Ao final do seu discurso, alguns prefeitos pediram da plateia que a presidente comentasse sobre a distribuição dos royalties do petróleo.
Ela respondeu: "Petróleo, vocês não vão gostar do que eu vou dizer. Não acreditem que vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás. Lutem pela distribuição de hoje para frente". Nesse momento, a presidente foi vaiada e encerrou o discurso.
Os royalties são tributos pagos pelas empresas aos estados de onde o petróleo é extraído, como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. A nova proposta já aprovada pelo Senado prevê a diminuição do repasse aos estados produtores e um aumento para os que não produzem o óleo. O projeto está agora na Câmara, onde foi criado um grupo de trabalho para analisar a matéria.
Antes da fala de Dilma, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) - órgão que organiza a Marcha dos Prefeitos - , Paulo Ziulkosky, já havia defendido a distribuição igualitária das receitas do petróleo.
"A imprensa dizendo que os municípios produtores têm direito. Não tem município produtor, nem estado, o que tem é confrontante. O que aquele município fez para ter aquele petróleo? Ninguém está mexendo em contrato. Queremos honrar todos os contratos, o que estamos discutindo é a apropriação do produto do contrato", declarou.
Enfrentamento federativo
Paulo Ziulkosky fez um discurso duro diante da plateia lotada de prefeitos - mais de 2500 estavam presentes. Ele afirmou que o país precisa fazer um "enfrentamento federativo". "Nossa federação está incompleta, ainda tem que ser construída. Precisamos ter um novo pacto", afirmou.
Ziulkosky afirmou que cabe aos prefeitos sanar a "dívida social" que o país tem com sua população. "Essa dívida social cabe a nós basicamente. 75% das metas do milênio, para ser cumpridas, depende das prefeituras". Apesar disso, declarou, os municípios estão "estrangulados".
O presidente da CNM manifestou descontentamento com diversos pontos, como os restos a pagar, a criação de pisos salariais, a emenda 29 (que destina recursos à saúde), distribuição dos royalties do petróleo e a política de resíduos sólidos.
Ziulkosky afirmou que tem ocorrido uma "proliferação de pisos" salariais e reclamou em especial dos magistrados. "Nenhum prefeito é contra o piso, mas precisa ser um piso que possamos cumpri-lo", disse.
'Gesto heroico'
O presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, Joao Coser, lembrou que apenas 36% dos municípios tem aterro sanitário, em referência à política de resíduos sólidos que foi aprovada no ano passado. Ele reclamou que os municípios não têm recursos para acabar com os lixões.
"Sabemos que é importante acabar com os lixões no Brasil, mas a lei é aprovada aqui em Brasília e a conta fica com nossa responsabilidade", afirmou. "Ser prefeito hoje é quase um gesto heroico", concluiu Coser.
Dilma afirmou que seu governo pretende firmar "parceria respeitosa e produtiva com os estados e municípios" e lembrou que começou sua vida pública como secretária de Fazenda da cidade de Porto Alegre. "É impossível transformar o Brasil do ponto de vista social se nós não contarmos com os governadores e prefeitos", disse.