Cultura

ITABUNA: SANTINHO, CRAQUE QUE ATUAVA NAS 11 POSIÇÕES p WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado
Walmir Rosário , iTABUNA | 29/05/2025 às 15:56
Santinho: segundo em pé da esquerda para a direita
Foto: DIV
  Desde a segunda metade da década de 1950 que os torcedores de Itabuna e do Fluminense de nossa paróquia passaram a ter um xodó especial com um jogador, considerado a revelação e que atuou até no
Itabuna Esporte Clube, nos fins da década de 1970. Bom driblador, embora sua marca maior fosse o poderoso petardo em direção ao gol. O terror dos goleiros.

   Durante anos construiu sua história nos campos de Itabuna, Ilhéus, Itajuípe, Alagoinhas, Santo Amaro, São Félix, Belmonte, e onde mais a Seleção de Itabuna (amadora) jogasse. Não pense que ele não
encantou a capital baiana, a Salvador dos grandes times profissionais.

   Em 1957 ele bagunçou as partidas nos campos da Graça e na Fonte Nova como se estivesse no quintal de casa. Pois é, assim era Santinho, que na vida civil levava o nome de Gilberto Silva Moura, que não se intimidava em jogar na casa do adversário, seja lá qual fosse. No dia 4 de abril de 1957 jogou a partida final do Torneio Antônio Balbino contra a Seleção de Feira de Santana, por ocasião da inauguração dos refletores do Estádio da Fonte Nova.

   Jogo empatado em 1X1 e a disputa final definida nos pênaltis, que seriam batidos por apenas um jogador de cada selecionado. Imediatamente o técnico da Seleção de Itabuna escolheu Santinho para bater as cobranças. Cinco penalidades batidas pela Seleção de Feira de Santana: cinco gols. O mesmo placar foi marcado por Santinho. Na segunda série, o mesmo resultado. O árbitro apita para a terceira série e Santinho marca os cinco gols, e para alegria dos itabunenses, o goleiro Carlito defende uma penalidade. 

  Agora era a final. Dois dias depois a Seleção de Itabuna vence a Seleção de Alagoinhas por 2X0 e o Torneio Antônio Balbino. Na tribuna de honra, autoridades das mais diversas, entre elas o governador da Bahia, Antônio Balbino, o ministro da Guerra, Marechal Lott e o presidente da República, Juscelino Kubistchek, que entregou a taça aos jogadores. Festa em Itabuna e os jogadores chegam como grandes heróis.

  Alguns meses depois, fins de 1957, a Seleção de Itabuna volta a Salvador para disputar a final do Campeonato Baiano Intermunicipal contra a Seleção de Salvador. Ganha a primeira partida por 2X0, no
campo da Graça, e aplica 3X1 no jogo de volta em Itabuna. Neste campeonato, num jogo bastante tumultuado em Ubaitaba, após a expulsão do goleiro Asclepíades, Santinho, com apenas 20 anos foi
escolhido para concluir a partida no gol. Itabuna vence por 4X0.

  E aí Santinho não parou mais até ganhar o Hexacampeonato e estrear no Itabuna Esporte Clube profissional, em 1967. Durante todo esse período, ele se tornou um dos grandes líderes da Seleção de Itabuna.

   E fez por merecer todo o carinho da torcida, que vibrava com suas jogadas, seu chute certeiro que fazia tremer zagueiros e os goleiros. E não era pra menos, pois mais de uma vez seus petardos furavam as
redes adversárias, literalmente.

  Santinho sabia impor respeito aos adversários dentro das quatro linhas. Fora de campo, mais ainda. Ele se considerava o protetor dos colegas, principalmente dos garotos recém-chegados no time ou na
seleção. Entre eles os “meninos” Bel e Lua, convocados para a Seleção de Itabuna aos 16 anos. No Fluminense, seu Astor, pai de Lua, delegou a Santinho os cuidados com o filho Lua.

  Em campo não tinha medo de cara feia nem de zagueiros violentos. Resolvia tudo com sua autoridade de craque de futebol, intimidando os adversários com jogadas mirabolantes e petardos em direção ao
gol, com um aproveitamento altamente positivo. Com o tempo soube utilizar sua sabedoria para jogar recuado – em todas as posições –, mesmo na defesa, aproveitando o seu conhecimento de futebol para
potencializar as jogadas sem a energia física de antes.

  Santinho era mais que um jogador de futebol, um craque que sabia impor, ao mesmo tempo, o respeito e a admiração dos adversários. Fora de campo, um homem com amigos tantos que surpreendia até mesmo os que o conheciam. Deixou o futebol e foi cuidar dos seus afazeres profissionais em várias áreas, incluindo a Ceplac e a Tevê Santa Cruz.

  Indiscutivelmente, foi o jogador símbolo da Itabuna das décadas de 1950, 60 e 70, época em que os craques abundavam, ou melhor, como se dizia naquela época, “davam no meio da canela”. E Santinho
se sobrepunha às situações ao jogar nas posições em que era escalado, com toda humildade de sua sabedoria, com a intenção de dar tudo de si pela equipe em que jogava.

  Santinho nos deixou em 7 de julho de 2009, mas ainda ecoam em nossos ouvidos a voz dos narradores em suas jogadas e os gritos de gol!