Salvador

EDGAR SILVA: “Entre a advocacia e o Senado preferi a advocacia"

Edgar Silva foi diplomado em 1939, pela antiga Faculdade de Direito (atual Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia)
Antonius , Salvador | 15/07/2013 às 18:00
Mais antigo advogado da Bahia, Edgar Silva, 100 anos, com Saul Quadros
Foto: Arq pessoal
“A vaga era minha, mas eu não me interessei. João Lima Teixeira foi indicado em meu lugar e exerceu um mandato de oito anos, representando o estado no Senado Federal, como suplente do general Juracy Magalhães”.  A confissão, feita mais de cinco décadas depois, é de Edgar Silva, o advogado mais antigo em atividade na Bahia, às vésperas de completar 100 anos, ao lembrar o convite do então presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) na Bahia, Alaim Mello, para figurar na chapa da coligação União Democrática Nacional (UDN) e PTB e que tinha Juracy como titular.

Naquela época, lembra Edgar, podia-se pleitear dois cargos numa mesma eleição e Juracy Magalhães, com prestígio em alta, candidatou-se ao Governo do Estado e ao Senado Federal, elegendo-se facilmente para ambos os cargos. “Óbvio que ele optou pelo governo, permitindo que Lima Teixeira assumisse o Senado”, disse sem mágoas.

Embora explicitamente não declarasse, o amor pela advocacia e o desejo de não sair da Bahia fizeram que ele tomasse a difícil decisão de abdicar da possibilidade de se tornar senador. Apesar de ligado à política – a UDN e, posteriormente, ao PTB de Getúlio Vargas – vereador por quatro legislaturas e secretário municipal em Andaraí, sua cidade, e suplente de deputado estadual pelo PTB, “o que eu gosto mesmo é de advogar”.

Turma de 1939

Diplomado em 1939, pela antiga Faculdade de Direito (atual Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia), seu número de inscrição na Seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil é 642. “De minha turma faziam parte, dentre outros nomes conhecidos, os professores Zezé Catharino e Santos Cruz, o juiz Waldemar Gonçalves Diogo, o promotor José Sabino Costa, o jornalista Cruz Rios, Jayme Guimarães, Newton  O’Dweyer, Caio Marques e Manoel Antônio da Silva”, enumerou.

Nascido na Chapada Diamantina, durante a adolescência morou sozinho em pensionatos na capital e estudou no Colégio São Salvador, onde foi colega de Luiz Pinho Pedreira da Silva, uma das maiores expressões do Direito do Trabalho na Bahia. Fez “bicos” como cantor na Rádio Sociedade, “para ter um dinheirinho a mais no bolso e somar ao que papai mandava para mim do interior”.

Antes de se fixar definitivamente em Salvador, manteve um escritório em Andaraí. Mais tarde, já morando na capital, advogou também no Recôncavo Baiano e, em especial, em Santo Antônio de Jesus. Convivendo há quase 40 anos com Conceição Ivo Leão, ele é pai de cinco filhos – a desembargadora aposentada Aidil Conceição, o médico urologista Venceslau Silva, a professora e servidora pública municipal Lídia Matos, o geógrafo e servidor público estadual Sérgio Roberto Silva e Guilherme Silva Neto – fruto de seu casamento com Francisca Celina Souza Silva, já falecida, e tem 11 netos e nove bisnetos.

Inteiramente lúcido e “antenado” para as mudanças, adaptou-se, sem problemas, ao celular e a informática, digitando petições e recursos através de computador, onde costuma também utilizar a internet, para enviar e receber mensagens. Por insistência dos filhos, deixou de dirigir há 10 anos, mas não perdeu a paixão por carros de luxo. Hoje, tem um Mercedes Benz, dirigido por um motorista, que o leva ao Fórum Ruy Barbosa e ao Tribunal de Justiça durante a semana e, aos domingos, para assistir missa na Basílica do Bonfim.

Embora atue em quase todas as áreas, a sua especialidade é o Direito Agrário, desde os tempos em que integrou, com brilhantismo, os departamentos jurídicos do escritório baiano do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb).