As razões porque a Bahia é um estado periférico que não se desenvolve como deveria
Tasso Franco , Salvador |
13/06/2025 às 18:57
A Trilha Perdada - Caminhos e descaminhos da economia baiana no século XX
Foto: BJÁ
Seguimos falando de livros sobre a Bahia. Há muitos e bons uma bibliografia imensa e que merece a nossa atenção a dos leitores – assim penso – porque representam o arcabouço da cultura baiana e só lendo uma parte – ao menos – dessas obras tem-se uma noção mais realística da Bahia estado que poderia se encontrar numa posição mais destacada no Brasil, porém, é um dos mais atrasados.
Noélio Dantaslé em “A Trilha Perdida – caminhos e descaminhos do desenvolvimento baiano no século XX” (Editora Unifacs, 528 páginas, 2009, encontrado nos Sebos e no portal Estante Virtual, entre R%50,00 e R$70,00) nos revela exatamente o porque da Bahia ser um estado que não consegue emergir com destaque sequer no Nordeste. Recentemente, os índices do IPS (Progresso Social) apontaram que a Bahia é o 22º lugar no Brasil entre os 27 estados da Federação, o pior do Nordeste.
As causas – citadas pelo autor – são estruturais, mas, vale observar que o livro de Dantaslé só analisa o quadro econômico e social da Bahia até o final do século XX (2000) e já estamos em 2025. A Bahia segue como cobra se arrastando pelo chão com índice de violência absurdos, educação mambembe e um quadro social de pobreza quase endêmica como ocorre com Salvador, 24ª posição no IPS entre as capitais, e mais de 1.600.000 vivendo na baixa renda sem perspectiva de sair dela.
Vamos nos atear ao livro de Noélio no período temporal até 2000. A obra está estruturada em 5 grandes capítulos que o autor chama de Títulos sendo que, na abordagem do Iº o autor comenta o “Contraditório Século XIX” com a gradativa perda de liderança da economia baiana, o conturbado século XIX e a economia da Bahia.
Situa que o declínio da Bahia se inicia com a transferência do Governo Geral de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, “perdendo a província sua condição de capital-política do país e todos os ganhos inerentes a essa condição”. A descoberta do ouro das Minas Gerais e, posteriormente, o advento do ciclo do café, plantado inicialmente no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, deslocaram o eixo da economia, marginalizando para sempre as províncias do Nordeste e do Norte “.
Esse é um ponto estrutural acrescido de acontecimentos pontuais ao longo do século XIX, como a Guerra do Paraguai (1867-1870) que recrutou na Bahia 18.725 soldados, em sua maioria negra, aumentando a escassez de braços para a lavoura; a Guerra de Canudos (1896-1897), as epidemias de febre amarela e cólera em Salvador que ocorreram entre 1850 e 1855 com milhares de mortes, e o início da decadência da indústria têxtil com perda irreversível a partir de 1875 quando a Bahia, até então era o maior centro têxtil do Brasil.
No Título II, Noélio analisa “Da primeira República a redemocratização” – os condicionamentos externos, a falácia do “Enigma Baiano”, a economia política na primeira República e as falas (nas casas legislativas) dos governadores Luís Viana, Severino Vieira, José Marcelino de Souza, João Ferreira de Araújo Pinho, José Joaquim Seabra, movimentos sociais, Francisco Marques de Góes Calmon e Vitral Soares; o sub item “A Revolução de 1930 na Bahia” – os interventores, Juracy Magalhães, Landulpho Alves de Almeida e as interventorias no final do Estado Novo; a “Redemocratização: o Governo Mangabeira” – um balanço da economia baiana na primeira metade do século XX – população e emprego, agricultura, culturas notáveis, indústria, comércio e serviços.
Pelo exposto, os leitores podem verificar a relevância do livro de Noélio Dantaslé Spínola com revelações baseadas na documentação, nas mensagens que os governadores liam na Assembleia prestando contas dos seus mandatos, tudo bem documentado., Sobre a falácia do “Enigma Baiano” cita Pinto de Aguiar, a preocupação de Ignácio Tosta Filho com a estagnação da economia estadual e a encomenda do primeiro Plano de Desenvolvimento da Bahia e uma observação de Rômulo Almeida com o considerável atraso da economia baiana em relação à do Sueste.
Rômulo Almeida: - O ritmo fraco da capitalização devido à decadência politica da Bahia na república, efeito e novamente, causa as dificuldades de transportes e a carência de energia, que, para vencê-las, não encontraram recursos na economia colonial baiana, as quais terão sido também causa de outra carência, a quase nula imigração”.
No Titulo III, Noélio aborda “Planejamento e Políticas Públicas” – a origem e a evolução do planejamento brasileiro, o espectro da seca e o planejamento regional, a Sudene – um Ministério para o Nordeste; entre a realidade e a utopia, a frustração do planejamento regional; o Nordeste pós 1964 – o longo ocaso e o fim da Sudene; os antecedentes do planejamento na Bahia; a pasta rosa; o Plandeb – a estratégia industrial, a urbanização, o turismo e outros programas importantes.
No Título IV, Noélio aborda a politica governamental na indústria, no comércio e no turismo, os incentivos fiscais do estado e a década perdida (anos 1980) com a crise internacional do petróleo e a alta dos juros internacionais que levaram a falência do governo que culminou com a moratória da dívida externa em 1987, na administração José Sarney.
Por fim, no Titulo V, o autor fala sobre a economia baiana no final do século XX – sobretudo a participação da Bahia na industrialização nacional no período de 1959 a 2000; e as conclusões.
De acordo com a SEI no ano 2000 contava a Bahia com uma população de 13.070.250 habitantes representando 7% da população do país, sendo que deste total 8.772.348 correspondia a população urbana e 4.297.902 a rural, com taxa de urbanização de 67.12%.
Em considerações finais Noélio destaca o seguinte: - Espera-se de quem se der ao trabalho de ler este livro a percepção da grande responsabilidade da sociedade baiana, notadamente da sua elite econômica e politica para com o futuro da Bahia, que continua sendo um estado periférico, subdesenvolvido e tão dessemelhante quanto o retrato por Gregório de Mattos, no século XVII, e cantado por Caetano Veloso, no século XX.
O que se observa é que passados tantos anos após o final do século XX e já estamos avante 25 lustros a Bahia segue periférica e sequer consegue acompanha o Nordeste onde, de acordo com o IPS (Indice de Progresso Social) 2025 se colocar em 22º lugar na Federação e o pior estado do NE.