Joselito Nascimento dos Santos, 47 anos, mais conhecido como Jose, suicidou-se na madrugada de sábado (2) para domingo (3), na carceragem da 12ª Delegacia Territorial de Polícia (DTP), em Utinga, após ter sido preso em flagrante, no dia 30 de agosto, sob a acusação de violência doméstica, por agredir a esposa.
"Conversamos com ele, explicamos que o seu crime era afiançável e que ele precisava de um advogado", disse a delegada titular da 12ª DTP, Cláudia Bensabath. Segundo ela, o acusado afirmou que não tinha dinheiro para pagar a fiança e ficou em uma cela sozinho, após o agente da carceragem ter verificado que Jose não apresentava nenhum sinal de alteração da saúde física ou mental.
A delegada disse que estava no plantão central na delegacia de Itaberaba, quando foi avisada pelo carcereiro que Joselito havia se enforcado. "Imediatamente chamamos o Departamento de Policia Técnica (DPT) e foram tomadas as medidas devidas. Avisamos à família e demos todo apoio, como é de costume, e agora estamos pautando tudo em um relatório", informa a delegada de Utinga.
Ela diz ainda que Joselito se enforcou com um lençol. Ao ser questionada se os detentos têm acesso a materiais que os possibilitem atentar contra a própria vida, a delegada respondeu que não, mas os presos enquadrados na Lei Maria da Penha têm tratamento diferenciado. Além de ficarem sozinhos em uma cela, a família pode disponibilizar algum conforto, tendo a de Joselito disponibilizado, para ele, colchão, roupa de cama e de banho.
Cláudia Bensabath é delegada em Utinga há quase um ano e relata que a maioria das incidências na cidade envolve drogas, problemas com menor e delitos relacionados à violência doméstica. Foram constados três casos de violência doméstica em Utinga. Um dos casos, noticiado e confirmado pela própria delegada, narra que um homem de família mais abastada, dias atrás, foi preso pelo mesmo delito de Joselito Nascimento dos Santos, porém, só ficou 48 horas detido. Outro caso aconteceu em 13 de dezembro de 2012, quando um homem de nome Mário Sérgio de Jesus Santos, que tem comprovadamente problemas mentais, ficou detido quase dois meses pelo mesmo motivo.
"Meu filho, que hoje se encontra em uma cidade no interior de São Paulo, em tratamento, foi preso no dia 13 de dezembro e só foi solto depois das férias forenses em fevereiro, ficando, se não me engano, dois meses e 12 dias preso. Se a delegada tem o poder de arbitrar a fiança, porque não fez no caso do meu filho? Ele não precisava passar tanto tempo preso, pois nem tocou a mão na sua esposa, só ameaçou com palavras", questionou Adelice Lina de Jesus, mãe de Mário Sérgio.
A equipe do Jornal da Chapada visitou a casa da viúva de Joselito Nascimento dos Santos, que tem quatro filhos, e a tristeza era geral, ainda queimava na porta da residência a fogueira do velório. "A delegada me disse que conversou com Jose e ele disse que não tinha condição de pagar a fiança, mas se ela tivesse arbitrado o valor nós teríamos providenciado, tanto o dinheiro quanto o advogado. Mas, não tivemos tempo", diz Renato Cruz da Silva (21), filho mais velho de Joselito.
O Jornal da Chapada visitou também as instalações da delegacia, conversou com os presos, que disseram ser bem tratados, reclamando apenas da falta do banho de sol, fato que foi justificado pela delegada. "Não existe tortura em nossa delegacia, tratamos todos muito bem. Quanto ao banho de sol, só acontece uma vez por semana, já que a área é pequena e sem segurança, tendo apenas um carcereiro para tomar conta dos oito detentos. Para funcionar melhor, precisamos de mais espaço e recursos humanos, como uma equipe de profissionais. Com investigadores, carcereiros, psicólogos, nutricionista e assistente social, poderemos oferecer à comunidade um serviço de qualidade e mais humanizado," completa a delegada de Utinga (Jornal da Chapada)