Dermatologistas e membros da Associação Baiana de Portadores de Psoríase (Abapp) foram à Câmara Municipal para dar destaque às reivindicações por políticas públicas específicas para a doença. Para tanto, participaram da gravação de um programa especial na TV da Câmara Municipal de Salvador, que será exibido por diversas vezes durante sua programação.
O vereador Odiosvaldo Vigas (PDT), que também é médico, foi o idealizador do programa. Ele está à frente também da organização de uma audiência pública para discutir o tema, além de já ter inscrito a Abapp para participar da próxima Tribuna Popular a ser realizada em sessão ordinária na Câmara.
A médica Ivonise Fallador, dermatologista, membro do Ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas), atentou para o grande preconceito que existe na sociedade por conta da falta de conhecimento sobre a doença. Ela explica que a psoríase é uma doença genética, mas que na maioria das vezes só vem a se manifestar em situações de tensões emocionais. Por ser genética, a doença não é contagiosa, e não leva os seus portadores a morte. "A psoríase não escolhe raça nem sexo, mas causa muito preconceito", lamentou.
A médica Maria de Fátima Paim, também dermatologista e membro do Ambulatório de Psoríase do Hospital das Clínicas, acrescenta que a doença é extremamente freqüente, havendo cerca de 5 milhões de portadores somente no Brasil. Com o tratamento adequado, ela garante, os sintomas podem se atenuar.
"A chave para diminuir o preconceito é o conhecimento. São lesões muitas vezes bizarras, desfigurantes, e as pessoas até se assustam, mas não por mal, por desconhecimento mesmo. Existem muitas pessoas que vivem escondidas por medo do preconceito, do constrangimento, e acabam deixando de viver", afirmou. Para Maria de Fátima, uma campanha para informar os cidadãos sobre a doença deve ser alvo de uma política pública.
Especialização
Ivonise Fallador frisou que um dos grandes problemas dos portadores de psoríase é a dificuldade encontrada no diagnóstico da doença. "Temos que preparar os médicos da rede básica de atendimento e dos postos do Programa Saúde da Família, pois muitos médicos ainda nem conhecem a doença e receitam excessivos usos de corticóide", revelou. Ivonise acha necessária a colaboração dos médicos do município no tratamento dos pacientes portadores de psoríase, pois, segundo ela, apenas o Hospital das Clínicas não possui estrutura para atender toda a Bahia.
Medicamentos
Uma das dificuldades para grande parte dos portadores da psoríase, como explica Maria de Fátima Paim, é o alto preço de alguns remédios que não são disponibilizados pelo SUS. Ela ressalta a importância que estes medicamentos possuem para parte dos doentes que, apesar de se submeterem a diversos tratamentos, não obtiveram resultados e os sintomas se desenvolveram gravemente. "É preciso incluir os remédios biológicos na lista do SUS. O preços destes são extremamente caros, mas são essenciais para o tratamento em alguns casos", defendeu.
Centro de tratamento
é visto como prioridade
Uma das prioridades solicitadas pelo Abapp aos poderes públicos é a construção de um centro de tratamento da psoríase. A médica Maria de Fátima Paim explica que os portadores da doença possuem o índice de obesidade, hipertensão e diabetes maior do que a população em geral; e para tratar estas conseqüências da doença, segundo ela, torna-se necessário um centro de atenção dedicada, com o atendimento de psicólogos e nutricionistas. "O centro tem de disponibilizar também o tratamento com fototerapia, que é muito importante para os portadores não só de psoríase, mas também de vitiligo, psoríase, eczemas crônicos. Somente no Hospital das Clinicas a fototerapia está disponível gratuitamente pelo SUS na Bahia", afirmou.
Membro da Abapp, a portadora de psoríase Vânia Coelho enfatizou a importância de se disponibilizar psicólogos para os doentes, já que, contando sua experiência, ela acentua o forte preconceito que teve de enfrentar: "As pessoas precisam ser felizes, viver. Se você se render ao preconceito, vai ficar preso em casa. Eu sofri muito. Não conseguia ir ao salão de beleza perto de casa com medo do constrangimento. Hoje eu trabalho e a doença não me limita a fazer nada", aconselhou