Pescadores se reúnem, hoje, para protestar
O CRA não considerou que indústrias poluem o mar da Baía de Todos os Santos (F/G)
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A população das localidades atingidas pela tragédia ambiental na contra costa da Baía de Todos os Santos, ambientalistas e pescadores estão pondo em dúvidas os resultados apresentados pelo CRA sobre a mortandade de 60 toneladas de peixes, atribuidos a maré vermelha.
A rigor, não discutem os resultados do laudo em sí, mas, porque o CRA omitiu prováveis agentes poluidores da Baía de Todos os Santos, entre eles, a Petrobrás, órgão dirigido pelo petista Sérgio Gabrielli.
Desde o início das investigações os técnicos do CRA não descartavam a atuação dos agentes químicos como provocadores da tragédia, indutores da maré vermelha, e isso está inserido no site do próprio CRA.
TRECHOS À IMPRENSA
NO SITE DO CRA
- O diretor de Fiscalização do Centro de Recursos Ambientais, o engenheiro químico Ronaldo Martins, mais uma equipe multidisciplinar formada por coordenadores, assessores e técnicos do órgão estiveram reunidos na manhã do dia 22, juntamente com a diretoria da Hydros - empresa de consultoria que recentemente realizou um diagnóstico para o CRA sobre a Baía de Todos os Santos - para analisar os primeiros resultados dos laudos técnicos que começaram a chegar ao CRA encaminhados pelo laboratório do Centro de Tecnologia Industrial Pedro Ribeiro - Cetind, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Senai.
- Nas fiscalizações realizadas pelo órgão ambiental foi verificada uma extensa mancha entre as cores vermelha/ ferrugem, a 150 metros da praia - numa dimensão que vai da localidade de Bom Jesus dos Pobres até São Francisco do Conde, passando por Cabuçu, Saubara, Itapema e Acupe. De acordo com as observações de campo essa mancha era constituída por algas marinhas. Coleta dessas algas já foi efetuada e enviada para laboratório especializado em São Paulo, para a identificação após espécies e sua toxicidade.
-O CRA, entretanto, ainda não descarta a possibilidade de contaminação química decorrente dos empreendimentos localizados na área como gasodutos, fábrica de papel, fazendas de camarão, entre outros, e por isso mesmo tem realizado varreduras e monitoramentos diários, desde o dia 8 de março, quando a autarquia foi informada da mortandade de peixes, mariscos e crustáceos na região.
RESULTADOS FINAIS
De repente, o CRA divulga os laudos oficiais e destaca que os peixes morreram por asfixia ao ingerirem microalgas que se proliferam por falta de chuvas e excesso de nutirentes na água. Os técnicos só colocaram que isso decorreu de fatores climatológicos e descartou que a contaminação tenha sido provocada por sub stâncias químicas de origem industrial admitindo que "houve erro de análise que a identificou na amostra".
O que está causando surpresas é exatamente o fato do CRA não denunciar a poluição industruial nessa área da Baía de Todos os Santos, sequer mencionar quais as empresas que estariam poluindo essas áreas e quais as influências desse processo na mortandade dos peixes.
QUESTIONA VERSÃO
OFICIAL
Os pescadores da região atingida pela mortandade de peixes farão uma reunião nesta quinta-feira para discutir o resultado do laudo. O presidente da Colônia da Associação de Pescadores e Marisqueiras de Conceição de Salinas da Margarida, Raimundo Celestino, questiona a versão oficial e considera o laudo "contestável".
"Para mim este laudo é do governo, queremos outro laudo para ver se bate", afirma.
A desconfiança do pescador vem do fato de a divulgação ter sido antecipada em dois dias antes do previsto e um dia depois de um protesto de pescadores e marisqueiras em Salvador. "Algumas informações estão desencontradas, Achei muito estranho a divulgação ser adiantada, já que só iriam divulgar na sexta", lembra.
O pescador garante que biólogos por ele consultados relacionam a Maré Vermelha à presença de esgotos. "Neste caso, isso deveria acontecer de Salvador para cá, já que em Salinas praticamente não tem esgoto", argumenta.
O presidente da Colônia de Pesca de Acupe, João Sacramento Ribeiro, também não acredita no resultado do laudo. "Eu tenho quase cinqüenta anos de pescaria e nunca vi nada parecido", conta. Descrente, diz que nunca acreditou em um laudo satisfatório.
Outro pescador que se vale da longa experiência no mar para contestar as informações dos especialistas é Waldir Borges, de 75 anos e na atividade desde os 12. "Para mim o laudo é uma mentira, nunca vimos isso", dispara o pescador. Ele garante que não parou de comer o pescado mesmo após a proibição da coleta e consumo de frutos do mar na região pelo Ibama.