Política

GUERRA DO PÃO: PANIFICADORES RESISTEM CONTRA FÉCULA DE MANDIOCA NO PÃO

vides
| 08/05/2012 às 08:25
Pão "francês" ou "cacetinho" teria 10% de fécula de mandioca pela lei Negromonte
Foto: DIV

O setor de panificações resiste contra o projeto de lei do deputado estadual Mário Negromonte Júnior (PP), que prevê a adição de até 10% de fécula de mandioca à farinha de trigo para a produção do "cacetinho". De acordo com o presidente do Sindicato dos Panificadores da Bahia (Sindipan), Mário Pithon, a proposta não se sustenta.


Entre os motivos está a baixa produtividade da mandiocultura no estado - algo em torno de 12 toneladas por hectare, inferior à média nacional. "O projeto não leva em consideração que, São Paulo, por exemplo, com produção de 24 toneladas por hectare, pode inundar o mercado baiano com produtos mais baratos. Até mesmo as fecularias instaladas aqui podem passar a comprar mandioca de estados que pratiquem preços mais competitivos", analisa.


Para o presidente do Sindipan, o governo deve colaborar com a atividade de outra maneira. "Há quem diga que, na Bahia, a agricultura familiar conta apenas com três incentivos: a mão, o facão e o carrinho de mão. Grande parte desses produtores desconhecem as informações básicas para aumentar a produtividade".


O projeto, ainda segundo Pithon, não tem consistência. "A proposta não informa como será feito o controle da comparação dos preços do trigo e da fécula, que podem oscilar em um mesmo dia", diz. Também não existe qualquer garantia de que ele contribuirá, efetivamente, para melhorar a vida do agricultor. "Só podemos afirmar que o projeto é ótimo para quem tem a intenção de construir fecularias na Bahia", alfineta.


O sindicalista chama a atenção para a concorrência da mandioca com outras fontes de amido, como o milho, o arroz e a batata. "É incoerente obrigar a utilização de amido de mandioca quando poderíamos ter outras opções até mais em conta e com a mesma composição".


De acordo com Pithon, o projeto é inconstitucional e fere a livre iniciativa. "Se fosse bom, o setor já teria adotado a substituição em definitivo. Mas a ideia apresentada pelo deputado ignora a lei de mercado. Obrigar uma mudança de hábito num regime democrático é retrocesso", pontua.


O presidente do Sindipan ainda rebate a ideia de que a redução do glúten no pãozinho traria benefícios aos portadores de doença celíaca. "Àqueles com intolerância ao glúten, os médicos recomendam a abstenção total da substância, não adiantando apenas diminuir o consumo".