O democrata José Carlos Aleluia é vice-líder na Câmara dos Deputados
O deputado José Carlos Aleluia, vide-líder do Democratas, defende candidatura própria do seu partido para presidente da República, em 2010. Situa que após obter a pimeira grande vitória, com a rejeição da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) no Senado, o Democratas (DEM) quer se valer da "leveza" de não ter tantos presidenciáveis quanto o PSDB, nem de ocupar cargos tão importantes quanto os tucanos para chegar à frente dos atuais colegas de oposição na corrida sucessória de Lula em 2010.
"Nós temos um cavalo muito mais competitivo, e ainda não temos cabeça, jóquei. Mas teremos vários até lá", afirma o deputado José Carlos Aleluia (BA), um dos vice-presidentes da legenda. "O PSDB tem uma limitação pelo peso. As pessoas mais fortes têm dificuldade em praticar alguns tipos de esporte que exigem mais agilidade", complementa o parlamentar.
"O PSDB é um grande partido, mas ainda tem problemas internos grandes para resolver. Na própria posição do partido diante da CPMF isso ficou claro. O final foi feliz, mas o início foi claudicante", observa, ao comentar os apelos dos governadores para que a bancada no Senado negociasse com o governo e aprovasse a prorrogação do tributo. Aleluia atribui a responsabilidade pela rejeição da CPMF mais à falta de habilidade do ministro da Fazenda, Guido Mantega, do que à convicção dos tucanos.
"Se fosse o Palocci, não tenho dúvida de que teria feito acordo", considera. Oposição em débito Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, o ex-líder do PFL e da oposição na Câmara surpreende ao admitir sua admiração pessoal pelo presidente Lula, mas não poupa críticas à gestão petista. O deputado também admite que os oposicionistas se equivocam ao priorizar os ataques ao atual governo em detrimento da apresentação de propostas para o país.
MAIS PROPOSITIVA
"Com a proximidade das eleições de 2008 e 2010, a oposição tem de ser mais propositiva do que nunca. O povo quer saber como nós faríamos nosso governo, e não o que nós achamos do governo atual", reconhece.
Para o deputado, a oposição não pode subestimar o potencial eleitoral dos petistas, sobretudo, porque eles ainda têm a máquina administrativa em suas mãos. "O PT está em situação parecida com a nossa. Tem um bom cavalo, mas não tem cavaleiro", compara. Na avaliação dele, o PT só não é mais competitivo porque ainda apresenta as "contusões" provocadas pelas crises do mensalão e dos sanguessugas. J
á no caso dos Democratas, segundo ele, o desafio é um só: "O partido precisa colocar a cabeça no jóquei, porque o cavalo está pronto".
Em princípio, 2008 aparenta ser um ano tranqüilo, mas existe uma grande interrogação em relação à economia. A economia é comandada pela política, mas também comanda a política. São frutos do mesmo sistema. Hoje temos a probabilidade estimada em mais de 50% de que haja, de fato, uma recessão na economia americana, a maior do planeta. Uma recessão lá vai implicar a redução do crescimento mundial. A demanda por matérias-primas do Brasil vai diminuir.
Deve haver uma retração no comércio exterior brasileiro. Ainda que se mantenha o crescimento positivo no mercado interno, o que é bom, a média do PIB pode ficar abaixo dos 5% esperados para este ano. Esse quadro de crescimento inferior ainda não está confirmado, mas traria problemas para o governo. Principalmente porque o governo, ao perder R$ 40 bilhões de extração tributária da economia popular, teria de tomar decisões de contenção de desperdícios. Mas o presidente Lula tem sinalizado para isso em seus discursos.
O governo Lula, do PT, tem se notabilizado pelo descontrole de gastos públicos. As despesas correntes têm crescido muito mais do que a arrecadação. Nós já gastamos cerca de 13% do PIB com Previdência. O governo não resolveu tratar de forma séria a reforma da Previdência, que seria a pauta desejada para o ano que vem, assim como a reforma tributária e a reforma política. O governo continua insistindo na tese de que o crescimento econômico resolve todos os problemas.
A reforma da Previdência ficou no meio do caminho. Não se avançou na reforma tributária, nem nas privatizações como se poderia, nem na reforma política. Você avançar na carga tributária, como estão fazendo hoje, e dizer que estão crescendo agora porque cresceram no passado não se justifica. O que cresceu no passado é patrimônio de quem está chegando.
2008
A partir de 2008, o eleitor terá uma visão mais clara das eventuais diferenças entre DEM e PSDB? Sim, principalmente porque teremos candidatos principalmente nas grandes cidades. Em todas talvez não dê. Mas teremos candidato em São Paulo. O Gilberto Kassab, que chegou como uma pessoa pouco conhecida, poucos apostavam nele, aos poucos, foi se firmando como alguém que faz cumprir a lei, defende os interesses do cidadão e limpa a cidade.
No Rio de Janeiro temos César Maia muito bem. Teremos um candidato competitivo, com o apoio de César.
Em Salvador, a necessidade de candidato era tamanha que, quando não tinha candidato, eu disse que seria. Mas conseguimos sensibilizar ACM Neto, que é o nosso candidato, uma pessoa jovem, capaz, competitiva e que tem tudo para ser um bom prefeito. Em Porto Alegre, Onyx Lorenzoni. Isso nos dará uma diferença. As eleições de 2008 serão uma prova de fogo para o partido, nessa nova roupagem do partido.
Na Bahia, o PT ganhou porque as pessoas cansaram, é natural. Por isso que a democracia é bonita. Quem está na oposição tem muito mais o dever de se preparar para governar do que fazer oposição.