As religiões de matriz africana e o culto à ancestralidade foram tema da sessão especial realizada na tarde desta quinta-feira (02) na Assembléia Legislativa da Bahia. "Berço da nacionalidade brasileira, a Bahia preserva as raízes de matriz africana através da cultura ancestral. O culto se perpetua graças a resistência e persistência de homens e mulheres que mantiveram sua religiosidade, apesar de todas as perseguições".
Essa foi a justificativa do deputado estadual Rosemberg Pinto, proponente do evento.
A sessão homenageou algumas personalidades com presença marcante na defesa das raízes africanas: Mestre Didi (Ilê Asipá); Júlio Braga de Santana - Professor UFES/UFBA; Afoxé Filhos de Gandhy; Mãe Estela de Oxossi - Ilê Axé Opo Afonjá; Paulo César de Oxumarê (Baba PC) - Ilê Axé Oxumê; Mãe Carmem do Gatois - Terreiro do Gantois; Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Terreiro da Casa Branca); Pai Laércio (Jauá / Angola); Ilê Agboula - Itapacarica - Ancestrais em memória - Hermogenes José, conhecido como Seu Coisinha, Eduardo Daniel, Antonio Daniel, Domingos dos Santos, Vivaldo Mauricio) e Ilê Tuntum.
Rosemberg disse que o objetivo foi trazer à Casa o debate sobre a reidentificação da sociedade brasileira. "A identidade do País precisa ser recontada com suas matrizes africana, européia e índia. A sociedade brasileira já é reconhecida pela seriedade e o respeito à diversidade e esse resgate deve ser fortalecido". O deputado elogiou a forma como o tema vem sendo tratado, partindo da discussão dentro da academia, à introdução do tema no ensino fundamental.
A sessão foi aberta pelo presidente da Alba, Marcelo Nilo, que passou a condução dos trabalhos para o proponente, Rosemberg. Presentes à mesa o filosófo e professor Marco Aurélio Luz, o secretário Elias Sampaio (Promoção da Igualdade), representando o governador Jaques Wagner; Ailton Ferreira (secretaria de Promoção da Igualdade da cidade de Salvador), a senadora Lídice da Mata, deputado federal Luiz Alberto, vereador por Salvador, Moisés Rocha; Mãe Nice, da Casa Branca; Major Peixinho, a representante do ministério da Cultura, Nairobi Aguiar e o secretário da Justiça, Almiro Sena; Arani Santana, Secult. O evento contou com a paticipação do Afoxé Filhos de Ghandi, entre outros movimentos culturais.
O deputado federal Luiz Alberto elogiou a iniciativa de Rosemberg e fez uma referência à presença cultural africana em Salvador. Ressaltou que a intolerância religiosa ainda está presente, inclusive, na política, com alguns partidos políticos no Brasil que têm como fundamento político a religião.
"Na história da humanidade várias catástrofes aconteceram devido a vinculação entre religião e política na disputa do poder. Essa relação ainda está viva". A senadora Lídice da Mata ressaltou a importância da valorização da identidade cultural e religiosa, quebrando tabus e afirmando a religião de matriz africana. Lembrou também do centenário do escritor Jorge Amado, comemorado no próximo dia 6 de agosto, que revelou para o mundo a influência da religião africana na sociedade brasileira.
O momento de palestra foi reservado ao professor Marco Aurélio Luz, que falou sobre a liturgia das religiões de matriz africana sempre precedida do culto aos ancestrais. "A humanidade evoluiu enquanto espécie por viver em sociedade com valores e linguagens. A ancestralidade é que garante a continuidade dos valores e a tradição religiosa".
"A Bahia é provavelmente a mais importante referência africana no mundo, mercê da incomparável influência daquelas culturas e sociedades na formação de uma identidade nacional", salientou Rosemberg. "Não se trata de homenagear apenas a religião, é acima de tudo, homenagear as raízes que solidificaram as características principais que mantém a magia, o sincretismo e a mística que encanta os baianos e os brasileiros", enfatizou o parlamentar.