Ele tem mantido conversas com os governadores de São Paulo e de Minas Gerais, José Serra e Aécio Neves. E já colocou na rua seu figurino mais brando. Com a fala mansa e usando uma camisa pólo para fora da calça, Neto evoca um ar mais despojado. Durante a entrevista, em seu escritório em Salvador, come alguns pedaços de abará (bolinho típico baiano) com vatapá e camarão em cima da mesa de trabalho onde convivem a bíblia, uma imagem de Nossa Senhora, um colar dos Filhos de Gandhi - bloco de música afro - e um olho grego para espantar mau olhado. Disputa na BA desafia aliança Wagner-Geddel Raquel Salgado 02/04/2008
A primeira disputa eleitoral na Bahia sem a presença do senador Antonio Carlos Magalhães, embaralhou as alianças políticas no Estado. Será a primeira prova de fogo para a aliança dos novos caciques da política baiana, o governador Jaques Wagner (PT), e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB). |
O ministro aposta todas as suas fichas na reeleição do prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), contra o qual se lançarão o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), rompido com o carlismo e em rota de aproximação com o governador petista, além do deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM). |
Com um eleitorado mais avesso ao carlismo do que o resto do Estado, Salvador reelegeu um prefeito apenas uma vez desde a redemocratização e nem sempre vota no candidato apoiado pelo governo do Estado. O que está em jogo é muito mais do que a cadeira da Prefeitura de Salvador. O arranjo das forças políticas - que agora estão bastante pulverizadas - será essencial para a definição do cenário do pleito de 2010. |
Os partidos mais à esquerda no espectro político, como o PSB, PCdoB e o próprio PT, podem lançar candidatos próprios, respectivamente: Lídice da Mata (ex-prefeita e atual deputada federal), Olívia Santana (vereadora) e Nelson Pellegrino (deputado federal). |
A expectativa do DEM é que a fragilidade do atual prefeito, mal avaliado pela população, possa ajudar o partido a estancar ou pelo menos amenizar a sangria vivida pelo partido na Bahia desde 2004, quando perdeu a capital. |
O PT, por sua vez, precisa se fortalecer para as eleições estaduais, mas ainda não definiu suas fichas este ano. Está entre a candidatura própria do deputado Nelson Pellegrino (PT), o apoio a João Henrique, ou aliança efetiva com o PSDB de Imbassahay. Esta última opção, além de selar o esfriamento das relações entre Wagner e Geddel, colocaria o governador no mesmo rumo aberto pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, de aproximação entre petistas e tucanos. |
Já a dificuldade a ser enfrentada pelo DEM e por Antonio Carlos Magalhães Neto, candidato à eleição da capital e que tem em mãos a missão de reerguer o partido, não é apenas a ausência do ex-comandante, ACM. |
Sem cargos relevantes no Estado e na esfera federal, além da perda do apoio de muitas prefeituras, está complicado para o partido representante do carlismo se colocar como real alternativa de poder para os baianos. "Minha candidatura não será fruto apenas de um desejo pessoal, mas de um apelo do partido após sofrermos significativas derrotas", declara o deputado federal ACM Neto. |
Além disso, o DEM não conta mais com a máquina partidária: estima-se que cerca de 120 prefeitos tenham deixado a legenda no ano passado e migrado, em sua maioria, para o PMDB; não tem mais cargos federais e também não poderá utilizar tanto o seu poder midiático. A rede Bahia, de propriedade da família de ACM, que tem seis filiadas da Globo no Estado, começou um processo de profissionalização este ano e tende a ser mais isenta nessas eleições. |
"O DEM ficou reduzido a seu núcleo duro. A base que em 2004 sustentou César Borges, candidato do partido, foi esfacelada", avalia Joviniano Neto, professor do Centro de Recursos Humanos (CRH) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O pesquisador refere-se à saída de Imbassahy do DEM. Em 2005, ele rompeu com o então PFL e se filiou ao PSDB. |
O resultado é que agora em 2008, Imbassahy e ACM Neto deverão se enfrentar. A parte mais conservadora também está dispersa e o apoio que há quatro anos ficou concentrado no candidato do PFL, está difuso entre o DEM e o PSDB. |
O ex-prefeito tucano, por outro lado, não quer mais estar atrelado ao carlismo. Sua idéia é buscar o apoio do governador Jaques Wagner, a quem deu suporte nas eleições de 2006. Ao mesmo tempo, Imbassahy ainda é visto com simpatia por um terço dos eleitores afinados com o jeito carlista de fazer política, o que pode fazer com que ele tire votos de ACM Neto. |
"Não acho ruim receber esses votos", diz o tucano. Mas ele conta que está de olho nos insatisfeitos com a gestão do atual prefeito e que, ao mesmo tempo, simpatizem com o PT. "Como disse Fernando Henrique Cardoso, do jeito que o PT e o PSDB estão, seremos a vanguarda do atraso. Acredito que os dois partidos têm quadros excelentes na Bahia e uma aliança fortaleceria ambos", explica. |
Os ganhos do PT com essa aliança são menos evidentes, mas apontam na busca de Wagner por um rumo desatrelado do de Geddel . Em jogo, a disputa de 2010, que, dado o apetite do ministro, pode transformá-lo de aliado de primeira hora a rival do governador. |
O ministro tem buscado, e conseguido, cargos federais com representação na Bahia. O exemplo mais recente é a superintendência da Sudene, que ficou para Paulo Fontana, nome por ele indicado. |
"Geddel é paciente, por isso pode ser que não queira já em 2010 partir para o embate com Wagner e continue na base de apoio. De qualquer forma, ele está cada vez mais forte", avalia o professor Paulo Fábio Dantas Neto, da UFBA. |
Sua tática, segundo o estudioso da política baiana, é bastante semelhante à utilizada pelo senador ACM: manter-se forte tanto na esfera estadual quanto na regional. "A isso se deve a longevidade do carlismo. Quando seus políticos perderam espaço no governo federal, seu poder começou a refluir", analisa Dantas Neto. Resta saber se as demais forças políticas vão deixar que isso aconteça novamente. |
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