Vai ter até um abraço simbólico ao prédio da Câmara
Na próxima segunda-feira, 17, os servidores da Câmara Municipal de Salvador vão abraçar o prédio da Câmara de Vereadores. Depois, seguem para a Avenida Paralela, vestidos com uma camisa azul, com a foto do terreno dodado pelo então prefeito Fernando Wilson Magalhães e, posteriormente, ocupado por empresários do setor de transporte coletivo.
Os integrantes da Cooperativa Habitacional dos Funcionários da Secretaria da Câmara Municipal de Salvador (Cohafcamus) têm um terreno na Avenida Paralela, para construir um conjunto habitacional, hoje, estipulado em mais de 14 milhões de reais, mas foi ocupado por empresários de ônibus, que se dizem donos.
Casa de ferreiro; espeto de pau. Na Câmara de Vereadores a maioria dos edis não quer comentar sobre este assunto e, segundo a direção da Cohafcamus, o prefeito João Henrique (PMDB), muito menos.
Conheça a história
do terreno doado
Em 1977 o prefeito Fernando Wilson Magalhães doou um terreno de 55.420 metros quadrados, situado na Avenida Orlando Gomes - na época apenas um matagal, a cidade acabava na Estação Rodoviária - aos funcionários da Câmara para, em cinco anos, eles construírem residências.
Os funcionários criaram a Cooperativa Habitacional dos Funcionários da Secretaria da Câmara Municipal de Salvador (Cohafcamus) e registraram a entidade em cartório, para evitar problemas.
Passados os cinco anos nada foi construído. Veio o prefeito Renan Baleeiro e prorrogou o prazo para mais dez anos, caso contrário o terreno seria revertido à prefeitura.
A essa altura a Paralela já se delineava como um local para bons negócios, a cidade crescia para aquele lado, o Imbuí se afirmava como bairro. Então, os donos da Vibemsa perceberam que era uma grande oportunidade para ganhar dinheiro. Não se sabe como, mas os dirigentes da Vibemsa conseguiram, no início dos anos 1990, que o então presidente da Câmara, Osório Vilas Boas, lhes desse apoio. A Vibemsa fez uma escritura e anunciou que o terreno lhe pertencia.
No entanto, os empresários fizeram a escritura em Lauro de Freitas e colocaram um endereço completamente diferente de onde se situa o terreno. Na escritura da Vibemsa, o terreno está localizado no Caminho das Árvores. Resultado: a cooperativa ganhou a questão e provou, com os IPTUs pagos, que estava dentro da lei.
Mas o juiz Eduardo Amadiz, filho do desembargador Amadiz Barreto, fez tudo voltar ao ponto zero, atendendo aos empresários de transporte, concedendo-lhes uma liminar até o julgamento final do mérito.
LIMINAR NA JUSTIÇA
A situação ficou ainda mais complicada quando o prefeito Imbassahy, em 2002, anunciou a doação do terreno a Mãe Stella, para construção de um centro cultural. Houve manifestações dos cooperativados e Mãe Stella veio a público dizer que nada tinha com a proposta de centro cultural.
Imbassahy voltou atrás e reconheceu publicamente que o terreno era da cooperativa. Mas o terreno não foi entregue aos cooperativados por causa da liminar ajuizada na 11ª Vara de Justiça. A Vibemsa, a esta altura, já havia se desmembrado em várias empresas, embora seus dirigentes continuem a ser os mesmos.
Na administração de João Henrique, o então secretário de Governo, João Cavalcanti, admitiu que a prefeitura precisava resolver a questão de uma vez por todas, inclusive porque durante sua campanha eleitoral, o prefeito prometera encerrar o imbróglio.
O terreno hoje é supervalorizado. Situado entre o Alphaville e o Greenville, referências das classes altas de Salvador, transversais da Avenida Paralela, teve seu valor estipulado em 14 milhões de reais, há dois anos.
Gilmar Souza del Rei é o presidente da cooperativa, que desde 1982 faz peregrinações na Justiça, se indispõe com autoridades, mas continua com a esperança de resolver o caso ainda este ano. O telefone dele é 9131-0559.
Gilmar tem em mãos todos os documentos, desde a doação há 30 anos, até os IPTUs, inclusive da Vibemsa.