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Sessão especial na Câmara de Vereadores sob presidência de Aladilce Souza
Foto: Valdemiro Lopes
"São 50 anos de sofrimento, com três internações. Não é justo! Não é
justo!", desabafou o portador de distúrbio mental Domingos da Silva. Ele
participou da sessão especial que marcou a passagem do Dia Nacional de Luta
Antimanicomial e lotou o Plenário Cosme de Farias da Câmara de
Municipal de Salvador, nesta quinta-feira (20).
Na sessão especial, requerida e dirigida pela vereadora Aladilce Souza
(PCdoB), integrantes da mesa de trabalho e dezenas de pacientes dos Centros
de Atenção Psicossocial (Caps) destacaram que é possível a reintegração dos
doentes mentais à sociedade. Salvador conta com 17 Caps e mais dois serão
inaugurados até julho.
Além de destacar a luta contra os antigos manicômios, consolidada no país
com a promulgação da Lei Federal nº 10.216, de 06/04/2001, a atividade
serviu para recolocar em discussão a matéria da vereadora Aladilce Souza,
que defende o passe-livre no transporte coletivo por ônibus de Salvador para
os pacientes dos Caps. Na Bahia, a luta antimanicomial tem 20 anos.
"Temos muitos desafios pela frente, pois a luta antimanicomial é contínua e
de todos", enfatizou Aladilce, reforçando seu empenho para que o passe-livre
vigore em Salvador para pacientes dos Caps. A vereadora ganhou apoio da
promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia, Silvana Almeida, que
ressaltou se tratar de "uma luta árdua contra um segmento forte e unido".
Ao condenar veementemente os manicômios e defender os Caps, o médico Marcus
Vinícius, representante do Núcleo de Superação dos Manicômios, frisou que "a
saúde não pode ser tratada como mercadoria". Defendeu o fechamento dos 35
mil leitos psiquiátricos existentes no Brasil que, segundo ele, são mantidos
pelo Sistema Único de Saúde.
Luta histórica
O psicólogo Juliano Matos, ex-secretário estadual de Meio Ambiente, pontuou
o papel decisivo da Câmara na luta antimanicomial e lembrou a atuação da
ex-vereadora Yolanda Pires, uma das primeiras na Casa a levantar a bandeira
em defesa dos portadores de distúrbios mentais.
"Somos seres possíveis de viver em sociedade", revelou com o sentimento de
superação Lívia Souza, integrante da Associação Metamorfose Ambulante
(Amea). José Raimundo dos Santos, também da Amea, narrou as suas fugas dos
manicômios e contou como deu a volta por cima, sendo hoje um cidadão
consciente de seus direitos e deveres. "Infelizmente, nasci doente",
desabafou.
Paciente do Caps, Ivonete Brandão disse que não deseja para ninguém o
sofrimento que já passou ao ser internada em manicômios. A coordenadora de
Saúde Mental do Município, Maria Célia da Rocha, destacou a importância dos
Caps municipais e defendeu também o passe-livre para os usuários deste
sistema.
Música e teatro
A sessão especial foi enriquecida com música e apresentações de teatro do
grupo Os Insênicos e homenageou Eduardo Araújo, portador de distúrbio mental
e referência baiana na luta contra os manicômios.
Fizeram parte da mesa de trabalho Edna Amado (Núcleo de Estudos pela
Superação dos Manicômios) e Iordam Gurgel (Coordenação de Saúde Mental do
Estado da Bahia). A vereadora Marta Rodrigues (PT) acompanhou o debate.
Ainda dentro das atividades pelo Dia de Luta Antimanicomial, após a sessão,
foi inaugurada uma exposição, no foyer do Centro de Cultura da Câmara, com
peças de artesanato elaboradas pelos usuários dos Caps. No sábado (22), foi
realizada a 3ª Parada do Orgulho Louco, saindo às 9h30min, do Morro do Cristo,
na Barra.