Política

DEPUTADOS ATESTAM QUE MATERNIDADE DE CAJAZEIRAS ESTÁ SENDO DESMONTADA

A maternidade Albert Sabin fica localizada no bairro de Cajazeiras
| 31/10/2007 às 15:01
A Maternidade Albert Sabin, em Cajazeiras, com 70 leitos, UTI Neonatal e Urgência, está em processo de desmontagem e pode ser fechada a qualquer momento. A observação foi feita aos deputados Heraldo Rocha (DEM), João Carlos Bacelar (PTN) e Sandro Régis (PR) que, hoje de manhã, 31, estiveram na unidade ouvindo a comunidade.

   "Passamos mais de uma hora no hospital e sequer fomos recebidos pela direção, que, aliás, não estava na casa", informou Rocha.

         
   Segundo pacientes e funcionários, dos 70 leitos, apenas sete estavam ocupados.
 
   "E hoje está sendo um dia atípico porque, normalmente, temos de três a quatro pacientes internadas", informou uma funcionária que preferiu não se identificar, temendo represálias.
 
    A unidade apenas atende aos partos naturais e já em fase de expulsão do feto. "Se, durante o trabalho de parto houver complicações, somos obrigados a transferir a parturiente porque aqui não existe anestesista há mais de um mês. Fica uma ambulância na porta para fazer o transporte para outras unidades, como o Hospital Roberto Santos, expondo mãe e criança a sérios riscos de morte", informaram os funcionários.

      
   TRANSPORTE

   Uma ambulância, com um motorista fica 24 horas estacionada na porta da Maternidade Albert Sabin para fazer o transporte das parturientes.
 
   "Minha irmã está no quarto mês de gestação e está com sangramento. Desde ontem estamos tentando ser atendidas.

   A ultrassonografia só poderá ser feita hoje para avaliar o quadro e, mesmo assim, temos que esperar na fila. Não há mais atendimento de urgência. Passaram uma medicação, mandaram ela prá casa para descansar e retornar hoje para complementar os exames e ainda temos que enfrentar uma fila enorme. Estamos apelando para o bom senso dos funcionários para conseguir romper esse bloqueio, mas o jeito é esperar e rezar", disse Cremilda Santos. "Pari aqui e o atendimento era muito melhor. Hoje está uma bagunça. Não tem mais nada", completou.

   Rebeca Souza reclamou que a maternidade deixou de realizar exames preventivos. "Sempre fui atendida aqui. Agora tenho que ir para outros bairros, gastar com transporte, enfrentar filas e às vezes esperar semanas para poder fazer meus exames. Um verdadeiro absurdo uma maternidade que sempre teve de tudo e hoje está nesta situação", protestou.

        
   ANESTESISTA 

    
Sem anestesista há mais de um mês, a unidade não tem mais condições de fazer atendimentos considerados complexos. "Parto, aqui, só natural e se a mulher já estiver em período expulsivo porque, caso contrário, damos os primeiros atendimentos e transferimos a parturiente", informam os funcionários da Maternidade Albert Sabin.


  "Ninguém aqui quer correr riscos de enfrentar um parto, que pode ter complicações, e, no meio do trabalho, necessitar de uma cesariana. Não temos mais como prestar atendimento, porque não temos anestesista", denunciam.

  "Aqui, virou apenas unidade de transbordo de paciente. Elas chegam e são logo encaminhadas para outras unidades", completam, sob acompanhamento ostensivo dos superiores que não permitiam que qualquer funcionário prestasse informação à comissão de deputados. "Só a direção pode falar", disse a enfermeira que se identificou apenas como Suzana.  

  
     Mesmo sob vigilância, muitos funcionários conseguiram chegar à comissão e falar da situação da Maternidade Albert Sabin. "Isso aqui era uma maravilha. Tinha suas dificuldades, mas funcionava. Hoje, parece que estão trabalhando para fechar unidade que atende a uma comunidade de quase 500 mil pessoas. Nossa preocupação é com a comunidade. Esta maternidade não pode fechar", falaram os servidores.

   Os deputados sequer puderam circular nas dependências da maternidade, "sem autorização da direção", que não se encontrava no local. Os parlamentares chegaram na unidade às 8h, saíram às 9h40 e ninguém do corpo diretivo chegou para atendê-los. A informação é que a diretora está de licença maternidade e a substituta "estava para chegar a qualquer momento".

         ATENDIMENTO - Com atendimento precário, a Maternidade Albert Sabin hoje praticamente vive da prestação de atendimento pré-natal. Mesmo assim, as mães têm que aguardar na fila, numa recepção desconfortável. Quem necessita de exames mais complexos, tem que esperar. Só são distribuídas, por exemplo, 10 fichas por dia para ultrassonografia e atendimento mesmo, só para dezembro. "Como é que podemos fazer pré-natal sem acompanhamento? Aqui fingem que prestam atendimento e nós fingimos que estamos satisfeitas. Não podemos fazer mais nada. A gente é ‘fraca' de bolso e não pode pagar pelo atendimento. Tem que fazer o que eles mandam, mesmo sabendo que não é o que a gente merece", enfatizou Maria de Fátima Santos.