Colunistas / Crônicas de Copacabana
Nara Franco

Quanto vale uma rainha de bateria

Para as escolas servem como marketing mas não conquistam títulos
05/09/2017 às 12:00
  Quando os desfiles de escolas de samba começaram no Rio de Janeiro não havia o posto de Rainha de Bateria. Na verdade, havia muito pouco do que a gente vê. Tudo começou de forma muito mambembe e foi se profissionalizando com o tempo. 

   Reza a lenda que foi o jornalista Mario Filho, o mesmo que dá nome ao Maracanã e irmão de Nelson Rodrigues, quem teve a ideia de começar uma disputa entre as agremiações. Vou dedicar minha próxima crônica a esse cidadão que não tem a mesma fama do irmão dramaturgo, mas que definiu dois elementos importantes da alma carioca: o samba e o futebol. 

  O jornalista era dono do jornal "Mundo Sportivo", que cobria basicamente futebol e remo. Nos meses de janeiro e fevereiro as competições paravam e não havia assunto para preencher o jornal. Foi aí que um repórter, Carlos Pimentel, sugeriu que se fizessem entrevistas com os "novos sambistas do morro". Mário Filho foi além: por que não fazer uma disputa entre eles?

   Estou voltando no tempo depois de ver Juliana Paes sendo coroada Rainha de Bateria da Grande Rio. Eram tantos os flashes, tanta badalação e não houve uma bancas capa de jornal que não estampasse a foto da atriz. Tirando o fator mercadológico da coisa - Juliana é protagonista da novela das 21h atualmente no ar e já foi uma baita Rainha de Bateria - a falta da valorização do que verdadeiramente é o samba me incomoda. Nada contra a Grande Rio. 

   Mas todo ano a escola de Duque de Caixas apela para artistas para ganhar espaço nos jornais e sempre ganha nada na Sapucaí. Essa lógica eu realmente não entendo. É como Real Madri que não leva títulos. 

   Até os anos 80, escola de samba não tinha Rainha de Bateria. O samba era mais lento, os desfiles menos pirotécnicos, era bem legal de ver. Não que hoje não seja, mas a festa em si, alegria do componente, ficou em segundo plano em detrimento do maior carro e da tecnologia mais inovadora. O que nem sempre dá certo, vide os acidentes deste ano. 

   Não sou uma pessoa saudosista, mas venhamos e convenhamos, naqueles tempos as lentes estavam voltadas para quem realmente fazia o samba. 

   Voltado às rainhas de bateria. Em 5 de março de 1984, a modelo Monique Evans, desfilando pela Mocidade Independente de Padre Miguuel, criou o posto que toda aspirante a modelo e manequim quer. E que até mesmo as modelos e manequins querem. Monique saiu à frente da bateria. Se foi programado ou não, só ela pode dizer. Ficou ali no chão, sambando com seu corpo delicado, sem silicone ou pernas de lutador de MMA. 

    Naquela época, Imperatriz e Mocidade faziam desfiles memoráveis. No ano seguinte, de acordo com o acervo de O GLOBO, Monique voltou a desfilar na frente dos ritmistas apenas com estrelinhas cobrindo os seios. Foi arrebatador. 

    Monique reinou à frente da bateria de Padre Miguel até 1987. Depois foi para a São Clemente. Em 1992, desfilou na Estácio de Sá, onde conquistou novamente o título com o enredo “Paulicéia Desvairada”, de Mario Monteiro e Chico Espinoza. Detalhe: na Estácio, Monique destronou ninguém menos que a filha de Sargentelli, o maior conhecedor de mulatas do Brasil. 

   O que Monique não esperava é que a Rainha fosse se tornar maior que a escola, chegando muitas vezes a atrapalhar o ritmo do desfile. As escolas usam as rainhas para ganhar mídia, espaço na TV, capa de revista. Esquecem que na hora, o jurado avalia samba no pé. Em anos recentes, algumas escolhas foram tristemente ruins. 

    As escolas optaram por modelos sem carisma, por cantoras sem a menor noção de samba, por subcelebridades, por todo e qualqur tipo de mulher de corpão que rendesse mídia. Até a Tiazinha, quando existia Tiazinha foi Rainha de Bateria. Me pergunto: será que dá dinheiro?

   Juliana Paes foi uma grande Rainha de Bateria na Viradouro e ao virar "mãe", essa entidade, desistiu de desfilar. Huummm... deixa pra lá. Agora volta com força total, mais Bibi Perigosa que nunca. Sua antecessora ... deixa pra lá. Espero que Juliana dê certo. Mas convenhamos .. para chegar ao mindinho do pé de Monique Evanstem que comer muito, mais muito, muito, muito arroz e feijão. E nem falamos da Luma, hein?