Antes de começar a sessão, por volta das 17h30 da última terça-feira (24), já era grande a movimentação na Rua Landulfo Alves, onde fica a sede da Câmara de Vereadores e por precaução o presidente da Câmara, Renato Pereira Soares (PR), solicitou a presença da polícia militar, que enviou doze PMs, sob o comando do tenente Joselito. Durante toda sessão, duas viaturas permaneceram estacionadas na porta da câmara.
A sessão - Com o plenário lotado e algumas pessoas em estado visível de nervosismo, protestando em voz alta com palavras ameaçadoras, caso os vereadores não aprovassem os pedidos do executivo e outras, portanto cartazes onde afirmavam que a economia do município necessitava continuar em alta, que os funcionários públicos precisavam pagar seus débitos e que os vereadores, que pediram seus votos, votassem a favor deles, a sessão teve inicio ás 18h.
Mesmo com outras matérias em pauta, as pessoas presentes queriam apenas saber do projeto de autoria do executivo. Às 18h30, o presidente colocou em apresentação o projeto de nº 42, onde o prefeito solicitava a suplementação, ocorrendo neste momento uma reação popular com muitas pessoas falando em voz alta ao mesmo tempo e alegando não ter condições de continuar os trabalhos, o vereador Renato suspendeu os trabalhos, irritando ainda mais o público que reagiu ocupando as portas de acesso a câmara, impedindo que os vereadores da oposição saíssem.
Operação policial - Diante a situação, pois o clima de tensão aumentava a cada momento, foi solicitado reforço policial e chegaram, inicialmente, duas viaturas de Capela do Alto Alegre e uma da cidade de Gavião. às 20h57, sob o comando do tenente Peixinho, chegou uma guarnição de Riachão do Jacuipe. Neste momento, houve uma primeira tentativa de evacuar a área, quando o ten. Peixinho, usando de mega fone, tentou convencer os manifestantes a se afastarem e deixarem os vereadores sairem, porém a iniciativa foi frustrada.
O momento de maior tensão aconteceu às 21h quando houve uma queda de energia e algumas pessoas aproveitaram da escuridão e apedrejou o veículo Fiat Uno pertencente à Arielson Lopes, esposo da vereadora Reinalda Mendes dos Santos (DEM), que estava estacionado nas imediações da câmara e por pouco não foi incendiado. Com o retorno da energia, um dos autores do ato deixou cair um vaso de refrigerante pet com dois litros gasolina próximo ao carro.
Mesmo com a presença de vinte policiais no local, o povo não se intimidava e se mantinha firme no local e com os nervos mais acirrados, pois, por volta das 23h, muitas destas pessoas consumiam bebidas alcoólicas e queixavam das dificuldades que estavam pansando em consequência dos salários atrasados e veiculavam esta situação a não aprovação do pedido de suplementação do orçamento solicitada pelo prefeito Manoel dos Santos.
Às 23h40, chegaram os policiais do grupo Ceto de Feira de Santana e mais uma viatura com policiais militares da sede do 16º Batalhão de Serrinha, no comando do Coronel Vitor Santana. Neste momento, estavam estacionadas na Rua Landulfo Alves, oito viaturas. Uma nova tentativa de acordo com os manifestantes foi feita, desta vez pelo Coronel Vitor e mais uma vez não houve sucesso. A tensão aumentava a cada momento, pois, mesmo o Coronel tentando convencer os manifestantes a saírem, eles reagiam e falavam mais alto que o oficial e em determinados momentos, vaiavam os policiais.
O Coronel Santana, entreviu junto aos quatro vereadores da situação, pois entendeu "que estavam bem com o povo" e eles não quiseram se interferir para "não se queimarem politicamente", segundo falaram ao coronel, pois em outra situação se manifestaram desta forma e não foram compreendidos.
Esgotadas as condições de negociação, a solução foi preparar as duas viaturas próximas das portas da câmara, ás 0h38, foi formado um cordão de isolamento com os policiais, permitindo que os vereadores enfim deixassem a câmara para entrarem nas viaturas.
Primeiro José Carlos Santos de Oliveira (PDT), conhecido por Bazia, depois a vereadora Renalda Mendes dos Santos (DEM), seguindo dos vereadores Marcos Aurélio Xavier (PR), José de Assis Oliveira Porto (DEM) e por último, o presidente da Câmara, Renato Pereira Soares (PR). Os vereadores saíram e rapidamente entraram nas viaturas, que saíram em alta velocidade. Os cinco vereadores de oposição ao governo municipal ficaram pouco mais de seis horas encurralados.
O prefeito Manoel dos Santos permaneceu todo tempo no gabinete da Prefeitura acompanhando a situação. No dia 17 de novembro de 2009, houve uma sessão com igual tensão na Câmara de Vereadores de Nova Fátima, que terminou com apedrejamento e um quebra-quebra na sede do poder legislativo. Na terça-feira, 17 de agosto de 2010, aconteceu mais uma sessão tumultuada quando dezenas de pessoas foram conferir a votação dos projetos que solicitam Créditos Adicionais para a Prefeitura do município. A votação não ocorreu, porém ficou firmado entre os dois poderes.
Presos fogem da cadeia de Capela do Alto Alegre - Por volta das 19h30 enquanto se mantinha todo este aparato policial, a 25 km de distância, na cidade de Capela do Alto Alegre, dois presos, apelidados de Júnior, acusado de roubar celular e Marcone, acusado de arrombar uma escola municipal, fugiam da cadeia, serrando as grades da sela.
Funcionários em greve - Diante do não pagamento dos salários e o impasse entre os poderes executivo e legislativo, os funcionários municipais, depois de realizarem uma assembléia no Sindicato da categoria, resolveram paralisar as atividades por tempo indeterminado, até que a situação seja resolvida. A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Nova Fátima, Almirete Maia Pinheiro disse a equipe do CN que os funcionários são quem estão sofrendo com esta disputa de poder. "Nós queremos os nossos direitos e diante da situação realizamos uma assembléia, pois estamos com os salários atrasado e nós não temos nada com a briga do prefeito com a câmara e decidimos entrar em greve por tempo indeterminado até decidir quem é culpado, se perfeito ou vereadores. O que nós queremos é o respeito com categoria e não temos nada com esta briga", afirmou.
Entenda o caso - Toda esta polêmica começou com um pedido do prefeito Manoel Santos (PT) para que os edis votassem um projeto de suplementação orçamentária e, segundo os parlamentares, os pedidos eram irregulares. Por conta da falta de acordo, trabalhadores da prefeitura de diversos órgãos e até mesmo as dívidas com gasolina nos postos não foram pagos. Segundo opositores, o prefeito queria 100% de suplementação depois de ter usado apenas 5% do dinheiro do orçamento anual e que, ao parar serviços públicos e acusar os vereadores de impedirem que o dinheiro chegue aos cofres públicos, Manoel Santos tenta forçar a aprovação da irregularidade.
A matéria vem causando polêmicas e segundo o líder do governo, vereador Manoel Fernandes Araújo Filho (PT), no dia 16 aconteceu uma reunião onde participaram alguns vereadores e técnicos do governo e surgiu um acordo para retornar o projeto ao Poder Executivo para ajustes. Em vez de 30% os vereadores da oposição acordaram votar numa suplementação de 10%, o que deveria acontecer na sessão de terça-feira (24).
Segundo o vereador Marco Aurélio (PDT), primeiro secretário da câmara, o contador da prefeitura conhecido por Joaquim, que estava presente na reunião do dia 16, afirmou que a prefeitura tinha condição de pagar aos funcionários municipais referentes ao mês de julho e que a suplementação de 10% era para ser usado para o pagamento do mês de agosto. Marco Aurélio disse ainda, que o projeto foi devolvido e encaminhado para o prefeito afim que houvesse a modificação no teor, porém, ele retornou com um novo projeto, daí ter que acontecer toda tramitação, desde sua apresentação e as duas votações.
A Câmara de Vereadores de Nova Fátima tem nove vereadores. São cinco da oposição e quatro da situação.
O prefeito Manoel dos Santos, disse que tem dinheiro, porém não tem dotação para efetuar os pagamentos e precisa da aprovação da câmara. Como consequência garante que está sem condições de realizar pagamentos ao funcionalismo público e fornecedores "e o resultado é um povo estressado, comercio parado e ameaças", falou.
Por outro lado, lideranças da oposição culpam o prefeito Manoel pela situação de tensão que vive o município, pois as pessoas que estão à frente das manifestações, são próximas do chefe do executivo e a intenção é colocar o povo contra os vereadores. Questionado se esta posição não lhes causam desgaste político, eles disseram que as pessoas que estiveram na manifestação eram todas ligadas ao grupo do prefeito e garantem que a intenção era desgastar os vereadores da bancada da oposição.
O CN foi o único site que esteve na cidade e realizou a cobertura completa e está satifeito por colaborar com os demias parceiros da comunicação.
Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas