A disputa entre o prefeito Luiz Caetano (PT) e o seu ex-companheiro de partido e aliado histórico, vereador Cleber Alves (PRTB), ganhou mais um capítulo com a mudança de direção da Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e da Pesca. Controlada por Alves desde a sua criação, em junho de 2011, a Sedap passa para as mãos de adversários do ex-petista e praticamente vira uma secretaria de Vila de Abrantes.
A posse de João Bosco Alves de Miranda Ramalho, morador da comunidade, sexta-feira (6/7), a manutenção do subsecretário, José Jorge Costa Queiroz, indicação de Alves, agora seu adversário, e a nomeação do padre Luiz Orlando de Oliveira, da Paróquia do Divino Espírito Santo, como assessor especial da secretaria, é mais um capítulo da ‘queda de braço', entre os ex-aliados.
Com um orçamento de R$ 2 milhões, a Sedap é uma das menores estruturas das 21 pastas do governo. Nas mãos da sua esposa, Márcia Guimarães, até a semana passada, quando entregou o cargo, num indicativo de que não ficaria com o governo, a pasta agora ganha a cara de Vila de Abrantes, tido como o principal reduto de Alves.
A estratégia do prefeito Caetano, que tenta ‘enterrar' o vereador desde as eleições de 2008, é reduzir o espaço do agora vice na chapa do pepista Zé de Elísio, considerados fortes no eleitorado da orla, com cerca de 30 mil votantes, aproximadamente 25% do total de 140 mil eleitores de Camaçari.
Desde os tempos em que viviam sobre o mesmo teto petista, Alves e Caetano experimentaram uma relação intensa de amizade e parceria política, com momentos de ‘amor e ódio'. Sem ‘papas na língua', o vereador não economizava críticas e elogios ao governo, fora e dentro do plenário da Câmara, num movimento que causava mal estar, ao mesmo tempo em que alegrava a base aliada. Zangada com o chefe pela falta de espaço político, mas incapaz de externar de forma clara o descontentamento com as ações ou falta de ações governamentais, partidos governistas e até petistas vibravam com a rebeldia.
Apesar de aliados desde 2004, os interesses comuns e as formas de atuarem politicamente não garantiam um pacto com ‘liga' duradoura. Em 2007, Alves ainda sob o 1º mandato, assegurado com 1.977 votos, a maior do PT, foi para a reeleição sob marcação serrada. A professora Patrícia, jovem liderança petista de Vila de Abrantes, capitaneou um bloco de candidatos lançados pelo prefeito, na tentativa de furar as bases do aliado. Hábil, Cleber Alves garantiu a reeleição, mas ficou com a última das 5 vagas do partido.
Até o rompimento, com a saída da base aliada e a adesão a Zé de Elísio (veja reportagem), Alves protagonizou disputas e escândalos. Mesmo rebelde, viu as tentativas de expulsão do PT (veja reportagem) serem neutralizadas por movimentos, ainda que nunca assumidos, mas reconhecidos como orientados pelo próprio prefeito. Político que dá os anéis para não perder o dedo do poder, Caetano voltou a ser flexível, ao ‘lavar as mãos' no caso do focus branco (veja reportagem), usado indevidamente pelo então aliado, mas protegido pelo misterioso manto da política. Agora é aguardar os próximos movimentos do jogo.
Texto: João Leite