Na carta que entregou ao presidente e leu na entrevista coletiva logo depois, a ministra admitiu o erro no uso do cartão corporativo e disse que havia sido orientada por sua assessoria a pagar hospedagens, alimentação e aluguel de veículos com o cartão governamental.
Matilde já admitiu que fez pelo menos uma compra pessoal com o cartão governamental em um free shop, em agosto do ano passado, no valor de R$ 461,16. Ele disse que foi um engano e devolveu o dinheiro para os cofres públicos neste mês.
A situação política da ministra piorou quando ela tentou explicar os gastos para os ministros da Comunicação Social, Franklin Martins, a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro das Relações Institucionais, José Múcio.
Os colegas viram que ela dificilmente teria como se defender dos ataques políticos que surgiriam no Congresso. No ano passado, ela gastou mais de R$ 171 mil com o cartão corporativo.
Na quinta-feira, ela permaneceu reunida com todos os seus assessores para tentar dar explicações públicas sobre os gastos, mas acabou preferindo sair do governo para se defender e evitar problemas para o governo no Congresso.
O governo reagiu rápido desde que os gastos dos ministros com cartão corporativo começaram a ser descritos pela imprensa. Na quinta-feira, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o ministro chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, divulgaram novas regras para o uso do cartão e a limitação para saques na boca do caixa.
Com o pedido de demissão de Matilde, o governo deve impedir a abertura de uma CPI no Congresso
Leia a carta na íntegra:
Foi com pesar que recebi hoje seu pedido de demissão do cargo de Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Durante os últimos cinco anos, a SEPPIR, criada no meu governo para abrir caminhos que levem à superação do racismo e à inclusão social e racial, realizou, sob o seu comando, um trabalho extraordinário. Sei das imensas dificuldades, arraigadas por séculos de preconceito, que Vossa Excelência teve de enfrentar no exercício de suas funções.
Agradeço-lhe pela firmeza e serenidade demonstradas durante todo esse período.
Por entender as razões políticas do gesto, aceitei seu pedido de demissão. E estou seguro de que a companheira, por quem mantenho intactos o apreço e a confiança, continuará a ser uma das principais referências para todos aqueles que lutam contra o racismo, o preconceito e a exclusão social em nosso país.