simpatia, e cujas formas preferidas da inteligência eram os ímpetos da polêmica, não encontraria ali ambiente”.
Ora, salões tão glamurosos em luzes, orquestras, canapés frequentados pelas pessoas mais importantes do país, sem dúvida, tanto tinha apoiadores na opinião pública quanto detratores, uns por bajulações; outros por inveja ou pelos novos movimentos políticos da República que iria nascer em 1891 com Dom Pedro II já moribundo cujo epilogo se daria no famoso e emblemático Baile da Ilha Fiscal.
Mas também é óbvio que nos salões foram decididas muitas questões politicas relevantes como a cita no ano de 1875 quando Partido Conservador parecia rachado meio a meio e de alto a baixo. A lei do Ventre Livre, o programa de franquias liberais e reformas do Visconde de Rio Branco, custaram quase a dissolução dos “saquaremas”, e foi necessário Caxias, velho e cansado, construir Ministério para lhe reconstruir a antiga coesão. Paulino que era o chefe da dissidência e a quem fora oferecido um banquete no Cassino, retribuiu uma homenagem em um baile na sua casa, e um dos primeiros a comparecer foi o visconde do Rio Brando, seu adversário, selando a reconciliação à sombra do busto do visconde do Uruguai”.
O livro de Wanderley Pinto é denso está formatado por capítulos iniciando-se com “Salões e Festas da Provincia da Bahia” com “O Casino Fluminense”. A obras traz muitos detalhes dos bailes, das personalidades, cartas, intrigas, amores, desamores, um extensa bibliografia, num trabalho primoroso.