Cultura

IMORTAL FRANCO DO RASO DA CATARINA,ANTONIO CONSELHEIRO DA NOITE,PARTIU

Bar e personagem que marcaram época na velha Bahia boêmia
Tasso Franco ,  Salvador | 09/05/2025 às 17:29
“O Senhor do Raso da Catarina”, do ator, cineasta, roteirista e diretor, Dody Só, FILME
Foto: REP
  Nós diziamos que Franco Barrêto era imortal. Certa ocasião tomou um tiro no peito ficou entre a vida a a morte e sobreviveu. É imortal porque também está na memória de quantos como eu frequentaram o Raso da Catarina em em nossas homéricas farras, num lugar que não era nossa praia - proximidades do Campo Grande - de dificil acesso para quem gosta de cana com uma escadaria que derrubava-nos, eventualmente, ou quase sempre nas noites de cerveja, conhaque, violão, papos alternativos e assim por diante.

   Dezenas de vezes estivemos por lá nas campanhas politicas do inicio dos anos 1980 com Rêmulo Pastore, Gildásio Xavier, Lúcia Cerqueira, Aninha Umbigo, Tonicão (também tocador de violão), Ruy Espinheira, Lígia Aguiar, Tuna Espinheira e Arinha, Angelo Roberto, Gato, Siri, Nadya Argolo, os irmãos Bonfim e Américo e tantos outros para conversas sem fim sempre apimentadas com a comida sertaneja, cerveja e pinga. Eram conversas que tinha começo e nunca tinham fim adentrando a madruga e, às vezes, até o dia raiar.

   Embora próximo da Gamboa e do Passeio público não se via o mar, mas, a gente via. Quem fazia farra à moda antiga da velha Bahia boêmia com Jehová de Carvalho e utros bambas da noite e da poesia vê todo tipo de coisa. Assim era o Raso onde muitos sonhos foram cultivados, outros tantos alinhados e uma porção que não deu em nada. Mas era também um bar romântico onde muitos casais se atracaram e outros tantos desfizeram romances. 

   E Franco sempre presente como um maestro da noite a comandar essa orquestra de sonhadores, impávido, incansável, atencioso. Creio que, pra muitos um conselheiro, uma Antônio Conselheiro.

   Ontem, no entanto, o sertanejo das brrancaas do Rio São Francisco, Antônio Franco Barretto, partiu para outra esfera espiritual. Ele nasceu em Paulo Afonso,considerada a “capital” do Raso da Catarina, que inspirou o nome do espaço. Até 1993, Franco comandou o bar “mais libertário de Salvador”, como é considerado por muitas pessoas. Ainda hoje funciona com outra proposta, um restaurante de comida deliciosa. 

Inaugurado em 1979 com a proposta de ser um bar alternativo, ao ar livre, é localizado na área externa da casa de estilo colonial onde abriga a sede da Associação dos Engenheiros Agrônomos até os dias atuais, ao lado do Palácio da Aclamação, no Campo Grande. O local ficou conhecido como ponto de encontro da intelectualidade boêmia, artistas, jornalistas, políticos, estudantes e profissionais liberais na década de 1980. 

No dia 16 de abril desse ano, a Sala Walter da Silveira exibiu o documentário “O Senhor do Raso da Catarina”, do ator, cineasta, roteirista e diretor, Dody Só. O filme foi lançado em 2023 e resgata a história do criador do Quintal do Raso da Catarina. O filme apresenta depoimentos marcantes de frequentadores do Quintal, como Bule-Bule, Ruy Espinheira Filho, Wilson Aragão e Lídice da Mata, entre outros, com relatos sobre acontecimentos memoráveis e personagens inesquecíveis, como o lendário garçom Quitério, falecido em 2021.