Diante da frequente falta de energia em diversos bairros de Salvador e em várias cidades do interior do estado, o Sinergia - Sindicato dos Eletricitários da Bahia esclarece o que segue:
Chuva não é a única culpada pela falta de energia, diz sindicato.
Nos últimos dias o caos se estabeleceu na capital baiana. Deslizamentos de terra, inundações e muito transtorno. A cidade parou. Vários pontos de Salvador ainda permanecem sem energia elétrica. Os bairros de São Cristovão, Rio Vermelho, Brotas, Bairro da Paz - onde houve inclusive manifestação de moradores - além de diversas cidades da região metropolitana e do interior do estado estão sem luz desde o início das chuvas. Mas será que só o mal tempo é vilão dessa história?
Após inúmeras reclamações de consumidores nos órgãos de imprensa, a Coelba tenta justificar o caos, colocando a culpa na chuva e no aumento consequente das solicitações, o que dificulta a resolução dos problemas. Em parte isso é verdade. Mas, segundo a direção do Sindicato dos Eletricitários da Bahia - Sinergia, essa desculpa não é totalmente verdadeira. "É preciso lembrar que a empresa deixa de cumprir a sua atividade fim com o objetivo de ampliar o lucro, terceirizando os serviços e minimizando investimentos", destaca Raimundo Lucena, Coordenador Geral do Sinergia. O dirigente explica que os prejuízos que a população amarga é fruto do descaso da Coelba.
"A negligência não pode ser culpa apenas da chuva. Recentemente, tivemos exemplo do descaso com a queda de dois postes de energia no centro de Salvador. A queda de um vitimou, inclusive, o condutor de veículo tipo Ranger que passava pelo local no momento da queda. Outro exemplo foi a queda de uma torre de transmissão na região sul do estado. Em todos os casos não havia chuva para justificar os incidentes", relembra Lucena.
Somente em 2009, foram dezenas de denúncias feitas pelo sindicato sobre falta de manutenção e ausência de investimentos. É preciso, portanto, informar que as ações preventivas dão resultados, entretanto, a Coelba, depois da privatização, só corrige algum defeito nas redes quando a situação fica insustentável. "Toda a manutenção preventiva tem um cronograma anual a ser cumprindo. Mas não é o que está acontecendo. Com a privatização, essas atividades deixaram de ser desempenhadas, e a conseqüência disso são os constantes apagões pelo estado, independente das chuvas", afirma o diretor. Outro exemplo de descaso foi o que aconteceu, exatamente há um ano, no extremo sul da Bahia, onde mais de 68 mil pessoas ficaram sem luz, durante quase dois dias.
De acordo com a direção do Sinergia, a Coelba não possui mais turma própria de manutenção em linhas de transmissão. Com isso, as inspeções para detectar problemas na rede ficaram sob responsabilidade de empresas terceirizadas. "Estas empresas não têm qualificação adequada para realizar intervenções no sistema elétrico. Lamentavelmente, o lema é não fazer, para não gastar, afirma Raimundo Lucena.
As reclamações contra a Coelba seriam bem menores, caso a empresa investisse na modernização das suas redes de distribuição e transmissão adotando, por exemplo, as chamadas redes multiplexada, space ou subterrânea. Estas redes ocupam menos espaço físico e possuem condutores isolados. Ou seja, em caso de contato da rede energizada com árvores ou outros agentes que provocam interrupção de energia durante as chuvas, o transtorno praticamente não aconteceria, já que a fuga de eletricidade é mínima. Curiosamente, estas redes só são utilizadas nas áreas mais nobres da cidade (Pituba, Ondina, Vitória, Itaigara, Caminho das árvores, etc). Já o Subúrbio e outras áreas da periferia de Salvador, além do interior do estado, sofrem com a falta de investimentos que é claramente percebida nestas situações.
Terceirização prejudica também a população - Atualmente, a Coelba possui cerca de 30 empresas de manutenção. Isso equivale, aproximadamente, a oito mil funcionários, divididos entre setor operacional e de manutenção. Essas empresas levam, em média, um ano prestando serviço e muitas nem chegam a cumprir o contrato. Durante a vigência, algumas deixam de honrar seus compromissos com fornecedores e trabalhadores e simplesmente desaparecem.
Ainda segundo a direção, a terceirização dos serviços de energia elétrica não deu certo. Muitas empresas fora da Bahia estão retomando a contratação de pessoal próprio. E já há indicativos da Justiça em forçar a primarização dos serviços. Recentemente, a Coelba foi obrigada pelo MPT a regularizar as condições de trabalho dos funcionários das empresas terceirizadas. É preciso lembrar que por conta dessa situação centenas de trabalhadores já morreram ou foram mutilados por não possuírem conhecimento técnico necessário e aturem em condições degradantes.
Fatores adversos também são encontrados no próprio ambiente de trabalho da Coelba. Diversos profissionais da companhia ultrapassam os limites toleráveis. "Muitos são levados à estafa com acúmulo de atividades e sem intervalo mínimo de descanso. Na área operacional de energia existe um risco inerente à própria função. Quando as condições de trabalho são precárias, esse risco é ampliado", explica o coordenador do Sinergia. No caso dos controladores de sistemas, profissionais que coordenam as redes energizadas durante reparos, por exemplo, há uma sobrecarga acentuada de trabalho nos períodos de chuva. Em condições normais, este profissional já toma conta de uma área enorme e acaba levando risco aos profissionais a quem manda executar o serviço nas redes.
Outro fator que tem contribuído consideravelmente para o caos no fornecimento de energia é a diminuição das chamadas turmas de prontidão. Estas equipes realizavam a manutenção necessária, sobretudo em dias de chuvas, com profissionais capacitados da própria Coelba. Atualmente, mesmo com um aumento considerável do número de consumidores e de solicitações, a empresa praticamente acabou com este serviço, deixando os reparos emergenciais à cargo de empresas terceirizadas, que não qualificam sua mão de obra.
Para corrigir esta situação, o Sinergia tem, insistentemente, denunciado estes descasos. Já entregamos, inclusive, ao Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e ao Ministério Público um Dossiê sobre os problemas. Contudo, a fiscalização tem sido negligente, o que, lamentavelmente, contribui para o crescente número de acidentes com vítimas fatais e transtornos no fornecimento de energia independente dos dias de chuva. Esperamos, assim, com estas informações, ampliar o conhecimento da sociedade sobre a situação caótica na distribuição de energia no estado.