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BALEIAS JUBARTE JÁ SÃO 25.000 EM NOSSAS ÁGUAS

Mais Extenso Censo Aéreo do Planeta Confirma Recuperação da Espécie no Brasil; Pesquisadores Apontam Novos Desafios para sua Conservação
Eduardo Melo , Salvador | 30/11/2022 às 19:20
Baleias Jubarte
Foto: Divulgação

Num momento em que entidades internacionais alertam para a  continuada diminuição das espécies selvagens ao redor do mundo, o Brasil tem  ao menos um grande motivo para comemorar: a recuperação espetacular das  baleias jubarte em nossas águas. Um censo aéreo recém realizado pelo Projeto  Baleia Jubarte, em parceria com a empresa Socioambiental e com apoio  financeiro da Veracel Celulose e da Petrobras, confirmou que a espécie está se  aproximando da recuperação plena no país, após ter sido quase extinta pela  caça indiscriminada ao longo de mais de 300 anos no Brasil e ao redor do  mundo. A avaliação dos dados do censo acaba de ser processada pelos  cientistas, e aponta a existência de cerca de 25.000 jubartes na população  brasileira.  


O censo aéreo, que os pesquisadores consideram ser o mais extenso do  mundo para o estudo de baleias, acontece há 21 anos e cobriu nesta temporada  de reprodução das jubartes uma distância de 6.204 Km, entre a divisa do Ceará  e Rio Grande do Norte e o litoral norte de São Paulo, e abrangeu desde a linha  de costa até uma profundidade aproximada de 500 metros, já que as jubartes  preferem ficar sobre a plataforma continental quando chegam ao país para se  reproduzir. 


Segundo a pesquisadora associada do Projeto Baleia Jubarte, a Bióloga  Márcia Engel, “a realização do censo na primeira quinzena de agosto, que  corresponde ao pico da temporada reprodutiva, nos permite obter uma  ‘fotografia’ adequada da presença das jubartes no Brasil, num momento em que  praticamente todas as baleias que migraram desde as áreas de alimentação nas  águas subantárticas já chegaram e nenhuma ainda iniciou a migração de volta”.  

Foram avistados nos sobrevoos 643 grupos de baleias-jubarte. O outro  Biólogo responsável pela pesquisa, Leonardo Wedekin, ressalta que além de ser  o mais extenso do mundo, o censo das jubartes brasileiras é também um dos  mais longevos, com mais de duas décadas de trabalho contínuo. Segundo ele,  “cobrir a totalidade da área reprodutiva das jubartes no Brasil nos permite realizar um trabalho científico inestimável, com a realização de uma estimativa  populacional mais precisa, um conhecimento melhor da distribuição das baleias,  e o entendimento da reocupação das áreas extremas dessa distribuição, como  Rio Grande do Norte e São Paulo, onde um número crescente de avistagens  confirma a expansão do uso de nossas águas pela espécie.” 


Um dos fundadores do Projeto Baleia Jubarte e que acompanhou todo o  esforço de proteção da espécie nesses últimos 34 anos, Enrico Marcovaldi  relembra que quando o trabalho começou, durante a implantação do Parque  Nacional Marinho dos Abrolhos, meados da década de 80, “sequer se sabia que  as jubartes ainda existiam por lá. Com a constatação de que havia uma  população sobrevivente de talvez umas 500 baleias na região é que se iniciou o  Projeto Baleia Jubarte. Depois dessas décadas de atuar na proteção delas, ver  agora essa população quase totalmente recuperada dá uma enorme alegria e a  sensação do dever quase cumprido. Quase, porque sempre temos que atuar pra  evitar que elas voltem a ser ameaçadas por impactos das atividades humanas”,  completa. 


O censo aéreo também permite identificar e avaliar as áreas onde  atividades humanas possuem mais potencial de interagir com a presença das  baleias. O Diretor Geral do Projeto Baleia Jubarte, Eduardo Camargo, considera  que “o volume e a qualidade das informações científicas geradas pelo censo,  combinadas com as demais atividades de pesquisa de campo embarcadas que  o Projeto desenvolve, nos permitem antever as ações necessárias para  assegurar que as jubartes brasileiras sejam protegidas adequadamente de  novos impactos, como o emalhamento em redes e colisões com grandes  embarcações, e contribuir com nosso conhecimento para formular as políticas  públicas adequadas para a proteção da espécie e seu ambiente.” Camargo, que  acaba de retornar da reunião plenária da Comissão Internacional da Baleia,  afirma ainda que o Brasil está bem posicionado no cenário global como liderança  na pesquisa e conservação dos grandes cetáceos, e que o Projeto espera  contribuir para expandir a cooperação regional no tema em todo o Atlântico Sul,  a partir do compartilhamento de seu expertise e dos dados científicos que vem  adquirindo em mais de três décadas de trabalho.