Em "Tempos Modernos", filme estrelado por Charles Chaplin, a separação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual deixa clara a redução do empregado à condição de máquina. Foi com a exibição da película que a Câmara Municipal de Salvador deu início à sessão especial em comemoração ao Dia Municipal de Prevenção e Combate a Ler/Dort, na manhã de sexta-feira (14), no Plenário Cosme de Farias.
Chamar a atenção para a necessidade de valorização do ser humano no ambiente de trabalho foi a intenção da vereadora Aladilce Souza (PCdoB), que presidiu a sessão e conclamou líderes sindicais, trabalhadores e pesquisadores a lutarem em defesa da saúde e integridade da sua força de trabalho. "Precisamos de uma sociedade que não considere as pessoas descartáveis", afirmou.
O palestrante Sinval Malta Galvão, médico do trabalho e representante do Centro de Estudos de Referência em Saúde do Trabalhador, mostrou mesmo entendimento ao referir-se aos esforços repetitivos que marcam as atividades diárias de profissionais das mais diversas áreas. "A Ler/Dort ocupa o primeiro lugar entre as doenças relacionadas ao trabalho. Trata-se de um problema grave de saúde pública. O ser humano tem características diferentes das máquinas. Se elas se desgastam, imagine uma pessoa", disse.
Para Sinval, a principal questão a ser solucionada é a inversão do ônus da prova da doença, que hoje recai sobre o trabalhador. Ele destaca que a dificuldade para conseguir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) e o benefício previdenciário deixam o trabalhador fragilizado, sem benefício e sem salário. "A inversão do ônus da prova inibirá as grandes empresas".
Empresariado consciente
O representante da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Roberto Macedo, ressaltou que a falta de conscientização do empregador é fator que determina as condições inadequadas do trabalhador. "O empregado sozinho não resolve a questão", declarou.
O descaso das empresas também foi apontado por José Alberto Barberino, presidente do Centro de Estudos, Prevenção e Apoio aos Portadores de Ler/Dort, como causa do adoecimento de trabalhadores, inclusive de mutilações frequentes nas empresas calçadistas.
Apesar dos avanços conquistados na seara trabalhista, o diretor de saúde da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Fernando Dantas, lembrou que a sessão especial, além de comemorar a data, também tem caráter reivindicatório. Ele criticou o procedimento para concessão do benefício pela Previdência Social, cujos peritos solicitam a entrega trimestral de relatórios e exames. "Quem não tem plano de saúde é obrigado a buscar esses exames e relatórios no SUS. Mas eles não conseguem ser obtidos num prazo inferior a seis meses", relatou Dantas.
Também participaram da mesa de debate Edvan Borges de Santana, representando a Secretaria Municipal de Saúde; a procuradora Séfora Graciane Char, coordenadora do Fórum de Proteção ao Meio Ambiente do Estado da Bahia (Forumat); e Anastácio Gonçalves Filho, representando a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego na Bahia.