Política

PREFEITO DE BELO HORIZONTE DEFENDE ALIANÇA NACIONAL ENTRE PT E PSDB

Fernando Pimentel joga no time mineiro do governador Aécio Neves
| 26/01/2008 às 08:05
Fernando Pimentel (esquerda) prefeito de BH (PT) diz que sua aliança é "revolucionária" (F/Arq)
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  O prefeito de Belo Horizonte Fernando Damata Pimentel, eleito e reeleito pelo PT, se tornou um político conciliador, na melhor tradição mineira. Sua principal bandeira hoje causa urticária nos petistas mais radicais: uma aliança, que ele já chamou de "revolucionária", em nível nacional, entre o PT e o PSDB. Seria uma coalizão de centro-esquerda semelhante à Concertación no Chile, que reúne socialistas, radicais e democratas- cristãos.

  "Os dois partidos que têm mais capacidade de gerir um projeto nacional são o PSDB e o PT. Se pegar o ideário, origem desses partidos, eles têm tudo para estar juntos. Eles não são inimigos viscerais", argumenta Pimentel. "O Brasil precisa de um grande acordo de centro-esquerda. Chegou a hora de o PT e o PSDB construírem uma agenda comum para o País", diz.


  A coalizão proposta por Pimentel é avalizada por seu melhor interlocutor no ninho tucano, o presidenciável e governador de Minas Gerais, Aécio Neves. "Eu e o Aécio entendemos que governo é para resolver problemas. Ninguém vota em alguém para esse alguém brigar com outro", diz. Se o prefeito combinou a tática eleitoral com os adversários, internamente no PT as conversas ainda engatinham. Na tarde da terça-feira 22, Pimentel esteve no Palácio do Planalto para pedir o aval de Lula às negociações. O presidente não fez objeção. Mas, entre os petistas, a resistência ao "revisionismo" de Pimentel se faz sentir. "O governo Lula já fez esse sacrifício de aperto fiscal. Agora é hora de avançar e não será de braços dados com o PSDB que isso vai acontecer", contra-ataca Wagner Xavier, dirigente da Democracia Socialista (DS), uma das tendências internas do PT.


  Pimentel tem sido um interlocutor freqüente do presidente Lula, que ultimamente o tem chamado a Brasília para trocar idéias. Ele virou uma espécie de consultor econômico do presidente, Mas o prefeito nega enfaticamente que seu nome tenha sido cogitado por Lula para ocupar o lugar do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "São rumores. Sou muito amigo do Mantega. Sempre digo que ele é a pessoa mais indicada para estar no cargo. Afinal, nunca a economia brasileira esteve tão bem", despista.

"Sou muito amigo do Mantega. Sempre digo que ele é a pessoa mais indicada para estar no cargo"

Filho da classe média alta de Belo Horizonte, Pimentel - tido no seu partido como o "mais tucano dos petistas" - pretende implantar em Belo Horizonte o laboratório dessa aliança com os tucanos nas eleições municipais de outubro. Parceiro do governador do PSDB em vários projetos, o prefeito compartilha com ele a convicção de que a briga figadal entre tucanos e petistas tem a cara de São Paulo e precisa ser superada. "Há uma agenda comum sendo construída. Ela envolve responsabilidade fiscal, compromisso com os contratos assumidos, metas claras do ponto de vista monetário e econômico que permitam dar segurança para o investimento externo e interno, para o investidor que busca um horizonte seguro para seu dinheiro. Isso não é coisa dos tucanos, é uma agenda do País. Tanto é assim que o governo Lula manteve em larga medida esses parâmetros", diz.

Para viabilizar essa aliança, também chamada de "Projeto País", Pimentel e Aécio não poupam articulações. As conversas estão adiantadas e até o momento ganha força para a sucessão municipal um nome externo aos dois partidos, provavelmente do PSB. A estratégia ganhou sinal verde da direção tucana. "Não vejo problemas, o Aécio sabe o que faz", disse o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. "Para uma tese dessas vingar, nós temos que ter o desprendimento em dizer que ninguém é bom sozinho", avalia Pimentel. O prefeito petista acredita que será possível aprovar a proposta de aliança com os tucanos no PT mineiro. Com o poder da caneta, três mil cargos de confiança nas mãos e 72,8% de aprovação popular, ele pode não estar blefando.

Pimentel está na administração pública desde 1993, quando foi secretário de Fazenda do então prefeito Patrus Ananias. Vice-prefeito de Célio de Castro, ele assumiu em 2001, quando o titular se afastou por problemas de saúde. Reeleito em 2004, Pimentel se destacou como um administrador eficiente, elevando a receita da prefeitura de R$ 800 milhões para R$ 3 bilhões em dez anos. No mesmo período, reduziu a dívida da cidade pela metade. "Não tem saída mágica para resolver os problemas das cidades. Eu desconfio de qualquer governante que diz que tem planos para resolver crises. Não existe isso. Os problemas são resolvidos por consenso", diz o ex-guerrilheiro.


30/1/2008


 
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