Cultura

ROSA DE LIMA COMENTA UM CINEMA CHAMADO SAUDADE, p GERALDO E LUIS LEAL

Um documento para a história dos 100 anos do cinema na capital baiana por Geraldo da Costa Leal e Luis Leal Filho
Rosa de Lima , Salvador | 26/05/2024 às 09:52
Livro publicado em 1997 sobre centenário do cinema em Salvador
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  O livro é antigo (editado em 1997) mas ainda se encontra à venda nos "sebos" de Salvador e no portal Estante Virtual e se intitula "Um Cinema Chamado Saudade" (280 páginas, Editora dos Autores) escrito por Geraldo da Costa Leal e Luís Leal Filho - participação de Cláudio Gonçalves da Costa Leal em pesquisas - prefácio de José Augusto Berbert de Castro - colunista de Cinema de "A Tarde" (jornal) por longos anos - e que trata, como o título indica, um roteiro completo sobre a história dos cinemas de Salvador desde o advento do cinema mudou e dos cinematógrafos até a década do meio dos anos 1970.

   Uma obra de importância vital para os amantes do cinema, pesquisadores, historiadores, estudantes, enfim, de quem também aprecia a história de Salvador, o comportamento da sociedade, as mudanças na arquitetura, as novidades da moda, o modo de ser dos baianos, uma viagem sensacional que nos oferece Geraldo e seu sobrinho Luís Leal Filho.

   Para quem é velho e nasceu em Salvador e viveu os acontecimentos da cidade na primeira quadra do século XX e até os anos 1970, diria que é um livro que emociona porque esses leitores poderão se colocar no contexto, como se estivessem nas salas dos cinemas pois, muitos deles certamente participaram das sessões em vários endereços. É curioso: Salvador teve salas de cinemas em vários bairros das cidades Alta e Baixa, em bairros como Roma, Itapagipe, Liberdade, Barra, e hoje estamos restritos aos cinemas de shoppings e ao cinema de arte do Corredor da Vitória.

   Como diz Berbert no seu prefácio: "É um trabalho de pesquisa fantástico, feito com muito amor e competência, por pessoas que amam a Bahia e o cinema. Registram tudo sobre 100 anos de Cinema em Salvador - 1897/1997, porém, é muito mais do que isso, Geraldo e Luís preservam a memória da Bahia, pesquisando e registrando coisas das mais interessantes, mesmo para os que não se interessam por cinema".

    "O anúncio da primeira exibição do "cinematógrafo" no Diário de Notícias, em 27 de novembro de 1897, pelo senhor Dionisio Costa, é um achado. Embaixo vem a propaganda do desaparecido Café Papagaio, que tomávamos em nossa casa, porque trazia dentro do pacote uma colher de metal", diz o saudoso Berbert.
   O trabalho desses autores, Geraldo - dentista (ainda não se usava o termo odontólogo - autor de "Pergunte ao Seu Avô" - outra obra memorialista da cidade da Bahia; e do seu sobrinho Luís Leal Filho, advogado, é primoroso e detalhistas com as informações pesquisadas nos jornais que circulavam na capital baiana (o único que ainda existe é A Tarde" embora, os autores, façam citações a André Setaro (colunista de cinema da Tribuna da Bahia, jornal também ainda existente).

   Além do que Geraldo (mais velho do que o sobrinho Luís) nasceu em Salvador e frequentou as salas de cinema da cidade (creio que quase todas elas) e foi testemunha ocular do que acontecia, também, em termos de comportamento da sociedade, como as pessoas se vestiam para ir ao cinema (quase como se fosse a uma festa). O livro traz também inúmeras fotografias algumas históricas como as dos cines teatros São João e Polytheama, uma delas da Convenção Política no interior do São João para indicar o sucessor de JJ Seabra; e uma outra, um banquete oferecido pelo mesmo Seabra, no interior do Politheama, em 14 de abril de 1918. Essas são fotos - entre as muitas que tem no livro - incluindo também alguns comerciais nos jornais – revelam, entre outras, a elegância das mulheres com uso de chapéu e homens de paletó e smoking, para irem as sessões de quintas feiras no cine Guarani. 

   Ir ao cinema na primeira metade do século XX era evento social e os cines teatros apresentavam espetáculos musicais e havia muito glamour e paqueras. O Teatro São João inaugurado pelo vice-rei dom Marcos Noronha, conde dos Arcos, em 1812, inaugurou seu cinema em 1910, dirigido por Rubens Pinheiro Guimarães. Os autores destacam que “belíssimos filmes foram aplaudidos pela plateia” e o Jornal de Noticia noticiou que “no dia da inauguração defeitos de projeção implicaram breves interrupções durante as exivições; e neste mesmo dia, durante os intervalos tocou a Banda de Música do 2º Corpo de Policia durante as sessões”. 

   Em 11 de julho de 1910, “anunciava o grande cinematógrafo São João de preços populares (geral $300; cadeiras $800; cadeira de camarote 1$000; camarotes de 1ª e 2ª ordens, 3$000; frias 5$000. Esse teatro localizado na Praça Castro Alves incendiou em 1923.

  São muitas e valiosas as informações no “Um Cinema Chamado Saudade” e os autores citam que deram esse titulo porque quando estavam pesquisando e escrevendo o livro perceberam que foram tomados pelo “sentimento sadio da nostalgia...() ...as matinês chiques e as matinês do perfume, sempre cheias de senhorinhas, elegantemente trajadas e saber que naqueles salões de espera, enobrecidos pela presença feminina, muita gente encontra o amor de sua vida, não dá saudade? Recordar a magia que nos prendia ao Jandaia com aquela atmosfera envolvente e vê-lo hoje transformado em cinema pornô, não dá saudade?
   Nesse aspecto, a cidade se movimento para pior, e hoje, o prédio do Jandaia é uma ruina e o cine Tupi, que muito frequentamos, é cine pornô.

   O livro contem informações sobre todos os empreendedores dos cinemas, as lutas que enfrentaram, as mudanças tecnológicas ao longos dos anos e citações de todos os cinemas – São Jerônimo, Olimpia, Glória, Guarani, Tupi, Capri, Brasil Itapoan, São Caetano, Roma, Oceania, Bonfim, Astor, Liceu, Rio Vermelho etc. 

    Como bem disse Berbert de Castro tem que agradecer a Geraldo e Luis por essa magnifica obra.